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sábado, 24 de março de 2018

A vida e o amor em meio aos bombardeios em Ghouta, na Síria

Na ilustração, homem protege mulher com o corpo contra estilhaços
Image captionCasal se protege em uma das obras da artista | Ilustração: Dima Nachawi
Por Amelia Butterly
BBC 100 Mulheres
9 março 2018
Amigos reunidos em torno de uma árvore de Natal; alguém conversando por telefone com o namorado que vive em outro lugar; um homem consertando a conexão de internet para esposa.

Em uma primeira olhada, algumas das ilustrações de Dima Nachawi poderiam refletir cenas de qualquer parte do mundo, mas o restante do trabalho dela conta uma história bem diferente: fala sobre ataques aéreos, pessoas feridas e mortes.
Essas imagens na verdade mostram como pessoas reais vivem - e amam - em Ghouta Oriental, região no entorno de Damasco, capital da Síria, que foi descrita como "o inferno na terra" pelo secretário-geral da ONU, o português Antonio Guterres.
"Eles (os moradores de Ghouta) continuam vivendo suas vidas cotidianas, continuam se apaixonando e tentam proteger as pessoas que amam", diz Dima.
Amigos reunidos em torno de uma árvore de natal
Image caption'No primeiro natal dela em Ghouta, os amigos trouxeram para o abrigo uma árvore de natal contrabandeada e um pisca-pisca improvisado' | Ilustração: Dima Nachawi

O amor é...

A artista cresceu na Síria, mas deixou o país há alguns anos e agora vive em Beirute, capital do Líbano) onde tem uma carreira artística.
A situação em sua terra natal já havia sido tema de vários trabalhos dela. A coleção de ilustrações, chamada Love is... ("O amor é..."), foi publicada nas redes sociais. Os desenhos retratam pessoas reais da Síria e o impacto que a guerra teve em seus relacionamentos.
Cada imagem mostra um casal real, sob a condição de anonimato. Nachawi só revela alguns poucos detalhes sobre as pessoas que ela desenha.
"O projeto foi muito difícil de realizar, especialmente (o desenho) sobre uma mulher que morreu", diz ela, referindo-se à imagem abaixo.
Ilustração de um homem abraçando uma mulher
Image caption'Quando os bombardeios recomeçaram, ele tentou protegê-la, e saiu ferido. Mas ela foi morta pelos estilhaços de vidro que atingiram seu corpo' | Ilustração: Dima Nachawi
"Estava preocupada com o resultado da ilustração, mas ao mesmo tempo foi algo muito pesado para mim", diz a artista.
"É muito difícil ilustrar algo que não tem um final feliz", acrescenta.
"Mas ao mesmo tempo eu sou grata de ter tido a chance de refletir sobre as vidas de outros sírios: aqueles que sobrevivem, que amam, que não são vítimas; são pessoas que agem", diz Dima Nachawi. "É isso que eu quero retratar com as minhas ilustrações."

Sofrimento

Nos últimos dias, alguns moradores teriam conseguido deixar a região de Ghouta Oriental, controlada por rebeldes que lutam contra o governo de Bashar al-Assad, cujas forças têm bombardeado a área. A situação ali é descrita como "mais que crítica".
Ainda que alguns comboios de ajuda humanitária tenham conseguido chegar a Ghouta, as entidades que prestam este tipo de assistência dizem que muito mais ajuda é necessária para minorar o sofrimento dos moradores.
Na ilustração, homem concerta antena e mulher usa notebook
Image caption'Ela adora jogos online, mas por causa do cerco, ele precisa fazer um esforço extra para garantir que o gerador funcione e que haja sinal de internet' | Ilustração: Dima Nachawi
Mais de 700 pessoas morreram no local nos últimos dias, muitas delas crianças.
Dima Nachawi critica a forma como a mídia internacional retrata o povo sírio em meio a ess crise.
"Somos estereotipados como refugiados ou vítimas do conflito", afirma. "Eu prefiro conversar com as pessoas na Síria para tentar entender como elas estão tocando suas vidas."
Ilustração de duas pessoas conversando ao telefone
Image caption'Ela está sob cerco em Ghouta Oriental, e ele na cidade de Idlib (outra área rebelde). Falam durante horas no WhatsApp. Rezam um pelo outro, esperando o momento de se reencontrar' | Ilustração: Dima Nachawi
A artista relata que acha "muito difícil" acompanhar o conflito à distância.
"Toda vez que eu me sinto mal, tento fazer algo a respeito. Tenho seguidores em todo o mundo, e acho que estou contribuindo para espalhar uma mensagem, para contar às pessoas algo que elas ignoram sobre a Síria", diz.
"Eu tento passar uma mensagem por meio dessas ilustrações e da arte. Sei que talvez não consiga provocar um impacto massivo na situação atual, mas minhas ilustrações estão preservando algo para a memória coletiva, para que a próxima geração possa saber o que aconteceu."
Ilustrações: Dima Nachawi

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