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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Gamer profissional expõe machismo: "Quero ser respeitada nas partidas"


15 JUN 2020
Taynah Yukimi Yokota Faria, 20 anos, da cidade de São Paulo, é gamer desde os 9 e diz que, infelizmente, os insultos aos mulheres nas plataformas de jogos online é comum, porém nesta semana ela chegou ao seu "limite" e chorou ao vivo ao ser insultada durante uma partida.

A gamer, mais conhecida pelo seu nickname Tayhuhu, falou do episódio e publicou um trecho da live em seu perfil no Twitter. Em entrevista à Marie Claire, Tay diz que frequentemente, mesmo sendo uma gamer influenciadora, é alvo de ataques de haters e pede que a punição seja maior.
"Eu tinha acabado de começar minha live e iniciei a partida em dupla com meu amigo. No jogo tinha um grupo de três garotos, pensei 'que legal, vamos jogar com um time'. Na primeira partida eu não falei muita coisa, fiquei quieta. Normalmente eu fico mais quietinha mesmo, em todas as partidas que eu jogo, porque tenho medo de falar e descobrirem que sou mulher ou senão de falar e encontrar pessoas tóxicas. Então, às vezes, não falo nada. Mas já no primeiro round, esses garotos começaram a nos trollar. Eles não paravam e quando chegou no terceiro round pedi 'parem de fazer isso, vamos jogar sério'. E foi quando o garoto começou a me xingar de vagabunda, me mandou lavar louça. Disse que sabia os direitos dele e que ia nos denunciar pra Riot", conta Tay.

Taynah Yukimi Yokota Faria, de 20 anos, é jogadora profissional  (Foto: Arquivo pessoal)
Taynah Yukimi Yokota Faria, de 20 anos, é jogadora profissional (Foto: Arquivo pessoal)

Riot Games é uma desenvolvedora, editora e organizadora de torneios de e-sports americana, que publica o game VALORANT, um jogo de tiro tático multiplayer em primeira pessoa tático que Tay transmitia quando foi ofendida. A gamer tem em média 60 internautas assistindo suas lives diárias, 11 mil seguidores na Twitch, canal que usa para fazer suas transmissões, 48 mil seguidores no Instagram e 5 mil no Twitter.
"Meu amigo até tentou me defender, mas quando percebemos que eles não iam parar e era o objetivo do grupo, desistimos da discussão. Quando um garoto não está sozinho fazendo isso, ele tem mais coragem, ele falava tudo o que queria, eu parei de falar e ele ia atrás de mim e me falava várias merdas", diz a gamer, que já venceu a Liga Tarântula, a Liga Viper, o Campeonato de Point Blank da Organização Brasileira de Jogos (OBJ), entre outros. 

Taynah Yukimi Yokota Faria, de 20 anos, é jogadora profissional  (Foto: Arquivo pessoal)
Taynah Yukimi Yokota Faria, de 20 anos, é jogadora profissional (Foto: Arquivo pessoal)

Em um vídeo publicado em seu perfil no Twitter [assista abaixo], Tay aparece chorando após ser ofendida. "Nos jogos que tem só chat acontece menos, mas não deixa de acontecer. Nesse dia eu estava muito mal, por isso chorei. Tem muitas amigas que batem de frente nessas situações, mas sabe o que acontece com elas? Elas são banidas do jogo. Enquanto esses garotos, que começaram as ofensas, não tomam. Ou recebem um ban de sete dias. O que adianta uma punição de sete dias, dois ou 72 horas? O que adianta você ser humilhada e saber que depois essa pessoa vai continuar lá e fazer isso com outras pessoas porque não é uma penalidade de acordo com o que acontece?", questiona a jogadora.
"Chorei por causa disso e porque dias antes tinha acontecido o mesmo, cansei de passar por isso e não acontecer nada, é algo que eu não quero mais. Quero começar uma partida sozinha e ser respeitada, fazer amigos e me sentir bem. Não quero ter que usar um nick masculino pra me sentir bem, quero que nós mulheres sejamos respeitadas nas partidas e que, se formos desrespeitadas, tenha uma punição severa para isso. Que tenhamos a tranquilidade de não encontrar de novo esse jogador. A gente acaba se sentindo violada, você fica muito mal", diz Tay.
A gamer, que é mãe de uma menina de dois anos, Wendy Harumi, ainda diz que esperava que sua filha não passe pelo menos no futuro. "Vou fazer de tudo pra que ela não passe. Existem muitas meninas no jogo, mas muitas se camuflam, se escondem ou param de jogar por conta dos hates, não dá. Já tive muito medo de fazer live por ser mulher. Medo de pensarem qualquer coisa sobre mim. A partir do momento que você está tentando fazer alguma coisa e é julgado por ser quem você é, dá muito medo. Mas eu via outras mulheres fazendo, elas foram minha inspiração e eu gostaria de ser inspiração para as próximas jogadoras".
Em posicionamento enviado à Marie Claire, a Riot Games informa que tem "um código de conduta e ferramentas de detecção automática de palavras-chave e análise automática de chat". O código de contuda inclui: Análise automática dos chats, que identificará violações óbvias ao código da comunidade; Análise automática de denúncias e a identificação automática de infratores, que receberão punições por seus atos; Restrições de 72 horas ao chat de equipe por violações de comportamento; Restrições de 72 horas ao chat de voz de equipe por violações de comportamento.
Segundo Anna Donlon, produtora executiva de VALORANT, esse é apenas o começo de uma jornada contínua. "Em qualquer jogo competitivo, esperamos que os espíritos fiquem altos e as coisas fiquem tensas - não vamos proibir alguém apenas porque eles se apaixonaram por ganhar ou perder. Mas também sei que algumas experiências podem ir além do entusiasmo; às vezes eles se estendem ao assédio. É com isso que não estou bem. A realidade é que, para os assediados, pode ser um desafio jogar um jogo de forma competitiva, porque você precisa primeiro se proteger do assédio 'convidativo' e, assim, silenciar alguém porque eles estão gritando insultos no microfone ou você se silenciar. porque isso parece manter a paz. Sabemos que esse é um problema difícil de resolver e levará tempo, mas me sinto irresponsável aceitando isso como o status quo. É por isso que priorizamos o desenvolvimento de comunicações que não sejam de voz, como frases de destaque para eventos de jogos (como ver o inimigo com o pico) e o sistema de ping no jogo. Mas isso é apenas o começo, continuaremos priorizando e investindo recursos nesse espaço. Eu me responsabilizo por liderar um jogo em que qualquer um pode competir com segurança em todo o seu potencial, sem medo de ser intimidado ou gritado. É um objetivo muito ambicioso, mas volte com a gente no caminho e manteremos a conversa", disse Anna.
A empresa ainda afirma que "sempre que alguém sofrer ou for testemunha de comportamentos inadequados dentro do jogo, a recomendação da Riot Games é que o caso seja reportado por meio do sistema interno de denúncias do VALORANT".

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