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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Existe a biologia da compaixão pelo próximo?


JOEL RENNO
26 Dezembro 2014

Em clima de final de ano, vale a pena falarmos sobre altruísmo ou compaixão pelos nossos semelhantes que sofrem e necessitam de nossa ajuda.
Há várias pesquisas atuais de neuroimagem que atribuem às diferenças anatômicas de estruturas cerebrais como a amígdala diferentes sentimentos e comportamentos. É uma área vasta e que ainda terá muitas novidades nos próximos anos.
O altruísmo é um mistério para psicólogos e biólogos evolucionistas há séculos. Por que de repente uns se doam mais ao próximo até se prejudicando pessoalmente e outros não? Seria determinado biologicamente ou não? E aqueles que sequer se importam com os outros seriam resultado da biologia, da educação ou do meio circundante?
Parece algo contraditório, do ponto de vista da evolução e da sobrevivência, que os seres humanos ajudem os outros para seu próprio prejuízo. Ainda assim, não só alguns de nós fazem isso o tempo todo, como a maioria se sente revigorado ao realizar um ato altruísta. No histórico de vários Santos da Igreja Católica, há muitos deles que se sacrificaram em nome de uma causa maior mesmo às custas da própria dor.
Um novo estudo de 2014 da Universidade Georgetown e da Universidade de Washington em Seattle (ambas nos EUA) que analisou a biologia de pessoas muito altruístas descobriu que elas possuem um cérebro diferente das outras pessoas. Aliás, essa diferença é o exato oposto da diferença que o cérebro dos psicopatas tem em relação à média das pessoas.
Em resumo, uma região específica do cérebro que desempenha um papel importante na capacidade das pessoas de cuidar e se importar com os outros é maior que o normal nos altruístas extremos, e menor que o normal nos psicopatas.
O estudo
Os pesquisadores optaram por estudar “altruístas extremos”, e por isso escolheram para o estudo pessoas que doaram um rim para alguém que nem sequer conheciam.
Dezenove adultos saudáveis que tinham doado um rim a um desconhecido e outros 20 adultos que foram recrutados na comunidade local como grupo de controle viram imagens de pessoas com expressões faciais amedrontadas, raivosas e neutras, enquanto sua atividade cerebral era medida com ressonância magnética.
De todas as expressões, os pesquisadores estavam mais interessados mas respostas dos participantes aos rostos amedrontados.
Estudos anteriores já haviam mostrado que as expressões de medo provocam sentimentos de compaixão nas pessoas altruístas. De fato, os altruístas do novo estudo exibiram uma sensibilidade muito maior às expressões de medo, evidenciada pela maior atividade em suas amígdalas (a parte em forma de noz do cérebro que processa as emoções).
Amígdala maior
O lado direito da amígdala dos altruístas era 8% maior do que o de pessoas que não tinham doado um órgão.
Estes resultados oferecem um contraste impressionante com a pesquisa anterior da equipe no cérebro de psicopatas.
Em seu estudo de 2013, eles mostraram imagens de ferimentos dolorosos para 14 adolescentes com traços psicopáticos e para um grupo de controle. Os cientistas descobriram que a amígdala direita em psicopatas era menor e menos ativa do que a de uma pessoa normal. Psicopatas também eram muito menos sensíveis à dor dos outros, indicando uma menor capacidade de sentir compaixão.
Por isso, os pesquisadores acreditam que a nossa arquitetura neurológica, especificamente a amígdala, ajuda a moldar nossas tendências altruístas.
A amígdala pode atuar como “bússola moral” do cérebro – ligada em pessoas compassivas e desligada em psicopatas.
No futuro, os pesquisadores planejam examinar como o cérebro dos altruístas respondem a outros estímulos, tais como expressões de dor ou tristeza, posturas corporais e vozes.

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