26/12/2014 11:43
Da Argélia ao Iraque, passando pelo Iêmen, os jihadista pedem sem descanso a libertação de Aafia Sidiqui, uma cientista paquistanesa presa nos Estados Unidos e convertida na heroína do movimento extremista, para desgosto da família, que alega sua inocência.
O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou em vão a libertação desta misteriosa paquistanesa de 42 anos em troca do jornalista americano James Foley, que acabou decapitado.
Faz tempo que os movimentos jihadistas pedem a libertação de Sidiqui, sem que se saiba se ela é um de seus membros ou é apenas usada como justificativa para suas atrocidades. A família da cientista se desespera com os horrores cometidos em seu nome.
Tudo começou em 1o. de março de 2003, com a prisão pelas autoridades paquistanesa do suposto cérebro do 11 de setembro, Khaled Sheikh Mohamad. Ele foi entregue aos americanos e levado apra para Guantánamo.
Ao final de alguns dias, Aafia Sidiqui, suspeita de manter vínculos com a Al-Qaeda, desapareceu misteriosamente em Karachi. Na ocasião, a imprensa não deu destaque à prisão da primeira mulher acusada de estar envolvida com movimento de Osama Bin Laden. Aafia passou a ser conhecida como "Lady Al-Qaeda".
Ela reaparece cinco anos mais tarde, no Afeganistão, onde é detida pelas forças locais. Segundo a ata de acusação americana, foi detida com dois quilos de cianeto de sódio, manuais de instrução para a guerra química e mapas com os principais monumentos de Nova York.
Os afegãos a entregam aos americanos. Segundo testemunhas, no interrogatório ela teria se apoderado de uma arma e disparado aos gritos de "Morte aos Estados Unidos!" e "Quero matar americanos!". As pessoas que a interrogavam saem ilesas, mas ela acaba ferida.
Foi levada para os Estados Unidos e condenada em 2010 a 86 anos de prisão por tentativa de assassinato de soldados e não por seus vínculos com a Al-Qaeda.
As autoridades jamais souberam, ou revelaram, por onde ela andou entre 2003 e 2008 e como chegou ao Afeganistão.
Os amigos da paquistanesa alegam que se trata de um complô e que Aafia e seus três filhos foram detidos em Karachi por agentes paquistaneses e americanos.
"Horas depois que a levaram, um homem bateu na porta e disse a minha mãe: 'se abrir a boca ou prestar queixa à polícia, acabar com quatro mortos nos braços", contou à AFP Fowzia Sidiqui, irmã de Aafia.
Durante seu julgamento, em 2010, Aafia Sidiqui afirmou ter ficado por muito tempo em uma prisão secreta. Algumas fontes dizem que permaneceu parte desses anos encarcerada na prisão americana de Bagram, no Afeganistão.
Nada parecia indicar que teria este destino. Passou a infância entre o Paquistão e a Zâmbia e, aos 18 anos, em 1990, chegou aos Estados Unidos, onde estudou no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Brandeis, onde obtém um doutorado em Neurociência.
Nos anos 90, sua família organiza seu casamento com um médico de Karachi, Amjad Khan, que vai viver com ela nos Estados Unidos.
A partir de 2001, o FBI os observa de perto por suas doações constantes para organizações muçulmanas e a compra de 10.000 óculos noturnos, livros e equipamento de proteção militar.
Um ano depois, o casal volta ao Paquistão e Aafia pede divórcio. Autoridades americanas suspeitam que voltou a se casar - o que a família desmente - com Amar al-Baluchi, sobrinho do suposto cérebro do 11/9.
Detido em 2003 no Paquistão, Baluchi foi levado para Guantánamo.
Algumas fontes americanas acusam Aafia Sidiqui de ter entrado para a Al-Qaeda e ter vivido, entre 2003 e 200, no Afeganistão com a família de Baluchi ou com rebeldes talibãs.
Outra hipótese desmentida por sua família. Mas o certo é que aparentemente a "Lady Al-Qaeda" se transformou na "Lady Estado Islâmico".
"Se os Estados Unidos e o Paquistão não fizerem nada por Aafia, o Estado Islâmico vai se aproveitar disso", lamenta Fowzia.
"Se Aafia soubesse como seu nome está sendo usado, ficaria arrasada", conclui.
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