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sábado, 7 de março de 2020

Por que eu não consigo discutir sem chorar?

Uma das perguntas mais buscadas no Google é também um drama vivido por milhares de pessoas. Mas, acredite, chorar em uma briga é normal e pode acontecer com todo mundo.

TAMO JUNTO
Stefani Sousa
03/06/2020
Minha mãe sempre conta que fui uma bebê muito chorona. Mas desde essa época, em 1997, muita coisa mudou. O Brasil teve cinco presidentes diferentes, ganhou uma única Copa do Mundo, mas eu sigo sem entender o motivo pelo qual tantas lágrimas escorrem pelo meu rosto sem que eu perceba.

choro que, na maioria das vezes, significava a minha emoção, ganhou uma nova atribuição nos últimos anos. A grande realidade é que para muita gente, na vida adulta, discutir tem se tornado uma das coisas mais complicadas quando se trata de relações interpessoais - e, muitas vezes, leva a extremos que somente o choro consegue demonstrar.
É o que explica a mestre em Neurociência e Comportamento Thaís Fernandes. “O choro é um regulador emocional que funciona como uma válvula - que, ao chegar a um limite, começa a vazar aos poucos para não explodir. Quando estamos discutindo, nossas emoções ficam mais intensas e para que não percamos completamente o controle da situação, a válvula começa a liberar lágrimas aos poucos, no intuito de regular os sentimentos”.
E é daí que surge a sensação de alívio.
A história é tão real que, em uma pesquisa rápida no Instagram, com amigos, 37 dos 68 entrevistados não conseguem discutir sem chorar.
A reação, que por muitos é vista como drama, na verdade, é completamente normal. Algumas pessoas, com mais disposição para se emocionar, facilmente atingem seus limites em uma argumentação mais acalorada. Já outras conseguem suportar mais a situação. Mas isso não quer dizer que elas estão imunes as lágrimas fugidias.
No meu caso, por exemplo, existem alguns gatilhos importantes. É tiro e queda. Discussões com família, amigos ou em relacionamentos amorosos sempre me deixam mal. Brigar com terceiros, com quem eu não conheço profundamente, porém, nunca foi problema.
Mas como seguir discutindo sem extrapolar os nossos limites, mesmo com alguém que amamos?
No fundo, eu sinto que o choro é uma negação, uma espécie de tentativa de evitar que se viva um momento ruim com determinada pessoa.
Aquela carga emocional do momento é tão grande porque os limites entre o amor e a raiva se confundem. E quando se fala em perder o controle, muitos sentimentos podem estar relacionados.
“Alguns gatilhos podem servir de base, mas, para chegar ao choro, diferentes fatores se encontram. Depende muito do momento que a pessoa está vivendo, de seu nível de estresse, problemas no trabalho, em relacionamentos afetivos e questões financeiras. Cada pessoa reage diferente a um estímulo e essa bagagem pode colaborar”, explica Fernandes.
Penso, ainda, que as relações se tornam mais conflitantes porque nem sempre temos o tempo (ou paciência) necessária para lidar com essa “bagagem” de emoções. Discutimos sem saber totalmente o que o outro tem no coração e na mente. Estamos sempre muito envolvidos em nossa própria verdade.
“A inteligência emocional faz com que todos lidem melhor com situações conflitantes, mas não elimina sentir as emoções. Elas são inatas e necessárias”, conta a especialista.
“É importante ressaltar que não necessariamente o choro vai estar ligado à raiva. Muitas vezes, insegurança, medo, decepção e contrariedade fazem com que ultrapassemos nossos próprios limites”, completa.
Às vezes, conversar com um terceiro e entender a situação por um outro ponto de vista pode ser a solução para resolver o conflito. A mente tende a ser tomada pelas emoções no calor do momento e o distanciamento se faz necessário para refletir sobre as situações em que tudo parece estar perdido.
Mas até que ponto chorar em todas as discussões da vida é algo normal?
Para Fernandes, é preciso estar atento aos sinais. “Se o choro for compulsivo e fizer com que você não consiga retomar sua rotina após uma crise ou se acontecer com uma frequência muito grande, busque auxílio de um psicólogo”, indica.
Já para controlar a situação e tentar manter a calma, a dica é apostar em exercícios de respiração.
“Os exercícios para controlar a respiração são muito bem-vindos. Busque inspirar o ar lenta e profundamente, segurar por dois segundos (ou quanto for confortável) e depois abra a boca, permitindo que o ar saia lentamente. Repita por cinco vezes”, ensina a psicóloga.
O ideal é treinar o exercício pelo menos cinco vezes ao dia para que ele se torne automático. Lembre-se que sentir suas emoções é algo saudável, mas que não deve atrapalhar seu cotidiano.
“Quando conseguir se acalmar, aos poucos conseguirá ordenar o pensamento para expressá-lo. Se você estiver muito alterado, não é uma boa ideia seguir brigando, já que, quando estamos nos sentindo feridos, acabamos por querer ferir o outro”, diz Fernandes.
Neste caso, o melhor é deixar para conversar quando se sentir mais tranquilo.
O autoconhecimento é uma importante saída para esse tipo de situação. Procure se descobrir e entender qual é o seu limite. “É preciso reagir às situações de forma mais adequada”, finaliza Fernandes.
Sabendo o momento de parar uma discussão fica muito mais fácil fazer com que o outro entenda que ele precisa respeitar o seu espaço e o seu momento.
Já para aqueles que tendem a levar uma discussão até o último estágio e não se incomodam se o parceiro, familiar ou amigo está aos prantos, é importante trabalhar a responsabilidade emocional.
É preciso evitar comportamentos que sejam gatilhos. E, para isso, a melhor coisa é fazer com que a outra pessoa se acalme e volte a ficar tranquila para seguir a discussão.
No momento da raiva e da angústia, pode parecer insano abrir mão e ajudar o outro, mas esse é um passo muito importante para que uma discussão não se torne tóxica.

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