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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Relato de uma aluna do curso de PLPs2011 de Campinas
Sou uma vítima de estupro. Sou filha de uma mulher que quase foi estuprada. Irmã de um homossexual que poderia ser agredido a qualquer momento. O que existe de comum? A incapacidade da sociedade aceitar que o respeito não é algo que se constrói, mas um direito fundamental. De que nosso corpo e nossa sexualidade dizem respeito somente a nós.
Fui a terceira estuprada em menos de uma semana em Barão Geraldo. No dia, a blusa de lã, sapatos fechados e calça jeans contradisseram ao velho discurso da "vadia" que pede por seu assédio. Para ser estuprada, basta ser mulher, independente do juízo de valor.
Assalto seguido de estupro. Fui obrigada a fazer sexo oral, o que me valeu alguns comentários dizendo que podia ser pior. Não há nada pior do que o domínio atroz de seu corpo.
Assim que saí de lá e cheguei ao meu destino inicial, havia um carro da polícia querendo impedir a festa de uma república acontecer. Carro este que chegou a passar na rua enquanto meu orgulho de ser mulher era destruído por um desconhecido. A ronda policial em Barão tem apenas um objetivo: estabelecer o toque de recolher aos estudantes para que juízes, delegados, professores universitários e empresários sintam o distrito como uma grande fazenda, sem barulho, sem nada. A segurança das pessoas está e sempre esteve em segundo plano, já não é uma novidade.
A delegacia que funciona em horário comercial (porque crimes só acontecem neste período), não pôde fazer meu B.O. Já a escrivã do quarto DP quase me convenceu de que era eu a culpada, teve de ligar no celular do delegado para confirmar se registrava estupro ou não. E a delegacia da mulher torceu para que eu arquivasse o caso.
No CAISM, mais de quinze injeções e remédios contra a AIDS que me deram efeitos colaterais por 28 dias...
A militante que eu era estava enterrada na culpa de existir, na vontade de abandonar tudo, no medo da ameaças, no "podia ser pior".
Em casa, depois de muito tentar entender meu total desânimo, fui lembrando de todos os fatos históricos que incluíram mulheres, de todas as revoluções que foram conquistadas pela participação ativa feminina. Pude alimentar ainda mais o ódio por ouvir absurdos como o do bispo Bergonzini de que o estupro só ocorre pela permissão da mulher.
Conversei com pessoas estratégicas, quem poderia me ajudar de fato e logo fiquei sabendo das mobilizações que rolavam em Barão. Soube também das discussões sobre o "coloca ou não o telefone da delegacia no panfleto", "se queremos ou não punição dos agressores". Recebi a carta da ANEL (que aliás nunca se deu ao trabalho de saber as informações verdadeiras, inventou o dia, a situação e a descreveu como bem quis, deixando claro para mim que o que importava era "fingir" que algo era feito.)
Apesar de todo o descaso da polícia, ainda são eles que possuem as condições materiais necessárias para garantir as investigações e, no mínimo impedir que determinado estuprador continue agindo.
A punição tem que ser dada, não se trata apenas de um oprimido que rouba como forma de existir num sistema capitalista, mas de um agressor ao corpo da mulher, que as coloca em risco de vida, que as oprime pelo autoritarismo independente da classe. Defender que não tenham punição é estar ao lado dos estupradores.
Só me senti verdadeiramente segura quando vi o cartaz "Mexeu com uma Mexeu com todas", porque acredito que a única forma das mulheres se defenderem da opressão e lutar por sua liberdade é se auto-organizando. E foi pela conscientização e ação política que pude me fortalecer, me reerguer, cerrar os pulsos e ter a certeza de que NINGUÉM TIRA MEU ORGULHO DE SER MULHER.
Façamos outras passeatas, nossa luta apenas começou!
Se usar a roupa que eu escolhi, andar no horário em que decidi, ou ser mulher me faz vadia. Vadia sou e exijo respeito!
Agradeço a todas as vadias que saíram nas ruas no dia 11.
Vítima número 3 do mês de julho.
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