24/04/2018
ONU
Em uma cabana coberta de plástico perto de um esgoto a céu aberto, a viúva refugiada rohingya Sufia Khatun está fazendo o possível para cuidar da família. Seu marido, Nur Mohammad, foi morto quando, em agosto do ano passado, investigava a origem de uma fumaça ao redor de sua aldeia em Mianmar. Depois de ser forçada a fugir para Bangladesh, ela agora tem que cuidar de cinco filhos e um neto sozinha.
Desde agosto de 2017, mais de 687 mil refugiados chegaram em Bangladesh após serem forçados a fugir de Mianmar. Sufia, de 48 anos, está entre as 31 mil mulheres refugiadas que agora são chefes de família, muitas delas viúvas cujos maridos foram mortos ou estão desaparecidos. O relato é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Em uma cabana coberta de plástico perto de um esgoto a céu aberto, a viúva refugiada rohingya Sufia Khatun está fazendo o possível para cuidar da família. Seu marido, Nur Mohammad, foi morto quando, em agosto do ano passado, investigava a origem de uma fumaça ao redor de sua aldeia em Mianmar. Depois de ser forçada a fugir para Bangladesh, ela agora tem que cuidar de cinco filhos e um neto sozinha.
“O principal desafio é a comida. O que recebemos todo mês não é suficiente para atender nossas necessidades e temos que pegar emprestado 10 quilos de arroz de nossos vizinhos”, diz, agachada no chão da cabana, com seu neto Mohammad Hossen, de 3 anos, no colo.
Desde agosto de 2017, mais de 687 mil refugiados chegaram em Bangladesh após serem forçados a fugir de Mianmar. Sufia, de 48 anos, está entre as 31 mil mulheres refugiadas que agora são chefes de família, muitas delas viúvas cujos maridos foram mortos ou estão desaparecidos.
Elas enfrentam enormes desafios quando tentam recomeçar suas vidas na cidade repleta de abrigos de bambu que é, atualmente, o maior assentamento de refugiados do mundo.
Khatemunnesa, de 40 anos, é mãe de oito crianças e vive em uma barraca de bambu e plástico. Seu marido, Rahmat Ullah, de 50 anos, foi morto quando atearam fogo em sua aldeia natal seis meses atrás.
Ela se preocupa com a ameaçadora estação de chuvas e sobre como vai preparar sua frágil casa para as tempestades sem a ajuda de Rahmat ou do genro, que ela viu ser atacado em sua própria casa.
“Fortalecer o abrigo é algo que meu marido teria feito. Agora, com a chegada das tempestades, tenho que fazer isso sozinha”, conta.
Outras mulheres têm preocupações diferentes. Rehena Begum, de 45, diz que precisa de lenha para cozinhar, mas teme mandar as filhas adolescentes para buscar o combustível, cada vez mais escasso, no matagal perto do assentamento.
“Elas já são mulheres e eu tenho medo de mandá-las lá fora”, diz ela sobre as meninas de 17 e 18 anos. “Elas já estavam aterrorizadas com a violência em Mianmar. Testemunharam assédios”, completa, fazendo alusão a casos de estupro e agressão sexual. “Temo por elas caso precisarem sair”.
No vasto assentamento, que tem uma população maior do que a terceira maior cidade da França, Lyon, a diferença entre sobreviver e alcançar a estabilidade para retomar a vida está continuamente em jogo.
Em busca de equilíbrio, o governo de Bangladesh, apoiado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e seus parceiros, está trabalhando para garantir a assistência necessária a viúvas como Sufia, Khatemunnesa e Rehena. O objetivo é restaurar a autoconfiança dessas mulheres que se dissipa junto com suas casas, entes queridos e vidas perdidas em Mianmar.
“É muito importante dar às mulheres refugiadas, particularmente as viúvas e mães solteiras, a força que tinham antes para lidar e administrar uma família”, afirma Shirin Aktar, coordenador de proteção do ACNUR.
“Temos que empoderá-las, garantir que aprendam um ofício, para que possam restaurar a confiança e dignidade e seguir adiante, porque não estaremos lá para dar apoio para sempre.”
Estima-se que cerca de 16% das famílias de refugiados de rohingya que estão em Bangladesh sejam chefiadas por mães solteiras.
O governo do Bangladesh, o ACNUR e outros parceiros estão fornecendo assistência, incluindo abrigos mais seguros, cuidados médicos, aconselhamento e acesso a espaços para crianças e mulheres. Oficinas de treinamento são fornecidas para ajudar as mulheres a desenvolver habilidades e ganhar renda com costura e fabricação de sabão ou creme dental.
Voluntários refugiados estão se disponibilizando para transportar sacolas e caixas para aqueles que têm dificuldade de carregar kits de ajuda pesados ou precisam de auxílio para mudar para o campo. Os voluntários também auxiliam viúvas e outras pessoas que precisam de ajuda para reformar seus abrigos com bambu e lonas a fim de suportar a estação das monções.
Depois de um voluntário ter encaminhado Khatemunnesa a um ponto de informação onde ela conversou com o ACNUR e com a equipe da Technical Assistance Inc, ela conta que ouviu falar sobre capacitação pela primeira vez, e que gostaria de aprender a costurar.
Sufia também teve a chance de conversar com a equipe do ACNUR sobre suas preocupações e aprendeu mais a respeito dos treinamentos sobre meios de subsistência. “Eu me sinto melhor depois de explicar a minha situação”, diz. “Quando você ganha seu próprio dinheiro, pode levar a vida que quer”, completa.
De volta ao abrigo, que ela deixou mais aconchegante com uma cortina de flores e tapetes, Sufia enfatiza as esperanças que tem para seu neto Mohammad Hossen. Ela quer que o garoto estude bastante “para que possa prosperar”. Pouco a pouco, ela começa a sorrir.
“Tenho que ser positiva porque, se me preocupar muito, a morte bate na minha porta”, conta. “Devemos ter esperanças. É vital”.
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