Priscila Brito
Jornalista de música, co-fundadora do Festivalando, blogueira
Publicado: 27/12/2014
Quando Beyoncé surgiu no palco do Video Music Awards à frente de um telão com a palavra "feminista" em letras garrafais, em agosto, não estava só se posicionando positivamente em relação ao tema. Meio sem querer, acabou resumindo o que havia sido (e ainda seria) parte da pauta do pop em 2014. Taylor Swift finalmente percebeu que era uma feminista, Miley Cyrus reafirmou ser uma e ainda sobrou tempo para, aqui no Brasil, Pitty e Anitta protagonizarem um necessário debate sobre a liberdade sexual das mulheres (fora da música ainda teve o discurso de Emma Watson na ONU e todo o bafafá em torno do livro de Lena Dunham, Não Sou Uma Dessas).
Jornalista de música, co-fundadora do Festivalando, blogueira
Publicado: 27/12/2014
Quando Beyoncé surgiu no palco do Video Music Awards à frente de um telão com a palavra "feminista" em letras garrafais, em agosto, não estava só se posicionando positivamente em relação ao tema. Meio sem querer, acabou resumindo o que havia sido (e ainda seria) parte da pauta do pop em 2014. Taylor Swift finalmente percebeu que era uma feminista, Miley Cyrus reafirmou ser uma e ainda sobrou tempo para, aqui no Brasil, Pitty e Anitta protagonizarem um necessário debate sobre a liberdade sexual das mulheres (fora da música ainda teve o discurso de Emma Watson na ONU e todo o bafafá em torno do livro de Lena Dunham, Não Sou Uma Dessas).
Claro, o assunto não ficou só no nível das declarações e virou música também. O hit que colocou uma das vertentes do tema em debate pode ter sido "All About That Bass", de Meghan Trainor (um debate que ficou entre o acerto de incentivar a auto-aceitação do corpo e o equívoco de atacar outros tipos físicos para atingir essa aceitação), mas não foi essa a única música que tratou de questões feministas neste ano. Elas não escalaram as paradas de sucesso nem ganharam os mesmos holofotes e manchetes que o show de Beyoncé e a conversa de Pitty e Anitta, mas ainda dá tempo de você ouvi-las:
O ano começou com Go Forth, Feminist Warriors, uma espécie de versão feminista e mais hipster de We Are The World uma vez que reúne um grupo de mais de vinte vozes para tratar das diferentes lutas que as mulheres têm (ainda) que encarar. A comparação com o clássico beneficente capitaneado por Michael Jackson vem de uma das mentoras da gravação, a jovem Tavi Gevison, editora da Rookie, publicação online voltada para o público feminino.
A autoria é de Katy Davidson, nome por trás do projeto Key Losers. Nos vocais: Katie Crutchfield, MNDR, Kate Nash, Kimya Dawson, Suzy X., Tavi Gevinson, Katy Davidson, Marianna Ritchey, Geneviève Castrée, Thao Nguyen, Storey Littleton, Tegan and Sara, Dee Dee Penny (Dum Dum Girls), Ted Leo, Aimee Mann, Psalm One e Carrie Brownstein.
As moças cantam versos como "They mansplain every night and day/ But they can't mansplain our freedom away". "Mansplain" é um verbo fruto do neologismo e que, por isso, ainda não tem tradução direta para o português, mas pode ser entendido como a imposição da visão masculina para explicar uma determinada questão. Talvez algo como "eles impõem sua visão de mundo noite e dia, mas não vão impor a minha liberdade".
Em maio, a rapper norte-americana Sizzy Rocket fez uma espécie de revisão histórica ao reescrever os versos de Girls, dos Beatie Boys, incontestavelmente um dos clássicos do trio nos anos 1980, mas também uma ode ao sexismo dados versos como "Girls - to do the dishes/Girls - to clean up my room/Girls - to do the laundry" (Garotas - pra lavar a louça/ Garotas - para limpar meu quarto/ Garotas - para lavar roupas).
A música já havia sido retrabalhada em favor das moças no fim de 2013, quando uma fabricante de brinquedos norte-americana usou uma paródia da letra para promover seus brinquedos, todos intencionalmente voltados para desenvolver em meninas o interesse por ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Sizzy deu mais um passo à frente e reescreveu os versos de modo a criar uma versão que fortalecesse jovens garotas, segundo a própria. Ela canta: "They have no idea / the pressure that we have to feel / be skinny / be pretty / have sex appeal / bend over / give it to me like you want a record deal" (Eles não têm a ideia da pressão que sofremos. Seja magra, seja bonita, seja sensual, se curve e se entregue a mim já que você quer um contrato assinado).
A música já havia sido retrabalhada em favor das moças no fim de 2013, quando uma fabricante de brinquedos norte-americana usou uma paródia da letra para promover seus brinquedos, todos intencionalmente voltados para desenvolver em meninas o interesse por ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Sizzy deu mais um passo à frente e reescreveu os versos de modo a criar uma versão que fortalecesse jovens garotas, segundo a própria. Ela canta: "They have no idea / the pressure that we have to feel / be skinny / be pretty / have sex appeal / bend over / give it to me like you want a record deal" (Eles não têm a ideia da pressão que sofremos. Seja magra, seja bonita, seja sensual, se curve e se entregue a mim já que você quer um contrato assinado).
Ainda em meados do ano, o quarteto de Seattle Tacocat usou ironia na música Hey Girl para esbravejar contra o assédio nosso de cada dia que nós mulheres sofremos ao andar pelas ruas, como bem mostraram o viral da moça que recebeu mais de 100 cantadas em 10 horas de caminhada pelas ruas de Nova York e o projeto Chega de Fiu-Fiu. Um bônus-track das moças de Seattle que também merece ser ouvido é a faixa "Crimson Wave", um convite bem humorado à aceitação positiva da menstruação.
Quase aos 45min do segundo tempo, a inglesa Charlie XCX fecha bem a lista com a faixa Body of My Own, presente em "Sucker", álbum lançado agora em dezembro. A nova música ajuda a ampliar a coletânea de temas pop dedicados à masturbação feminina e ainda afirma com todas as letras: ele sente muito mais prazer sozinha do que com aquele cara mais ou menos.
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