MARINA ROSSI
São Paulo
Se a decisão por não ter filhos é compartilhada, por que a conta também não é?
Uma pesquisa informal no Facebook pretendia saber se alguém dividia os custos do anticoncepcional com o companheiro. Não ria. Teve gente que respondeu que sim. Duas pessoas, para não ser injusta. Uma chegou a dizer que “a amiga de uma amiga tem um namorado que divide”. Mais parecia lenda urbana, como ela mesma disse, rindo, depois. O gasto médio, elas disseram, é de 50 reais por mês com o anticoncepcional. Se o risco de gerar um filho deve recair, em tese, sobre o ombro do casal, por que então eliminar essa possibilidade recai no bolso apenas do lado feminino?Uma das mulheres, casada, contou que decidiu parar de tomar a pílula e colocar o DIU. O marido foi com ela ao médico, ficou o tempo todo junto e até segurou na mão dela. Nenhuma palavra sobre quanto a consulta ou a pequena peça de cobre custaram. Assim como fazia com o custo do anticoncepcional oral, o DIU ela também bancou sozinha.
Mulheres adultas fazem parte de uma geração – dentro de determinado contexto social e econômico – que tomam pílula desde a adolescência. Muitas de nós começamos o uso do anticoncepcional antes mesmo da primeira relação sexual. “Para diminuir a espinha, reduzir o fluxo menstrual e as cólicas” são os argumentos preferidos dos ginecologistas. Curiosamente eles se esquecem de contar também que os pequenos comprimidos cheios de hormônios podem causar desde alterações de humor, a enxaquecas e até trombose, que significa risco de morte.
Enfim, vamos em frente. Por consequência deste hábito geracional, os homens desta mesma geração – novamente levando em conta o contexto social e econômico – cresceram se preocupando pouco ou nada com métodos contraceptivos. Mulheres nascidas nos anos 80, no auge da epidemia do vírus da AIDS, quando campanhas massivas pelo uso da camisinha, única maneira de proteger contra as temíveis Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST's) bombardeavam a televisão e as revistas para o público adolescente. Mas atire a primeira pedra quem não deixou de lado o preservativo assim que se viu em um relacionamento sério. Afinal, já tomavam pílula. Camisinha pra quê?
O problema deste raciocínio, além de, claro, a possibilidade de se contrair uma doença, é que não somente a responsabilidade, a decisão e os custos para se prevenir de uma gravidez indesejada recaem sobre a mulher, como também, por consequência, vai ser culpa dela se o método falhar. São sobre esses custos que vale questionar a corresponsabilidade. O financeiro, então, não deveria estar embutido aí?
Mas não é só isso. No Brasil, a pílula é tradicionalmente o método contraceptivo mais utilizado, explica Anna Cunha, antropóloga e oficial do programa Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) da ONU. Ela relata que 88% das brasileiras que buscam pelos chamados "métodos contraceptivos modernos" (pílulas, DIU e anticoncepcionais injetáveis, por exemplo) têm acesso a eles. É um bom índice, segundo ela. Porém, de acordo com o ministério da Saúde, as gravidezes indesejadas representam 55% do total. Ou seja, existe acesso, mas não basta somente garantir a distribuição dos métodos contraceptivos.
“O acesso não necessariamente é contínuo, nem sempre vem com informação”, diz Anna Cunha. “No caso das adolescentes, muitas ainda têm vergonha de ir até uma Unidade Básica de Saúde, que na maior parte dos casos é no próprio bairro, onde os agentes de saúde são pessoas conhecidas”. Outras tantas mulheres desconhecem a utilização correta da pílula. São comuns os relatos de mulheres que tomavam o anticoncepcional somente no dia em que iriam ter relação sexual. Uma dessas histórias, foi descrita pelo próprio filho. "A pílula falhou", a mãe dele contou para a tia quando descobriu que estava grávida. Dele, no caso.
Não bastasse tudo isso, às vezes a falta de informação parte de dentro da Unidade de Saúde. A estudante Emily Santos, 21, procurou o posto de saúde do bairro onde mora, em Diadema (SP), para colocar o DIU de cobre. “Logo na recepção já me disseram que eu não me encaixava no critério para colocar o DIU”, conta. “As atendentes me disseram que eu já deveria ter de dois a três filhos, companheiro fixo e a permissão e participação dele em todo o processo”.
Sem nem marcar uma consulta com o ginecologista, a estudante, que é solteira e não tem filhos, voltou para casa. Para se proteger de uma gravidez indesejada continuará tomando anticoncepcional, que ela compra na Farmácia Popular e paga seis reais a cartela todos os meses. Questionado, o Ministério da Saúde diz, por meio de nota, que esses critérios colocados para a estudante “não dizem respeito ao DIU e sim para a realização de laqueadura tubária e vasectomia, procedimentos irreversíveis, que seguem o que determina a legislação”. Mas então, por que com Emily foi diferente?
Nos últimos anos, a discussão sobre a corresponsabilidade do planejamento familiar tem avançado um pouco. Desde 2005, por exemplo, é garantida por lei a presença do acompanhante durante todo o trabalho de parto e no pós-parto. E é a mulher quem escolhe quem é o acompanhante, que pode ser o pai da criança ou não. A licença paternidade de cinco dias, garantida por lei, está sendo ampliada em diversas cidades brasileiras dando o direito de até 30 dias aos seus servidores públicos. Ainda faltam muitos passos para que a igualdade de gênero seja alcançada. Mas podemos começar dentro de casa: você divide os custos do anticoncepcional?
Mulheres adultas fazem parte de uma geração – dentro de determinado contexto social e econômico – que tomam pílula desde a adolescência. Muitas de nós começamos o uso do anticoncepcional antes mesmo da primeira relação sexual. “Para diminuir a espinha, reduzir o fluxo menstrual e as cólicas” são os argumentos preferidos dos ginecologistas. Curiosamente eles se esquecem de contar também que os pequenos comprimidos cheios de hormônios podem causar desde alterações de humor, a enxaquecas e até trombose, que significa risco de morte.
Enfim, vamos em frente. Por consequência deste hábito geracional, os homens desta mesma geração – novamente levando em conta o contexto social e econômico – cresceram se preocupando pouco ou nada com métodos contraceptivos. Mulheres nascidas nos anos 80, no auge da epidemia do vírus da AIDS, quando campanhas massivas pelo uso da camisinha, única maneira de proteger contra as temíveis Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST's) bombardeavam a televisão e as revistas para o público adolescente. Mas atire a primeira pedra quem não deixou de lado o preservativo assim que se viu em um relacionamento sério. Afinal, já tomavam pílula. Camisinha pra quê?
O problema deste raciocínio, além de, claro, a possibilidade de se contrair uma doença, é que não somente a responsabilidade, a decisão e os custos para se prevenir de uma gravidez indesejada recaem sobre a mulher, como também, por consequência, vai ser culpa dela se o método falhar. São sobre esses custos que vale questionar a corresponsabilidade. O financeiro, então, não deveria estar embutido aí?
Mas não é só isso. No Brasil, a pílula é tradicionalmente o método contraceptivo mais utilizado, explica Anna Cunha, antropóloga e oficial do programa Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) da ONU. Ela relata que 88% das brasileiras que buscam pelos chamados "métodos contraceptivos modernos" (pílulas, DIU e anticoncepcionais injetáveis, por exemplo) têm acesso a eles. É um bom índice, segundo ela. Porém, de acordo com o ministério da Saúde, as gravidezes indesejadas representam 55% do total. Ou seja, existe acesso, mas não basta somente garantir a distribuição dos métodos contraceptivos.
“O acesso não necessariamente é contínuo, nem sempre vem com informação”, diz Anna Cunha. “No caso das adolescentes, muitas ainda têm vergonha de ir até uma Unidade Básica de Saúde, que na maior parte dos casos é no próprio bairro, onde os agentes de saúde são pessoas conhecidas”. Outras tantas mulheres desconhecem a utilização correta da pílula. São comuns os relatos de mulheres que tomavam o anticoncepcional somente no dia em que iriam ter relação sexual. Uma dessas histórias, foi descrita pelo próprio filho. "A pílula falhou", a mãe dele contou para a tia quando descobriu que estava grávida. Dele, no caso.
Não bastasse tudo isso, às vezes a falta de informação parte de dentro da Unidade de Saúde. A estudante Emily Santos, 21, procurou o posto de saúde do bairro onde mora, em Diadema (SP), para colocar o DIU de cobre. “Logo na recepção já me disseram que eu não me encaixava no critério para colocar o DIU”, conta. “As atendentes me disseram que eu já deveria ter de dois a três filhos, companheiro fixo e a permissão e participação dele em todo o processo”.
Sem nem marcar uma consulta com o ginecologista, a estudante, que é solteira e não tem filhos, voltou para casa. Para se proteger de uma gravidez indesejada continuará tomando anticoncepcional, que ela compra na Farmácia Popular e paga seis reais a cartela todos os meses. Questionado, o Ministério da Saúde diz, por meio de nota, que esses critérios colocados para a estudante “não dizem respeito ao DIU e sim para a realização de laqueadura tubária e vasectomia, procedimentos irreversíveis, que seguem o que determina a legislação”. Mas então, por que com Emily foi diferente?
Nos últimos anos, a discussão sobre a corresponsabilidade do planejamento familiar tem avançado um pouco. Desde 2005, por exemplo, é garantida por lei a presença do acompanhante durante todo o trabalho de parto e no pós-parto. E é a mulher quem escolhe quem é o acompanhante, que pode ser o pai da criança ou não. A licença paternidade de cinco dias, garantida por lei, está sendo ampliada em diversas cidades brasileiras dando o direito de até 30 dias aos seus servidores públicos. Ainda faltam muitos passos para que a igualdade de gênero seja alcançada. Mas podemos começar dentro de casa: você divide os custos do anticoncepcional?
Nenhum comentário:
Postar um comentário