Débora Fogliatto
A Aids segue sendo um dos grandes problemas mundiais de saúde pública e, no Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de casos. Enquanto no país houve um registro de cerca de 20,2 novos casos por 100 mil habitantes, no estado os dados são de 41 ocorrências, em 2011. A situação é grave especificamente na região metropolitana de Porto Alegre: a capital ocupa o primeiro lugar dentre todas as capitais brasileiras desde 1998 e, dos cem municípios brasileiros com maior incidência, 14 estão na região.
Outra realidade que vem preocupando é o crescimento dos casos dentre as mulheres, num fenômeno chamado feminização da Aids. Nos últimos anos, a proporção de mulheres com HIV/Aids aumentou de 33% para 48%, sendo que entre as pessoas jovens de 15 a 24 anos, 60% são mulheres. Para discutir e combater essa realidade, surge o Projeto Conexões, feito em parceria entre o governo do estado e as ONGs Coletivo Feminino Plural e Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero.
Uma pesquisa realizada pelas entidades constatou a relação entre a violência de gênero e a contaminação por HIV/Aids. A feminização do vírus começou a acontecer na década de 1990, segundo Télia Negrão, coordenadora do Coletivo Feminino Plural. Ela explica que, naquela época, os índices de contaminação entre os homens — que chegaram a ser de 28 para um em relação às mulheres — estavam se estabilizando. “Mulheres que viviam em relações instáveis, heterossexuais, confiando no companheiro e que não tinham menor ideia que eles se relacionavam com outras pessoas ou utilizavam drogas ,acabaram sendo infectadas”, relatou.
Essas mulheres acabavam descobrindo muito tarde que estavam infectadas, por não desconfiarem que isso poderia ter acontecido. Em muitos casos, elas cuidavam dos companheiros e somente depois de sua morte, buscavam tratamento. Outro fator apontado por Télia é a maior durabilidade da vida sexual das mulheres solteiras, que passaram a fazer sexo casual com homens até uma idade mais avançada.
“E por que nós colocamos que há relação entre violência e HIV? Porque vários estudos vêm demonstrando que mulheres que estão vivendo com HIV e Aids, uma enorme parcela delas dizem que passaram por situação de violência”, apontou Télia. Além dos casos de estupro e em prostitutas, ela lembra ainda que muitas vezes as mulheres não têm o poder de negociar o uso do preservativo com seus parceiros, que se recusam a colocar camisinhas, sejam eles fixos ou casuais. “Como pedir para teu marido usar camisinha? Mesmo sabendo que ele transa com outras pessoas, quando ele chega em casa a mulher não consegue exigir dele por uma questão de hierarquia de gênero, em que estão em muita submissão”, observou.
Ela constata que se criou um “ciclo vicioso” entre as duas epidemias, a violência de gênero e o HIV/Aids. Falhas na qualidade do pré-natal também geram diagnósticos tardios, pois Télia aponta que muitas mulheres só descobrem estar infectadas quando já estão prestes a parir.
As taxas de feminização do vírus no Rio Grande do Sul também são alarmantes. Enquanto no Brasil a taxa de detecção em gestantes é 2,4 casos por mil nascidos vivos, na região sul é 5,8 casos. Apenas no estado, o número aumenta para 9,6. “Temos discutido bastante os motivos dessa diferença, achamos que está vinculado ao problema do uso de drogas e porque temos um machismo muito forte. É um dado de epidemia que chamaria atenção em qualquer lugar do mundo e o Ministério da Saúde não consegue dar explicações do porque dessa epidemia ser tão elevada aqui”, lamentou.
O Projeto Conexões
A ideia é capacitar e informar os agentes da área de saúde e direitos da mulher, assim como articular as redes de atendimento em saúde e atenção à violência. Conforme explica Lisarb Montes D’Oco, coordenadora técnica do projeto, a capacitação de equipes será realizada em 2015 em Porto Alegre, Viamão e Canoas. “Estamos fazendo primeiro um mapeamento dos serviços de atendimento em mulheres em situação de violência e de serviços de HIV/Aids nos três municípios”, contou.
A partir daí, serão realizadas oficinas em cada um dos municípios, que vão incluir “todo tipo de trabalhador tanto na saúde quanto serviços de violência contra mulher, líderes comunitários, agentes de saúde, entre outros que acolham e atendam esse público, mulheres com HIV ou em situação de violência”, segundo Lisarb.
O Conexões foi feito a partir de um edital da Secretaria Estadual de Saúde de 2012, mas que foi fechado em julho de 2014. O projeto é ligado à campanha mundial Mulheres Não Esperam (Women Won’t Wait), que existe em especial na África e na Ásia, continentes com altos índices de HIV e violência. “Formou-se uma coalizão internacional para levar à ONU a necessidade de serem construídas estratégias conjuntas para enfrentamento à Aids e enfrentamento à violência de gênero “, afirmou Télia, que também é do Comitê Internacional da Campanha.
Sul 21
A Aids segue sendo um dos grandes problemas mundiais de saúde pública e, no Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de casos. Enquanto no país houve um registro de cerca de 20,2 novos casos por 100 mil habitantes, no estado os dados são de 41 ocorrências, em 2011. A situação é grave especificamente na região metropolitana de Porto Alegre: a capital ocupa o primeiro lugar dentre todas as capitais brasileiras desde 1998 e, dos cem municípios brasileiros com maior incidência, 14 estão na região.
Outra realidade que vem preocupando é o crescimento dos casos dentre as mulheres, num fenômeno chamado feminização da Aids. Nos últimos anos, a proporção de mulheres com HIV/Aids aumentou de 33% para 48%, sendo que entre as pessoas jovens de 15 a 24 anos, 60% são mulheres. Para discutir e combater essa realidade, surge o Projeto Conexões, feito em parceria entre o governo do estado e as ONGs Coletivo Feminino Plural e Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero.
Uma pesquisa realizada pelas entidades constatou a relação entre a violência de gênero e a contaminação por HIV/Aids. A feminização do vírus começou a acontecer na década de 1990, segundo Télia Negrão, coordenadora do Coletivo Feminino Plural. Ela explica que, naquela época, os índices de contaminação entre os homens — que chegaram a ser de 28 para um em relação às mulheres — estavam se estabilizando. “Mulheres que viviam em relações instáveis, heterossexuais, confiando no companheiro e que não tinham menor ideia que eles se relacionavam com outras pessoas ou utilizavam drogas ,acabaram sendo infectadas”, relatou.
Essas mulheres acabavam descobrindo muito tarde que estavam infectadas, por não desconfiarem que isso poderia ter acontecido. Em muitos casos, elas cuidavam dos companheiros e somente depois de sua morte, buscavam tratamento. Outro fator apontado por Télia é a maior durabilidade da vida sexual das mulheres solteiras, que passaram a fazer sexo casual com homens até uma idade mais avançada.
“E por que nós colocamos que há relação entre violência e HIV? Porque vários estudos vêm demonstrando que mulheres que estão vivendo com HIV e Aids, uma enorme parcela delas dizem que passaram por situação de violência”, apontou Télia. Além dos casos de estupro e em prostitutas, ela lembra ainda que muitas vezes as mulheres não têm o poder de negociar o uso do preservativo com seus parceiros, que se recusam a colocar camisinhas, sejam eles fixos ou casuais. “Como pedir para teu marido usar camisinha? Mesmo sabendo que ele transa com outras pessoas, quando ele chega em casa a mulher não consegue exigir dele por uma questão de hierarquia de gênero, em que estão em muita submissão”, observou.
Ela constata que se criou um “ciclo vicioso” entre as duas epidemias, a violência de gênero e o HIV/Aids. Falhas na qualidade do pré-natal também geram diagnósticos tardios, pois Télia aponta que muitas mulheres só descobrem estar infectadas quando já estão prestes a parir.
Campanha Women Won’t Wait pede interseccionalidade entre estratégias de combate à violência e HIV Foto: Divulgação/ Women Won’t Wait |
O Projeto Conexões
A ideia é capacitar e informar os agentes da área de saúde e direitos da mulher, assim como articular as redes de atendimento em saúde e atenção à violência. Conforme explica Lisarb Montes D’Oco, coordenadora técnica do projeto, a capacitação de equipes será realizada em 2015 em Porto Alegre, Viamão e Canoas. “Estamos fazendo primeiro um mapeamento dos serviços de atendimento em mulheres em situação de violência e de serviços de HIV/Aids nos três municípios”, contou.
A partir daí, serão realizadas oficinas em cada um dos municípios, que vão incluir “todo tipo de trabalhador tanto na saúde quanto serviços de violência contra mulher, líderes comunitários, agentes de saúde, entre outros que acolham e atendam esse público, mulheres com HIV ou em situação de violência”, segundo Lisarb.
O Conexões foi feito a partir de um edital da Secretaria Estadual de Saúde de 2012, mas que foi fechado em julho de 2014. O projeto é ligado à campanha mundial Mulheres Não Esperam (Women Won’t Wait), que existe em especial na África e na Ásia, continentes com altos índices de HIV e violência. “Formou-se uma coalizão internacional para levar à ONU a necessidade de serem construídas estratégias conjuntas para enfrentamento à Aids e enfrentamento à violência de gênero “, afirmou Télia, que também é do Comitê Internacional da Campanha.
Sul 21
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