“Coelhinho de arroz” virou sinônimo para as discussões sobre assédio e o movimento Me Too nas redes sociais.
By Kimberly Yam
19/04/2018
As chinesas estão usando a criatividade para driblar a repressão do governo sobre as discussões relacionadas ao movimento #MeToo.
O termo "coelhinho de arroz" (米兔), pronunciado "mi tu", tem aparecido nas redes sociais desde que os censores começaram a proibir posts que mencionam assédio sexual ou a hashtag #MeToo.
Além desses dois emojis, os usuários das redes sociais também usam hashtags como #米兔不能忘 ("coelhinho de arroz jamais esquecer") #米兔在中国 ("coelhinho de arroz na China"). Essas hashtags são usadas em campanhas, fóruns e plataformas populares no país, como Weibo e WeChat, para discutir assuntos como desigualdade de oportunidades, violência doméstica e assédiosexual. Os censores têm mais dificuldade de pegar essas frases, pois "arroz" e "coelhinho" são palavras muito comuns.
Um post recente no Weibo usa as hashtags como um chamado contra a desigualdade de gênero, a discriminação e a violência. O post também critica a censura às mensagens feministas, segundo tradução do HuffPost. Outro post, mostra uma mulher segurando um cartaz que diz: "A luta contra o assédio sexual é muito mais importante do que fazer compras".
O movimento feminista na China vem ressurgindo nos últimos anos, especialmente entre as mulheres mais jovens, e muitas vezes se inspira nos países ocidentais. Mas a ascensão das feministas amplifica a história complicada do país em relação à igualdade de gênero.
As chinesas, especialmente as de áreas urbanas, têm conquistado uma mobilidade de empregos considerável nas últimas décadas, particularmente em setores como o de tecnologia. Quase 80% das empresas têm mulheres em posições de liderança, segundo a revista The Atlantic. Como comparação, nos Estados Unidos a porcentagem fica em torno de 50%. E, em dezembro de 2015, o país aprovou a primeira lei contra a violência doméstica – um marco para a China.
Mas, assim como outros movimentos sociais e políticos – a Revolução dos Guarda-chuvas, de 2014, e os protestos pró-democracia de 2011 –, o feminismo enfrenta resistência do governo. Em um dos casos de maior destaque, a polícia de Pequim prendeu em 2015 cinco ativistas, conhecidas como "As Cinco Feministas". Elas estariam planejando protestos contra o assédio sexual.
O movimento #MeToo na China foi inspirado em grande parte por Luo Xixi, uma ex-estudante que publicou um texto acusando o professor Chen Xiaowu, da Universidade Beihang, de ataque sexual. O texto viralizou e Chen foi demitido após uma investigação determinar que ele tinha um histórico de assédio. O caso gerou debates sobre assédio no Weibo e em outras redes sociais do país.
Desde então, porém, perfis populares no Weibo, como a página do #MeToo e Vozes Feministas, foram suspensas várias vezes por criticarem a desigualdade de gêneros na sociedade chinesa. Perfis e hashtags são monitorados e frequentemente suspensos. Mas, cada vez que um deles desaparece, surge outro com um nome diferente. A hashtag Coelhinho de Arroz é só um exemplo da resistência.
"As chineses sentem a desigualdade todos os dias de suas vidas, e o governo não tem como fazer essa injustiça cair no esquecimento", disse à rádio americana NPR Lu Pin, editora e fundadora do Vozes Feministas depois de a conta ser suspensa por um mês. "O objetivo do movimento feminista é criar uma comunidade para tratar das preocupações cotidianas das mulheres."
No passado, ativistas também recorreram a jogos de palavras criativos para driblar – e criticar -- a censura. Em 2009, ficou famosa a expressão "cavalo de grama-lama", que, em chinês, pode soar como "foda a sua mãe" – a ideia era protestar contra a censura. "Caranguejo do rio", que soa como "harmonia", virou um eufemismo para a censura. Usuários censurados usavam a expressão para dizer que seus posts tinham sido "harmonizados".
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