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quarta-feira, 4 de julho de 2018

Quando a moda mercantiliza o feminismo


Camiseta da Stradivarius com o lema “No es no”.
Camiseta da Stradivarius com o lema “No es no”. STRADIVARIUS

As marcas de roupas sabem como aproveitar os movimentos sociais. Uma vez que o feminismo se tornou um movimento de massa em escala internacional, com o #MeToo nos Estados Unidos e numerosas manifestações – como as que ocorreram em 8 de março em todo o mundo e aquelas realizadas em apoio à vítima da Manada, na Espanha –, a moda conseguiu incorporar os slogans deste coletivo para seu próprio benefício, de acordo com algumas vozes feministas. A grife Stradivarius, da espanhola Inditex, colocou à venda por seis euros (cerca de 27 reais) uma camiseta branca com a mensagem "No es no" (não é não) estampada em preto.

Dessa maneira, a Stradivarius uniu-se à onda das empresas de baixo custo para estampar mensagens feministas em suas roupas. Desta vez, fez do slogan “No es no” sua própria bandeira, em referência à recusa de mulheres a terem relações sexuais, muito presente nas manifestações contra a libertação dos integrantes da Manada, realizadas em diferentes cidades da Espanha no último dia 22 de junho.
A marca espanhola colocou à venda há seis meses uma camiseta com o lema “Everybody should be feminist” (“todo mundo deveria ser feminista”) e também outras roupas semelhantes com mensagens como “Girls do not dress for boys” (“as garotas não se vestem para os garotos”) ou “My body, my mind, my choice” (“meu corpo, minha mente, minha escolha”), aludindo ao direito das mulheres de decidir sobre seus corpos; “Women rule” (“as mulheres mandam”); “Women will change the world” (“as mulheres mudarão o mundo”) e “Girls support girls” (“as garotas apoiam as garotas”).
Para Chelo Hernández, integrante do movimento feminista de Madri, ao invés de difundir a mensagem feminista a Stradivarius “unicamente faz publicidade utilizando o feminismo”. “O sistema capitalista tenta tirar dinheiro de qualquer coisa”, diz ela, acrescentando que para realmente difundir a mensagem o importante é “ir para a rua” e “ter presença na mídia”.
Esta tendência de se apropriar dos lemas feministas vem de longe. Durante os desfiles de alta costura da temporada primavera-verão 2017, a estilista Grazia Cihuri – primeira mulher a dirigir a Dior – lançou uma camiseta com os dizeres “We should all b feminists” (“todos deveríamos ser feministas”), título de um ensaio da escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi. O manifesto feminista se transformou em uma peça de 500 euros, quase 2.300 reais, cujo lucro foi destinado a uma organização beneficente liderada pela cantora Rihanna.
Inspiradas na a grife francesa, a espanhola Mango criou uma peça com a frase “All women should b respected” (“todas as mulheres deveriam ser respeitadas”) para sua coleção primavera-verão 2017. O estilista Prabal Gurung também não demorou em vestir a modelo Bela Hadid com seu modelo “The future is female” (“o futuro é feminino”) para o desfile outono-inverno 2017/2018, que a marca Sfera posteriormente copiou numa versão low-cost. Parte do lucro dos desenhos de Gurung foi destinada às ONGs União Americana das Liberdades Civis, Paternidade Planejada e Fundação Shikshya Nepal.
“Girls can do anything” (“garotas podem fazer qualquer coisa”), da Zagid & Voltaire, e “Girls just wanna have fundamental rights” (“garotas só querem direitos fundamentais”) são outros lemas feministas que apareceram estampados em camisetas.
O feminismo não é a única vítima da moda na atualidade. As tragédias humanitárias também são. Recentemente, a marca italiana United Cores of Benetton foi criticada pela ONG SOS Mediterranée por usar imagens do desembarque dos migrantes do navio Aquarius em Valência para uma campanha publicitária na mídia.

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