Harvey Weinstein pegou 23 anos de cadeia por estupro e crime sexual. Mas mudanças no cotidiano só ocorrerão se mais mulheres seguirem o exemplo das denunciantes e gritarem #MeToo, afirma o jornalista Scott Roxborough.
- Deutsche Welle
- 12.03.2020
- Scott Roxborough
O julgamento de Harvey Weinstein produziu duas imagens evocativas e aparentemente contraditórias. A primeira foi a de Weinstein com o andador: a televisão mostrou o produtor de 67 anos se arrastando para a corte com a ajuda de um andador para idosos. O antigo todo-poderoso da indústria cinematográfica, que produziu Pulp fiction e Shakespeare In Love, parecia frágil e sem esperanças.
A segunda imagem é de Weinstein em 24 de fevereiro de 2020, quando um júri de Manhattan o considerou culpado de ato sexual criminoso em primeiro grau e de estupro em terceiro grau, dois crimes pelos quais ele foi sentenciado nesta quarta-feira (11/03) a 23 anos de prisão. Quando o júri leu o veredito, Weinstein se virou, incrédulo e chocado, para seus advogados: "Mas eu sou inocente, eu sou inocente", disse.
A segunda imagem é de Weinstein em 24 de fevereiro de 2020, quando um júri de Manhattan o considerou culpado de ato sexual criminoso em primeiro grau e de estupro em terceiro grau, dois crimes pelos quais ele foi sentenciado nesta quarta-feira (11/03) a 23 anos de prisão. Quando o júri leu o veredito, Weinstein se virou, incrédulo e chocado, para seus advogados: "Mas eu sou inocente, eu sou inocente", disse.
A primeira imagem é a de um monstro humilhado. As acusações de ataques sexuais por Weinstein – com pelo menos 80 mulheres denunciando o produtor, entre elas celebridades como Salma Hayek, Rose McGowan, Gwyneth Paltrow e Ashley Judd – deram origem ao movimento global #MeToo. A condenação de Weinstein, e a imagem de um homem que aterrorizou tantas pessoas agora abatido e fraco, parecem um ponto de virada. Se um homem tão poderoso como esse pode ser condenado, então nenhum pode escapar.
A segunda imagem conta uma história diferente. Mesmo depois de todas as provas contra ele, de todos os depoimentos de mulheres que relataram padrões de comportamento similares e recorrentes – incluindo atrair assessoras e aspirantes a atrizes para quartos de hotel, para "reuniões" que eram ataques sexuais, ameaçar com ruína pessoal ou profissional as mulheres que o denunciassem – Weinstein acreditava que iria escapar. Mais do que isso, ele está convencido – "eu sou inocente!" – de que não fez nada de errado.
A questão agora, depois da condenação e sentença, é qual imagem, e qual versão da história, vai se impor. O caso Weinstein vai levar a mudanças estruturais na indústria do entretenimento, tornando o "teste do sofá" coisa do passado? Ou os homens como Weinstein, o tipo de homem que sempre mandou em Hollywood, continuarão afirmando inocência e, depois que o furor em torno do caso passar, voltarão ao mesmo comportamento de sempre?
Para Weinstein, não há mais escapatória. Mesmo se ele apelar da sentença, o que é quase certo, seu nome será para sempre sinônimo de abuso sexual. E esse foi só o primeiro julgamento.
Promotores em Los Angeles já o indiciaram por mais duas acusações de ataque sexual num período de dois dias em 2013. As acusações podem resultar em mais 28 anos de prisão. Weinstein está ainda enfrentando uma outra série de casos e um processo maior envolvendo quase cem mulheres. Tudo indica que o produtor de 67 anos vai passar o resto da vida entre os tribunais e a cadeia.
Mas a questão se o caso Weinsten e a sentença desta quarta-feira terão uma repercussão maior na indústria do entretenimento e além dela continua em aberto.
Os primeiros sinais indicam que sim. Weinstein não é o único poderoso de Hollywood a cair na revolução #MeToo. Vários homens antes intocáveis viram suas carreiras serem destruídas em meio a histórias que vão de "testes do sofá" até acusações de assédio e abuso sexual, entre eles o ex-presidente da Warner Bros Kevin Tsujihara, o ex-chefe dos Studios Amazon Roy Price, o ex-chefe da Pixar John Lasseter, o ex-presidente da CBS Leslie Moonves e o antigo produtor Brett Ratner (X-Men, The Revenant: O Regresso).
Mas dos sete principais estúdios, apenas dois (Universal e Amazon) são comandados por mulheres (e a chefe dos Studios Amazon, Jennifer Salke, responde a um homem, o presidente da companhia, Jeff Bezos). Muito se fala em "mudar a cultura" e "acabar com os abusos sistemáticos", mas a suposição implícita, em Hollywood, de que homens com dinheiro e poder podem usá-los para fazer o que quiserem com mulheres permanece intacta, ainda que abalada.
A sentença a Weinstein, sozinha, não vai mudar isso. A mudança só virá se mulheres comuns, seguindo o exemplo das duas denunciantes no julgamento de Weinstein, continuarem se erguendo, levantando a voz e falando #MeToo.
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