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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Escola sucateada hoje será presídio lotado amanhã. Por Mônica El Bayeh

Na 'Visita' de hoje, Mônica diz que falta tempo de aula, qualidade de ensino e professor nas escolas

14/12/2014

Por que razão se reduz o tempo de estudos de um aluno? Por razões econômicas, claro. Assim é regida a triste pedagogia no município do Rio de Janeiro.

Que eu me lembre, começou assim: eram seis tempos de aula diariamente, trinta tempos por semana. Os trinta passaram para vinte e cinco. Cinco tempos a menos. Antes eram três de língua estrangeira, artes, educação física. Passaram a ser dois.

Somada à redução do horário dos tempos, a ordem de não reprovar. Exatamente isso, só que em palavras bonitas e falsas. No município do Rio de Janeiro é proibido reprovar. Não podemos reprovar? Muito menos do que o ideal. Notas baixas também são motivo para o professor ser questionado.

Não pode haver mais de três notas baixas por turma. Como fazer essa mágica quando os alunos nem ler direito sabem? O que fazer com o aluno que chega ao sexto ano e não foi alfabetizado? Alunos que não somam vão realizar equações de segundo grau?

O nível caiu tanto que as avaliações que eu usava quando entrei no município não servem mais. Joguei fora, uso como rascunho. Já aconteceu de eu interromper a prova. Reexplicar a matéria no quadro. Fazer de conta que esqueci de apagar. Nem assim eles conseguiram responder. Nem eu dando cola no quadro.

Sabe por que? Nossos alunos vêm perdendo a capacidade de raciocinar. Estão emburrecendo. E sendo emburrecidos pelas práticas financeiro pedagógicas do município.

O município divulga a criação de uma fábrica de escolas. Fábrica é o que se quer criar. Produção em série, sem questionamentos. Professores que não questionam? Alunos que não pensam? São os ideais. São esses que vão votar em quem não presta e perpetuar governos corruptos.

A educação cai de podre como planta a quem se nega água. Os professores lutam, criam, inventam numa luta inglória. Lutam sozinhos. 

O município cortou os salários dos professores grevistas que foram às ruas denunciar. Uma forma de calar a voz dos descontentes. Descontou como falta o que era greve. Mesmo dentro da ilegalidade, continua descontando até hoje. Já descontou mais que o equivalente do salário que paga. Roubo!

Nas escolas particulares há inspetores, porteiros, seguranças. Nas escolas do município não há quase nada. O prefeito retirou os porteiros. Um inspetor por turno. Não há a menor segurança para ninguém.

A secretária fala sorrindo, sem o menor pudor, que professor sempre vai ganhar mal mesmo. Ela também ganha? Se ela recebesse o salário de um professor do município do Rio de Janeiro sobreviveria? Sorriria, com o mesmo pouco caso, ao abrir seu contracheque?

Agora anunciam por aí que até o sexto ano será um mesmo professor para todas as matérias. Alegam que será melhor para os alunos que nesse ano começam a enfrentar vários professores e têm dificuldades em lidar com essa situação.

Lidar com novas situações faz parte da vida. Dificuldades crescentes também. Nossos filhos de escolas particulares passam e enfrentam a mesma situação. Estranham, mas superam. Nós aceitaríamos que eles tivessem um professor só? Um professor sem a formação adequada, mal preparado para dar aulas de todas as matérias? 

Você aceitaria ser operado por um advogado? Pediria a um médico que construísse sua casa? Provavelmente não, né? Até porque o conselho deles é forte e comeria o fígado do invasor.

Mais uma vez, quem dirige o pedagógico é o financeiro. Um professor custa menos que vários. Se os alunos fossem de classe média alta, teríamos um motim de mães na porta da direção. Mas não são. O município sabe disso. Não são e não vão reclamar.

A sociedade também se cala, como as mães pobres dos alunos. Se cala porque não se sente incomodada, como se não fosse com ela. Como se fosse longe e não nos atingisse. Só que atinge.

Reclamemos nós, então! Nós que enxergamos o absurdo da situação. Nós que nos indignamos com o que percebemos em volta. É dos nossos salários que sai o dinheiro que tinha de ir para a educação e vai para bolsos vorazes.

É criminoso institucionalizar o despreparo dos jovens que dependem das escolas do município. É criminoso esse assédio moral que os professores do município vêm sofrendo por parte do prefeito e da sua secretária de educação.

Nossos meninos pobres são cada vez mais roubados do direito básico de educação decente. O que me dói é que é neles que se pensa quando se pede a diminuição da maioridade penal. Os meninos roubados de tudo incomodam quando aprendem a roubar.

Nossos meninos veem sua chance de vida sendo assassinada por falta de investimento público. Esperamos que eles sejam o que? Cada escola sucateada hoje é um presídio lotado amanhã.

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