O mito da madrasta má da Branca de Neve está mais do que ultrapassado. Agora, as histórias são outras. E também têm finais felizes! A ciência tem vindo a demonstrar que a separação do casal não é, obrigatoriamente, traumatizante para a criança.
O paradigma alterou-se. A ciência tem vindo a demonstrar que a separação dos pais não é, obrigatoriamente, traumatizante para a criança. 80% dos filhos de pais divorciados não tem problemas comportamentais. Os meus pais divorciaram-se quando era pequena. Tal como eu, muitos dos meus amigos são filhos de pais divorciados e familiarizam-se desde cedo com as palavras padrasto, madrasta, fins de semana alternados e por aí fora...
Hoje em dia, é cada vez mais comum uma criança ter quatro avós e quatro avôs, meios-irmãos e tios, tias, primos e primas em duplicado. E, se é verdade que o divórcio dos pais é uma realidade difícil de aceitar e que pode ter repercussões negativas para os filhos, cada caso é um caso e cada vez mais estudos salientam o outro lado da questão, focando-se nos benefícios destas novas famílias para as crianças.
A (sempre difícil) tarefa de gerir o divórcio
Contrariando uma velha crença que associava o divórcio dos pais a uma criança e futuro adulto com problemas psicológicos, os especialistas têm vindo a concluir que os filhos de pais divorciados têm um desenvolvimento perfeitamente normal e saudável, tornando-se, na generalidade, adultos mais flexíveis e com um espírito aberto. Vários estudos internacionais vieram, nos últimos anos, deitar este mito por terra.
Na verdade, o que parece comprometer a estabilidade emocional das crianças reside, em muito, no modo como os pais gerem o divórcio, a forma como explicam a situação às crianças e, principalmente, se ficam resíduos de conflitos por resolver, que se podem traduzir em agressões verbais ou falta de comunicação entre os progenitores.
Há um erro muito comum que muitos pais, em Portugal e no estrangeiro, insistem em cometer.
Utilizar as crianças como intermediárias em questões monetárias, escolares ou até relacionais, chantageá-las emocionalmente, obrigá-las a tomar partido ou a assumir preferências (perguntando-lhes se gostam mais da mãe ou do pai, por exemplo) ou dizer mal do ex parceiro são situações bastante frequentes que devem ser, a todo o custo, evitadas, como alertam muitos especialistas, nacionais e internacionais.
O terceiro elemento
E eis que a mãe, o pai ou ambos iniciam um novo relacionamento e voltam a casar. Uma nova realidade que muitos temem! Este é outro dos períodos considerados críticos e os pais devem assegurar a redução, ao máximo, das fontes de stress que advêm da mudança de rotinas (as quais desempenham um papel de extrema importância para a criança) na fase posterior ao divórcio ou quando existe um segundo casamento.
Um estudo realizado por E. Mavis Hetherington, professora de psicologia reformada da University of Virginia, nos Estados Unidos da América, junto de famílias pós-divórcio e publicado, pouco depois, no Journal of Family Psychology revelou que os dois primeiros anos de convivência são a grande prova de fogo para os mais pequenos quando os pais voltam a casar ou a coabitar com alguém.
A interação entre todos os membros (onde se podem incluir eventualmente outras crianças) e a adaptação e a criação de laços afetivos implica um período de adaptação que nem sempre é fácil. No entanto, segundo esta pesquisa norte-americana, decorridos cinco anos, estas novas famílias revelam-se mais estáveis e harmoniosas, com relações sólidas e assentes na compreensão e aceitação mútua.
"80% das crianças cujos pais se divorciaram e voltaram a casar não apresenta problemas comportamentais quando comparada com noventa por cento das crianças cujos pais estão juntos", assegura a especialista. "Não existe nenhum tipo de maldição sobre os filhos de pais divorciados", garante ainda E. Mavis Hetherington, uma pioneira na investigação científica das dinâmicas familiares nos EUA.
Texto: Teresa d'Ornellas
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