26.11.2014
Autoria Enrique López Magallón
Imagem das mulheres que ajudaram massivamente a remover destroços depois da Segunda Guerra faz parte da memória coletiva dos alemães. Mas ela não corresponde à realidade, afirma Leonie Treber num livro recém-lançado.
Estátuas de mulheres com um pano na cabeça e uma pá na mão estão espalhadas por inúmeras cidades da Alemanha. São "símbolos do espírito de reconstrução e da ânsia de sobrevivência dos alemães", disse certa vez o ex-chanceler federal Helmut Kohl. As esculturas "lembram o grande número de mulheres que ajudou voluntariamente a remover os destroços", acrescentou.
Entretanto, isso é um equívoco, segundo a historiadora Leonie Treber. Na Alemanha, não houve "um grande número" de mulheres que ajudaram a reconstruir as cidades, e a tarefa também não foi feita voluntariamente.
"As mulheres dos escombros são uma lenda alemã", afirma Treber, que acaba de publicar o resultado de sua pesquisa no livro Mythos Trümmerfrauen (O mito das mulheres dos escombros). A historiadora está envolvida com o tema desde 2005 e fez seu doutorado sobre o assunto na Universidade de Duisburg-Essen.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os destroços foram removidos principalmente por empresas especializadas, com equipamento específico. "Se isso tivesse sido feito majoritariamente por mulheres com pás e baldes, elas estariam recolhendo os escombros até hoje", diz Treber. Entretanto, as empresas precisaram de apoio da população, pois cerca de 400 milhões de metros cúbicos de escombros tinham de ser removidos no país.
Em Berlim, aproximadamente 60 mil mulheres tiveram de recolher os destroços, mas ainda assim isso não pode ser considerado um fenômeno de massa, já que elas só representavam 5% da população feminina da cidade. Na zona de ocupação britânica, somente 0,3% das mulheres participaram da remoção de escombros, acrescenta Treber.
Não eram só as mulheres que não tinham muita vontade de recolher os destroços. Entre os homens a tarefa também não era muito popular. A maioria dos alemães via esse como um "trabalho forçado" e tinha razão para isso. Durante a guerra, os nazistas forçaram os prisioneiros de guerra, trabalhadores escravos e presos em campos de concentração a remover os escombros causados pelos bombardeios dos Aliados.
Pouco depois do fim do conflito, em 1945, o trabalho novamente foi feito por prisioneiros de guerra e por ex-membros do Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP), de Hitler. Mas como esses não eram suficientes, muitas vezes a população foi chamada para colaborar: na parte ocidental do país, voluntariamente; e na oriental, geralmente de forma forçada.
Meios de comunicação
Em Berlim, as mulheres foram atraídas para o trabalho de remoção de entulhos com a oferta da segunda maior categoria de vale-refeição. Para recrutar mais voluntárias para a tarefa, a imagem da mulher que recolhe alegremente os escombros foi espalhada insistentemente para a população através dos meios de comunicação da época, diz a historiadora.
"Justamente essa é a imagem que ficou gravada na consciência coletiva dos alemães e hoje, vez ou outra, é evocada em discursos, filmes e livros", observa Treber.
"Atualmente, ninguém duvida da veracidade da imagem das mulheres altruístas", acrescenta. Por isso, a historiadora se vê confrontada por uma forte resistência da sociedade. "Claro que havia mulheres fortes que ajudaram a remover os escombros depois da guerra", explica. "Mas elas claramente foram uma minoria."
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