Criada pela atriz e diretora Tatiana Issa, 'Fora do armário' estreia nesta quinta-feira, na HBO
POR ZEAN BRAVO
01/04/2018
RIO — Atriz que trocou a atuação pela produção e direção, Tatiana Issa cresceu sabendo que seu pai, o cenógrafo e iluminador Américo Issa, era gay.
— Aos 11 anos, ele me chamou para conversar e contou que era homossexual. Foi importante para ele verbalizar, mas eu sempre soube. Fui criada no meio dos Dzi Croquettes (lendário e irreverente grupo teatral dos anos 1970, que acabou sendo tema do primeiro documentário da diretora). Sempre encarei tudo de forma natural, mas sofri bullying na escola por ter um pai gay — recorda Tatiana, que perdeu Américo, portador do vírus da Aids, em 2001.
Hoje radicada nos Estados Unidos, a diretora do premiado “Dzi Croquettes” (2010), de certa forma inspirou-se em sua própria história para criar a série documental “Fora do armário”, que estreia quinta, dia 5, às 21h, na HBO. Dirigida por Tatiana e Guto Barra, a atração, em dez episódios, apresenta os relatos de pessoas que contam como suas vidas mudaram após a revelação de suas verdadeiras sexualidades para a família e os amigos. Os personagens ouvidos pelo programa também falam como lidaram com suas próprias descobertas e como aceitaram ser quem realmente são.
— Quando a pessoa sai do armário, a família inteira acaba saindo junto — diz Tatiana. — Em geral, é sempre um baque familiar ter um filho gay. Essa notícia costuma vir seguida por dinâmicas complexas que mexem com a estrutura familiar.
Os episódios são temáticos, e cada um deles apresenta histórias de duas ou três pessoas. A equipe do programa viajou para diferentes partes do Brasil e ouviu os mais variados casos. Na estreia, três jovens transgêneros falam como a transição de gênero afetou o convívio deles com as famílias. Uma delas, Raphaela Laet, recebeu apoio em casa. Já Caio e Kaito Felipe tiveram que lidar com a negação dos pais.
— A gente costuma ver histórias de violência relacionadas a pessoas trans e travestis. Buscamos um outro olhar, mas sem deixar de falar em dificuldades e superação — completa Guto.
Dentre os personagens do programa, estão ainda um homem que ganha a vida como drag queen e um pai que contou para a família que é homossexual já na meia-idade.
O deputado federal Jean Wyllys e o ator Thammy Miranda, duas personalidades famosas, contam como foi ter suas histórias conhecidas pelo público. Na Bahia, Wyllys comenta sua difícil trajetória de aceitação familiar. Em São Paulo, Thammy relembra as dificuldades que enfrentou no processo de sua adequação de gênero e o preconceito que viveu, inclusive dentro da própria família.
Discussão em aberto
No décimo e último episódio, três educadores lembram como conquistaram seus espaços profissionais e como lidaram com o preconceito nas escolas em que trabalham. Um dos casos é o da transexual Laysa, que vive no Paraná, fez carreira como professora e tornou-se diretora do colégio em que trabalha.
— As histórias são fortes e emocionantes. Na Bahia, descobrimos uma mãe com dois filhos gays. Quando o menino saiu do armário, ela não aceitou. Depois, a filha também se revelou gay. Hoje, a mãe dos dois é uma ativista pelos direitos LGBT — conta Tatiana.
Coprodução da HBO com a Producing Partners, a série acompanhou a vida de alguns dos entrevistados ao longo de meses. O programa é costurado por entrevistas e cenas cotidianas dos personagens.
— Claro que existe a preocupação das pessoas ao se abrir e expor suas vidas. Mas todas querem falar e ser ouvidas. Essas questões já foram muito abordadas por programas sensacionalistas ou de forma rápida na TV — aponta Tatiana.
A série vai fazer um retrato aprofundado dessas histórias.
— Nossa intenção foi abrir uma porta para essa importante discussão. A série fala sobre empatia, família e a coragem de buscar a própria felicidade — diz Eduardo Zaca, diretor de produções originais da HBO Latin America no Brasil.
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