O presidente Mauricio Macri permitiu que o Congresso debata a despenalização da prática nas 14 primeiras semanas de gestação
El País
MAR CENTENERA
Buenos Aires
O Congresso da Argentina debate pela primeira vez a possibilidade de legalizar o aborto, que atualmente é proibido exceto em casos de estupro ou risco de vida para a mãe, e cada vez mais celebridades anunciam sua posição. Uma semana depois da divulgação de um vídeo de famosos contra o aborto, Ricardo Darín, Diego Peretti e outros atores argentinos se somaram a conhecidas artistas mulheres, como Cecilia Roth, Dolores Fonzi e Érica Rivas, na sua defesa da legalização da interrupção da gravidez.
“Eu sou a favor da legalização do aborto”, diz Adrián Suar, o produtor mais bem-sucedido da televisão argentina, logo no início do vídeo que viralizou nas redes sociais. “Meu nome é Ricardo Darín e sou a favor da legalização do aborto”, continua o protagonista de O Segredo dos Seus Olhos. Diego Peretti, Pablo Echarri, Esteban Lamothe, Juan Minujín e Andy Kusnetzoff também se manifestam a favor de que nenhuma mulher tenha que recorrer à clandestinidade para interromper sua gravidez. “Educação sexual para decidir, anticoncepcionais para não abortar, aborto legal para não morrer. Aborto legal já”, conclui a peça. Na conta do Instagram de Lamothe, o vídeo tinha quase 80.000 reproduções 16 horas depois de ser publicado.
Não existem dados oficiais, mas as autoridades estimam que quase meio milhão de mulheres abortem a cada ano na Argentina, apesar da proibição legal. Os registros hospitalares mostram que, em 2016, 50.000 gestantes tiveram que ser hospitalizadas por complicações decorrentes de abortos, e 43 perderam a vida.
As atrizes foram o primeiro coletivo a se expressar maciçamente a favor da despenalização do aborto, através de uma carta em que pediam aos parlamentares que alterassem a atual regra. “Pedimos o seu voto para acabar com a morte, a prisão e o silêncio. Não somos a favor do aborto. Somos a favor da despenalização do aborto. E por isso mesmo somos a favor da vida. De todas as vidas: também as daquelas mulheres que arriscam seus corpos nas mãos de um negócio sinistro e clandestino”, diz a carta, que foi assinada por mais de 400 atrizes. Escritoras, comediantes, jornalistas, arquitetas, desenhistas, músicas e cinegrafistas também posaram para uma foto com lenços verdes, o símbolo em prol da legalização do aborto.
O vídeo dos atores surge uma semana depois de 12 figuras públicas manifestarem sua rejeição à interrupção voluntária a gestação. “Toda vida vale, e toda vida vale o mesmo. Não é que exista uma vida que nos importe mais que outra”, diz o jornalista esportivo Gastón Recondo no vídeo. “Eu vou pela vida. Você sabia que desde a semana seis até a semana 14 o coração do bebê bate mais de 13 milhões de vezes?”, continua a cozinheira Maru Botana, na gravação intitulada Cuidemos das Duas Vidas. A modelo Amalia Granata, os jornalistas Mariano Obarrio e Gustavo Tubio e os irmãos jogadores de rúgbi Felipe e Manu Contepomi são outros que manifestam apoio à proibição.
Além disso, os antiabortistas apresentaram no Twitter uma mascote, chamada Tipito, e convidaram seus partidários a inclui-la nos seus perfis públicos, mas desistiram diante da onda de gozações com a iniciativa.
O presidente Mauricio Macri decidiu em fevereiro passado permitir que o Congresso debata a despenalização do aborto nas 14 primeiras semanas de gestação. Ele pessoalmente é contra, mas anunciou que não vetará a lei se ela for aprovada. Os dois lados brigam agora para convencer os legisladores indecisos.
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