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sábado, 31 de maio de 2014

Sala de aula traz maneiras de ensinar competências e habilidades

No dia a dia, dar aula a crianças e adolescentes exige que professores repensem práticas e seu papel; orientações ajudam a complementar aprendizagem em ambientes positivos

Exemplos reais em sala de aula nos EUA ajudam a pensar práticas pedagógicas

Por Marília Rocha

Algumas estratégias podem ajudar professores a estimular nos alunos características de curiosidade, persistência, inteligência social, entre outras. Pesquisas indicam que essas competências podem ser desenvolvidas de forma adicional ao conteúdo, e são cada vez mais necessárias para lidar com as exigências do século 21, para alunos de todas as faixas socioeconômicas. Alguns dos maiores pesquisadores sobre o tema estão contribuindo com lições para os professores no curso aberto e gratuito da plataforma Coursera.

Segundo Dave Levin, responsável pelo curso que reúne interessados de todo o mundo (EUA, China, Egito, Ucrânia e muitos outros são alguns dos países representados), há ao menos 24 características ou competências socioemocionais que cada pessoa pode ter em diferentes níveis, mas sete delas são consideradas essenciais para gerar um resultado de vida positivo e que podem ser trabalhadas no ambiente escolar: auto-controle, esperança, gratidão, perseverança, motivação, inteligência social e curiosidade.

“É possível criar instituições positivas que ajudem a identificar, usar e  desenvolver essas características nos jovens, seja em um jantar de família, em uma organização comunitária ou na sala de aula. Hoje, nosso trabalho não é mais pensar se essas habilidades interessam, mas sim: como posso ensina-las?”, diz Levin.

Com breves entrevistas junto a pesquisadores do assunto em escolas norte-americanas, Levin, que é também dirigente de escola nos EUA, busca experiências que possam ser compartilhadas. Martin Seligman, por exemplo, conta que passou anos ensinando otimismo e obtendo bons resultados com jovens.

“Não sabemos ainda se é possível incrementar a honestidade ou integridade de alguém, mas algumas habilidades podem ser estimuladas na escola, como o otimismo. E jovens mais otimistas se deixam abalar menos por erros, querem continuar tentando aprender e persistindo nas tarefas, ou seja, muitas vezes podem melhorar também a aprendizagem”, disse Seligman.

Para a pesquisadora Angela Duckworth, algumas dessas características podem, inclusive, ser inversamente proporcionais ao Q.I. e seu desenvolvimento incrementa as chances de bons resultados na vida. “Uma pessoa com alto Q.I. pode ter baixa persistência em tarefas e desistir quando comete o primeiro erro, mas se um jovem com baixo Q.I. continuar praticando, de forma consistente e interessada, pode ter resultados positivos”, analisou.

Segundo o diretor escolar Dominic Randolph, esse papel é importante para todas as escolas. “Mesmo as que são tidas como melhores, com ótima infraestrutura, ainda não oferecem um elo para conectar as diferentes partes da vida dos alunos, um senso de integridade que realmente os prepare para sobreviver no mundo volátil em que vivemos”, afirmou. Segundo ele, nas escolas tidas como mais preparadas também podem surgir alunos que sempre vão bem nas provas, têm pouca dificuldade para tirar boas notas e podem achar que a vida é algo fácil de lidar, mas quando entram no mundo adulto, desistem diante do primeiro erro que cometem.

“Podemos criar sistemas na escola que trabalhem outras características de forma paralela ao conteúdo acadêmico, criando um trabalho de efetivo crescimento dos jovens”, disse.

Pesquisador do tema, Walter Mischel também falou aos alunos do curso sobre algumas formas de desenvolver competências socioemocionais. Segundo ele, a maioria das crianças nasce com curiosidade e motivação, mas certas circunstâncias podem reduzir esse papel: se crescem no que ele chamou de “atmosfera de stress tóxico” (condições precárias de moradia, frágeis relações familiares, etc.) ou então em ambientes em que tudo é resolvido por eles e não há razão para aprenderem a se planejar ou controlar suas emoções.

De acordo com Mischel, a idade ideal para estimular o auto-controle (incluindo estabelecimento de metas e perseverança para cumpri-las), é até cinco ou seis anos. “E é importante que não pare por aí”, avaliou. “Há formas simples de se ter ótimos resultados, como quando ajudamos a criança a ter um plano de implementação, ou seja, estabelecer uma meta ou objetivo e determinar quais atitudes ela precisa ter e formas de se motivar e controlar para, a longo prazo, ter sucesso.”


Como apoiar a resiliência dos alunos na sala de aula

Existem variáveis que professor não pode controlar, mas ele pode se tornar um adulto carismático e modelar atitudes dos estudantes

27/05/14 // ESCOLA 
STEVE GARDINER

Observar uma sala de aula com estudantes trabalhando é fascinante. Sempre há os alunos que se envolvem e se concentram na tarefa e seguem adiante. Eles realizam o trabalho no tempo previsto, todas as vezes. Há outros alunos que começam a trabalhar, mas se distraem. Eles trabalham por pouco tempo e assim que o trabalho se torna difícil ou desafiador, desistem. Ou eles pedem ajuda ou se recusam a sequer tentar.

Qual é a diferença?

É uma questão de ter uma atitude resiliente. No livro The Power of Resilience (O Poder da Resiliência, em tradução livre), Robert Brooks e Sam Goldstein explicam:

Indivíduos resilientes são aqueles que têm um conjunto de pressupostos ou atitudes sobre si mesmos que influenciam seus comportamentos e as habilidades que eles desenvolvem.

Para pais e professores, a boa notícia é que atitudes podem ser mudadas.

Carisma e competência
Qualquer um que tenha sido pai de uma criança pequena ouviu suas próprias palavras repetidas pela criança e viu seus próprios atos reproduzidos através dos movimentos da criança. Assustadora como essa revelação pode ser, ela mostra o poder da modelagem no aprendizado. As crianças olham para os adultos ao seu redor procurando orientação e, bem ou mal, tomam esses comportamentos adultos como padrão, e moldam seus próprios discursos e ações com base nesses modelos.

Brooks e Goldstein referem-se a esses modelos como adultos carismáticos. Essas pessoas poderiam ser professores, administradores, treinadores, pais, irmãos mais velhos, ou amigos, mas o importante é que o aluno faz uma relação significativa com o adulto carismático. Quando isso acontece, o aluno tem um recurso quando questionamentos surgem. Ele ou ela tem um suporte quando o trabalho fica difícil ou a vida apresenta desafios.

Os adultos carismáticos podem ajudar os alunos a crescerem e aprenderem por meio do suporte e modelagem. Outra forma é através do que Brooks e Goldstein chamam de ilhas de competência. Muitas vezes os alunos não têm êxito, porque eles ainda não descobriram o que podem fazer bem. Eles tendem a colocar todas as atividades em um mesmo grupo e não conseguem enxergar como exercícios sobre um assunto podem ser diferentes de atividades sobre algum outro tema. Se um adulto carismático puder ajudar um aluno a enxergar uma ilha de competência em sua própria vida e reconhecer o sucesso nela contida, aquela sensação de sucesso pode ser transferida para outras áreas da vida, levando a mais sucessos e a um forte senso de resiliência. Apesar de as ilhas de competência poderem parecer muito claras para um adulto observador, o aluno pode não ser capaz de as enxergar em tudo. Se conscientizar sobre essas ilhas de competência é o primeiro passo para aceitá-las e construir sobre elas futuros projetos.

Senso de controle
Outro fator para dar suporte à resiliência é o conceito de controle pessoal. Conforme os estudantes desenvolvem uma compreensão sobre suas ilhas de competência, eles se sentem mais no controle. Eles sentem que podem fazer mais a respeito de suas próprias decisões e se orgulham de suas realizações. Estudantes que estão autorizados a fazer escolhas significativas a respeito de suas próprias educações são mais propensos a sentir algum controle ou propriedade sobre suas próprias vidas. Esse senso de controle é poderoso em dar apoio a uma atitude resiliente.

Dar a possibilidade de escolha para os alunos é fundamental. No livro Why We Do What We Do: Understanding Self-Motivation (Por que fazemos o que fazemos: Compreensão da auto-motivação, em tradução livre), o autor Edward Deci argumenta:

A principal questão sobre uma escolha significativa é que ela gera vontade. Ela encoraja as pessoas a endossar completamente o que estão fazendo; lhes permite sentir uma maior sensação de vontade; diminui a sua alienação.

A escolha pode ser tão simples quanto dar opções de maneiras para se realizar um trabalho ou deixar os estudantes escolherem os temas de suas tarefas. O senso de autonomia os ajuda a sentir que eles estão envolvidos. Se eles fizerem a escolha sobre qual tema vão escrever a respeito, é mais fácil para eles se engajarem e completarem o exercício sozinhos.

Em uma sala de aula, existem muitas variáveis que um professor não pode controlar, como o envolvimento dos pais, alimentação e influências químicas. No entanto, o professor pode se tornar um adulto carismático e modelar as atitudes de resiliência, identificar e comunicar ilhas de competência aos alunos, e lhes transmitir um senso de autonomia e escolha nas atividades que vão realizar. Essas dicas são simples e sem custo e podem fazer futuras tarefas serem mais tranquilas e podem manter os estudantes envolvidos durante todo processo de aprendizado.


STEVE GARDINER
Leciona inglês para alunos do ensino médio há 36 anos. É o responsável pelo jornal da escola e pelo anuário. É professor certificado pelo National Board dos Estados Unidos.

Usando o faz de conta para falar de racismo

Escola de educação infantil em São Paulo usa bonecos e um pouco de imaginação para trabalhar diversidade de um jeito nada óbvio

22/05/14 // ESCOLA 
POR MARINA LOPES

Nem loiro dos olhos azuis nem moreno dos olhos verdes. Diferente dos estereótipos presentes nas histórias de literatura infantil, o boneco Azizi Abayomi é um príncipe africano negro. Figura conhecida por alunos e professores da escola municipal de educação infantil Guia Lopes, na zona norte de São Paulo, o personagem tem sido usado para discutir questões sobre racismo e tolerância com crianças de 3 a 5 anos. Com uma dose de imaginação e um pouco de criatividade, esse e outros bonecos já fazem parte do dia a dia escolar, mostrando que racismo é coisa séria, mas que pode ser tratado de forma lúdica.

Trabalhando com a ideia de figuras de afeto, a escola utiliza bonecos para criar vínculos com os alunos. O primeiro personagem negro a ser incorporado no cotidiano da escola foi Azizi. Feito de palha e com roupas de pano, o boneco foi apresentado em 2011, como uma forma de desenvolver um projeto pedagógico que incluísse o ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo, conforme institui a lei 10.639/03.

Bonecos Azizi e Sofia são usados por escola infantil para trabalhar diversidade
Bonecos Azizi e Sofia são usados por escola infantil para trabalhar diversidade

“A gente sempre procurou trabalhar o tema diversidade com os alunos, mas era daquela forma de que se pontuava apenas o óbvio”, contou a diretora Cibele Racy. Segundo ela, durante uma reunião pedagógica com as professoras da escola, após levantar o questionamento se existia racismo entre as crianças, não foi possível chegar a uma conclusão. A partir daí, perceberam que seria necessário incluir essas discussões no ambiente escolar. “A nossa incapacidade de perceber a existência da intolerância nos levou a desenvolver esse projeto”, explicou.

Para apresentar o boneco africano aos alunos, a escola promoveu uma festa de recepção do príncipe Azizi. Em seguida, como extensão das atividades, levantou a discussão se o príncipe poderia se casar com Sofia, uma boneca branca de cabelos loiros. A partir daí, começaram a surgir os primeiros questionamentos e algumas crianças foram demonstrando o que pensavam sobre o assunto. “Nesse momento surgiram as primeiras falas de preconceito dos pequenos”, relatou a diretora.

Após a aceitação da união entre os personagens, o projeto inseriu de forma lúdica o nascimento dos filhos do casal, Dayo e Henrique, como uma maneira de falar sobre outros temas ligados à constituição de famílias, paternidade e questões de gênero. Nesse período, os alunos acompanharam a gravidez da boneca Sofia, questionaram como seriam os bebês e aprenderam o que era melanina – responsável pela pigmentação da pele. “Com esse gancho do imaginário você pode trabalhar diversos assuntos”, pontuou a diretora.

Hoje, além de Azizi, Sofia e os dois filhos do casal, já existem outros 15 bonecos na escola, entre negros, brancos, orientais e deficientes físicos. Todos foram apresentados para os alunos como crianças trazidas da África. Os personagens possuem um espaço especial reservados dentro do ambiente escolar e se revezam entre as 13 turmas da escola.


Inspirados por Madiba

Cada ano a escola desenvolve um tema central para as atividades com os bonecos. Agora os alunos estão aprendendo sobre a vida de Nelson Mandela. “As crianças inventaram que o Azizi é neto do Mandela”, contou a Cibele. Para falar sobre o líder sul-africano, a escola aproveitou os personagens estampados nas mochilas e fez um paralelo sobre quais características aqueles heróis tinham que poderiam se aplicar na vida de Madiba – como costumava ser chamado o líder da África do Sul. Com isso, eles passaram a estudar sobre o Apartheid e a luta conta a segregação.

“Nós perguntamos para eles se ainda existe separação entre brancos e negros nos dias de hoje. Eles falaram que não, pois haviam crianças negras e brancas sentadas juntas na mesma sala. No entanto, após entregar revistas e pedir para que eles recortassem a foto de cinco pessoas negras, alguns reclamaram não conseguir encontrar”, lembrou Cibele.  Segundo ela, é fundamental trabalhar esse tema na educação infantil. “Se crianças de 3, 4 ou 5 anos são capazes de verbalizar preconceitos, é porque elas já aprenderam isso antes”, apontou a diretora.

Trabalhando o tema em outras dimensões

Outra atividade realizada dentro da escola para incentivar a valorização da cultura afrodescendente é o dia da beleza. “A gente percebeu que muitas mães mandam as crianças para a escola com os cabelos presos e bem esticados. Nesse dia, nós convidados as meninas a soltarem os cabelos e assumirem a sua beleza natural”, contou. Os meninos também participam e podem fazer penteados diferentes usando gel. A data funciona como uma espécie de ação afirmativa dentro da escola. “Depois disso, as próprias mães começam a perceber de forma diferente a beleza dos filhos negros”, destacou Cibele.

“Primeiro precisamos perceber o quanto de racismo tem em nós, para depois mudar a nossa percepção de mundo”

O papel da comunidade e da família também é visto como essencial dentro das atividades propostas pela escola. Além de promover eventos e palestras sobre racismo, preconceito e influência da mídia, todas as pesquisas e temas de atividades realizadas com as crianças são enviadas para os pais. A intenção é que eles também participem do processo de aprendizagem.

Formação da equipe e busca por referências

Para trabalhar esses assuntos com os alunos, a formação de professores foi essencial. Antes de iniciar as atividades, a escola buscou referências sobre cultura africana e diversidade em diversos materiais de apoio, como os da Secretaria Municipal de Educação, da A Cor da Cultura e do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). “Nós saímos da escola para procurar coisas em outros locais”, disse a diretora. Segundo ela, há uma série de publicações literárias e materiais que subsidiam o trabalho sobre diversidade e racismo. No Ceert, por exemplo, existe um projeto voltado para a inclusão de discussões sobre questões étnicas na educação básica. “Eles nos deram uma visão diferente sobre o que a gente chamava de diversidade”, afirmou.

Em uma das atividades desenvolvidas entre os professores, foram entregues fotos dos bonecos africanos para que eles inventassem uma história de vida para cada um. Ao observar os resultados, era comum ver narrativas ligadas ao trabalho escravo, tragédias pessoais e crianças com fome. Com um trabalho de sensibilização, esses textos foram trocados em uma dinâmica com a equipe e os professores tiveram que identificar nas histórias dos seus colegas indícios que sinalizavam uma ideia negativa do continente africano. “Primeiro precisamos perceber o quanto de racismo tem em nós, para depois mudar a nossa percepção de mundo”, contou a diretora.

O Ministério da Saúde se acovarda e as mulheres sentem no útero

Por Jarid Arraes

Qualquer brasileiro que estudou história na escola sabe que nosso país é laico. Diferente de lugares como o Afeganistão, onde uma liderança religiosa tem soberania para governar com base em suas crenças, nossa legislação prevê o respeito igualitário entre todas as religiões. Mas e se você descobrisse que existe um grupo religioso no Brasil que detém poder absoluto para criar e mudar leis, impedir políticas públicas e até mesmo barrar o acesso de pessoas – especialmente aquelas com crenças divergentes – ao atendimento de saúde? Saiba que essa é a realidade atual – em pleno ano de 2014, no mesmo Brasil que você pensa que conhece.

A grande evidência disso pode ser vista hoje, quando foi publicada no Diário Oficial da União, a Portaria 437, que revoga a Portaria 415/14 – aquela que regulamentava e tornava mais acessível o aborto pelo SUS, nos casos que já eram permitidos legalmente: gravidez gerada por estupro, risco de morte para a mulher e anencefalia do feto. O Ministério da Saúde do governo Dilma simplesmente voltou atrás, num tremendo ato de covardia e ausência de compromisso com a vida de milhares de mulheres brasileiras.

Mas, afinal de contas, é ano de eleição e a bancada fundamentalista leva o país na coleira. Para o desespero das mulheres, pessoas da sigla LGBT, negros e indígenas, vivemos um governo que não se importa com Direitos Humanos e não pensa duas vezes antes de trocar a dignidade básica de seus cidadãos por votos manipulados.

Para quem compactua com essa bancada e baixa a cabeça diante de suas ameaças, a vida das mulheres não interessa. A quem sensibiliza uma adolescente que foi estuprada e sofre diariamente com o atraso da menstruação? É inadmissível que obrigar uma mulher estuprada a gerar um filho de seu agressor não seja considerado antiético e violento. As mulheres do Brasil são rebaixadas à condição de objeto, sem direito ao próprio corpo, sem socorro e sem empatia daqueles que deveriam zelar por sua cidadania. E a cena desse quadro de horror é protagonizada por uma mulher presidenta.

É difícil se convencer de que essa é a única realidade possível e aceitar a resignação que querem nos impor. Será que passou da hora de buscar mobilização nacional entre grupos das ditas minorias para que nosso Estado se lembre de sua laicidade? Esquecemos da nossa força? É preciso agir; afinal, quanto vale o nosso voto? O valor pode ser mensurado pelo número de mulheres que morrem todos os anos vítimas do aborto clandestino, em sua maioria negras e pobres, condenadas a um destino que a Bolsa Família não pode solucionar.

Quem erradica a miséria das mulheres?

Promotoria impede mudança do nome de trans

Após autorização da 1ª Vara, Ministério Público interrompe o processo. Homem que quer a mudança de nome nos registros ainda não passou por cirurgia de mudança de sexo

Por Isadora Otoni

Mesmo sem passar por cirurgia de mudança de sexo, um homem trans conseguiu autorização judicial para mudar o nome nos seus registros civis. A decisão é do dia 15 deste mês, da 1ª Vara Cível de São Miguel Paulista. Entretanto, o processo encontra-se em mãos da promotoria desde esta segunda-feira (26).

Como a ação tem apenas uma parte interessada, no caso o homem trans, o Ministério Público tem a oportunidade de recorrer. Já que a sentença foi favorável, a promotoria agora tem o prazo de até 30 dias para entrar com recurso.

A advogada Iara Matos Guimarães teme que seu cliente não consiga mudar o nome no tempo esperado. Ele, que preferiu não ser identificado, pode ter a autorização prolongada pelo Ministério Público por anos. “A promotora tem uma visão de que para mudar nome e gênero, a pessoa tem que passar por uma cirurgia”, conta a advogada.

Iara ainda explica que seu cliente tem aparência masculina, mas teme fazer uma cirurgia, mesmo que ela seja coberta pelo SUS (Sistema Único de Saúde). “A cirurgia de readequação no caso do trans masculino é muito delicada”. Entretanto, a advogada relata que, por possuir um nome feminino nos registros, ele tem dificuldades para conseguir um emprego.

Tramita nas comissões do Senado o Projeto de Lei 5002/2013, batizado de Lei João W Nery, que facilita a mudança do nome em registro civis de transexuais. Se aprovada, a proposta de autoria dos deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Érika Kokay (PT-DF) evita o transtorno de entrar na Justiça para mudar os registros. A pessoal transexual não precisará também passar por cirurgia, bastando comparecer ao cartório.

Unaids e parceiros lançam campanha de prevenção à aids durante a Copa

Lançamento global reunirá autoridades, sociedade civil e famosos em grande show em Salvador

Unaids e parceiros lançam campanha de prevenção à aids durante a Copa/ 
Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, assina bola símbolo da campanha ao lado do diretor executivo do UNAIDS, Michel Sidibé

No emblemático Teatro Castro Alves, o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/AIDS (UNAIDS)—em parceria com o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA), o Governo da Bahia, a Prefeitura de Salvador e o Ministério da Saúde—lançará no dia 9 de junho a campanha Proteja o Gol, utilizando o poder de união do futebol para mobilizar os jovens na prevenção à AIDS.

Artistas, autoridades nacionais e globais, ativistas e famosos unirão suas vozes em apoio à campanha em uma solenidade que será conduzida pelo Diretor Executivo do UNAIDS e Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas, Michel Sidibé, e pelo Ministro da Saúde, Arthur Chioro—tendo como anfitriões o Governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner, e o Prefeito da cidade de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto.

O evento também contará com a participação de Kweku e Ndaba Mandela, netos do líder sul-africano e prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela, porta-vozes da campanha. A celebração contará com um show de Mari Antunes e Babado Novo, e participação da Escola Olodum.

A campanha conta ainda com o apoio de celebridades do futebol como o jogador da seleção brasileira David Luiz; o ex-capitão da seleção alemã Michael Ballack; e o atacante Gervinho, da Costa do Marfim.

Continentes na luta contra a AIDS - Para simbolizar a união de dois continentes, uma bola da campanha partiu da África do Sul—país que sediou a Copa do Mundo da FIFA de 2010—rumo a todos os países africanos classificados para a Copa do Brasil. A turnê iniciou-se em março, quando o Presidente Jacob Zuma, da África do Sul, assinou a bola-símbolo da campanha no Estádio de Soccer City em Soweto, Joanesburgo, durante o amistoso entre o Brasil e a África do Sul. A bola foi então assinada pelos Chefes de Estado da Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gana e Nigéria.

A campanha mobilizou lideranças em países como Argentina, Equador, Guatemala, Honduras, Irã, Malásia, Mianmar e Uruguai, entre outros. O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, assinou a bola Proteja o Gol durante a reunião do Conselho de Diretores Executivos das Nações Unidas.

Proteja o Gol – A campanha Proteja o Gol é liderada pelo UNAIDS e visa mobilizar os jovens e os fãs de futebol na resposta à AIDS. A campanha promove a visão de zero nova infecção por HIV, zero discriminação e zero morte relacionada à AIDS.

Com a parceria fundamental dos governos estaduais e das municipalidades, a campanha irá distribuir mais de 2 milhões de presenvativos e 2 milhões de folhetos informativos nas 12 cidades-sede da Copa, além de disponibilizar testes rápidos gratuitos nos Fan Fests. Além das cidades-sede, também aderiram à campanha Aracaju, Porto Seguro, Ribeirão Preto e Santos, entre outras. As escolas do estado da Bahia também participam.

A Proteja o Gol é fruto de uma parceria entre o UNAIDS, UNFPA, o Ministério da Saúde, a Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, o Ministério da Saúde, o Governo da Bahia e a Prefeitura de Salvador. A campanha também conta com o apoio da Embaixada da França, da Fundação AmfAR, da Editora Abril, da Universidade UNIJORGE, da Escola Paulista de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Escola Olodum.

Empresas brasileiras firmam acordo para realizar projetos de energia renovável e igualdade de gênero

Iniciativa apoiará ações para estimular a igualdade entre homens e mulheres no interior das empresas e a contribuição da perspectiva de gênero na produção, uso e no consumo de energia renovável 

Itaipu Binacional, Eletronorte e Centro Internacional de Energias Renováveis assinaram, na tarde desta quarta-feira (28/5), acordo para desenvolver projetos de energia renovável e igualdade de gênero. A cooperação tem como objetivo dar seguimento à agenda colaborativa de trabalho para estimular a igualdade de gênero no interior das empresas e a contribuição da perspectiva de gênero na produção, uso e no consumo de energia renovável.

Dez empresas brasileiras e outras seis latino-americanas participam do 1º Encontro Regional Energia Renovável, Mobilidade Elétrica e Igualdade de Gênero, promovido pela Itaipu Binacional, ONU Mulheres e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). O evento segue até esta quinta-feira (29/5), em Foz do Iguaçu.

“Iniciamos aqui um compromisso e uma discussão com mais consistência sobre a igualdade de gênero nas empresas de energia. São corporações que movimentam a economia regional e têm impacto decisivo em negócios diretos e indiretos, no aproveitamento de talentos e na maneira como as pessoas consomem energia. Estamos falando de empresas que tornam a vida moderna viável num mundo global tanto em metrópoles como em áreas remota”, disse a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, na abertura do encontro, pela manhã.

 Empresas brasileiras firmam acordo para realizar projetos de energia renovável e igualdade de gênero/
Encontro pioneiro reúne empresas de energia, até esta quinta-feira (29/5), em Foz do Iguaçu
Foto: Ana Carolina Querino/ONU Mulheres

Gênero e energia – A igualdade entre homens e mulheres tem sido considerada pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e instrumentos de apoio como estratégia para mitigação, transferência e distribuição de tecnologias energéticas sustentáveis e limpas.

Um dos principais incentivadores é o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o qual lidera a iniciativa Energia Sustentável para Todos, com o objetivo de garantir o acesso universal aos serviços de energia moderna até 2030. São ações propostas: duplicar a quantidade de energia renovável na matriz energética, melhorar a taxa de eficiência energética e eliminar gradualmente os subsídios dos combustíveis fósseis.

Intercâmbio regional – No encontro, estão sendo expostas boas práticas, tais como o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR); o Projeto Regional Selos de Igualdade de Gênero, do PNUD; e os Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade Significa Negócios, da ONU Mulheres.

Além de Gasman, o evento tem a participação da representante da ONU Mulheres no México, Ana Guezmes; da assessora regional para o Empoderamento Econômico das Mulheres, Elizabeth Villagomez, e da gerente de Programas da ONU Mulheres Brasil Ana Carolina Querino.

Pelo Brasil, são dez empresas e instituições participantes: Furnas, Eletrobrás, Eletronuclear, Itaipu, Eletronorte, Fibra, Eletrosul, Caixa Econômica Federal, Fundação Itaiguapy e Secretaria de Manutenção Urbanística do Amapá. Dentre as demais latino-americanas, estão: Enel (Chile), Fundação YPF (Argentina), Grupo Energita Bogotá (Colômbia), Mujer Ospina (Chile), Pemex (México) e UTE (Uruguai).

ONU Mulheres faz um chamado para cidadãos e cidadãs no mundo colocarem a igualdade de gênero em foco

22.05.2014

Lançamento da campanha Pequim + 20 “Empoderar as mulheres. Empoderar a humanidade. Imagine!”
ONU Mulheres faz um chamado para cidadãos e cidadãs no mundo colocarem a igualdade de gênero em foco/
Logotipo Pequim + é inspirado na liberdade e na autonomia das mulheres

A ONU Mulheres lança hoje uma importante campanha no período prévio à comemoração do 20º aniversário da histórica 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim. Um ano de atividades em todo o mundo pretende mobilizar tanto os governos como cidadãos e cidadãs para imaginar um mundo em que a igualdade de gênero seja uma realidade e se unir a um debate mundial sobre o empoderamento das mulheres com a finalidade de empoderar a humanidade.

Os eventos estarão centrados nos avanços e nas lacunas para a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres nos 189 governos que adotaram a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim de 1995. Esta proposta visionária abre o caminho para uma plena e igualitária participação das mulheres em todos os âmbitos da vida e na tomada de decisões.

“A Plataforma de Ação de Pequim é uma promessa ainda não cumprida para as mulheres e meninas”, declara Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres. “O nosso objetivo é claro: renovar o compromisso, fortalecer a ação e incrementar os recursos para alcançar a igualdade de gênero, o empoderamento da mulher e o cumprimento dos direitos humanos das mulheres e meninas”.

A Conferência Mundial sobre a Mulher de Pequim teve a presença de 17.000 participantes e30.000 pessoas assistiram ao fórum de ONGs. Em 2015, as Nações Unidas avaliarão o processo nos últimos 20 anos na aplicação da Plataforma de Ação de Pequim, baseando-se nos relatórios nacionais que estão sendo preparados pelos Estados-membros da ONU.

A campanha se iniciará com um twitaço global durante um dia. São grupos participantes da ação: ONU, Lean In, Associação Cristã Feminina Mundial, Associação Mundial das Guías Scouts, Half the Sky, Lobby Europeu das Mulheress, Centro de Mulheres e Mídia, Devex e outras e outros especialistas regionais e nacionais.

A ONU Mulheres apresentará um centro de informação mundial que contará com várias declarações e testemunhos de pessoas sobre as suas experiências pessoais referentes aos avanços de direitos, celebridades defensoras da causa, assim como um calendário para acompanhar os acontecimentos de Pequim +20. A plataforma web HeforShe (EleporEla) mostrará homens com destaque que atuam para POR fim À violência contra as mulheres e PARA fomentar a igualdade. A ONU Mulheres apoiará a participação através da sua rede de escritórios nacionais e apresentará uma aplicação interativa para o facebook chamada “Cerremos la brecha junt@s” (Fechemos a brecha junt@s).

“O aniversário se comemora num momento histórico”, assinala Mlambo-Ngcuka, da ONU Mulheres, “pois os países de todo o mundo combinam esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em 2015 e definir um novo marco para o desenvolvimento mundial. Temos que aproveitar essa oportunidade única nessa geração para colocar de forma firme a igualdade de gênero, os direitos e o empoderamento das mulheres entre as prioridades da agenda mundial e fazer com que isso seja uma realidade”.

Durante a campanha estão planejados vários acontecimentos relevantes em todo o mundo. No mês de junho, dezenas de milhares de pessoas se reunirão na Suécia para promover a proteção dos direitos humanos das mulheres e meninas. Na Conferência sobre o Clima, em setembro, em Nova Iorque, outro acontecimento reunirá Chefas de Estado e ativistas. Em novembro, na Índia, homens e meninas demonstração seu apoio em favor da igualdade de gênero.

A comemoração formal do 20º aniversário acontecerá durante o 59º período de sessões da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher e o Dia Internacional da Mulher de 2015, os quais serão dedicados a Pequim + 20. Também está programada, para setembro de 2015, uma reunião de alto nível para a adoção de compromissos.

Durante as duas últimas décadas ocorreram progressos importantes nos direitos jurídicos, avanços na educação e na participação de mulheres na vida pública. Contudo, ainda há muito por fazer para acabar com a desigualdade de gênero nos salários e nas oportunidades, a baixa representação de mulheres nos cargos de liderança tanto no setor público como no privado, o casamento infantil e a desenfreada violência e outras violações que acometem mulheres e meninas.

“Faço hoje um chamado a todos e todas no mundo para que sejam parte da solução”, destaca Mlambo-Ngcuka. “Imagine. Juntas e juntos podemos alcançar a promessa de Pequim: igualdade entre mulheres e homens”.

"Naquele momento, só queria morrer", conta mulher mutilada

A mutilação genital feminina é uma prática ainda vigente em 29 países do mundo; 150 milhões de mulheres têm a vagina mutilada e, segundo a ONU, até 2030, outras 86 milhões podem ser cortadas
Ana Lis Soares

Mais de 150 milhões de mulheres vivas em todo o mundo foram mutiladas e outras 86 milhões podem sofrer a prática até 2030, segundo a ONU
Foto: Arquivo Fundação Flor do Deserto / Divulgação

"Quando eu tinha 13 anos, alguns vizinhos vieram em nossa casa e me forçaram a deitar no chão. Em seguida, seguraram minhas pernas abertas e uma mulher velha cortou minha genitália: meu clitóris, os lábios interior e exterior e, depois disso, minha vagina foi costurada. Foi a pior dor que eu já senti na vida e, naquele momento, eu só queria morrer. Desde este dia cruel, tive grandes problemas para urinar, sentia dores terríveis quando menstruava e, por diversas vezes, pensei que nunca poderia ter uma relação sexual com um homem. Nem que poderia ser mãe". Este é o depoimento de Inab Abduliah, de 19 anos, nascida em Ali Sabieh, Djibouti, na África, concedido com exclusividade pela Fundação Flor do Deserto (Desert Flower Foundation) ao Terra, sobre o dia em que ela teve sua genitália mutilada e as consequências sofridas por ela ao longo de mais de sete anos.

Poderia ser um roteiro de filme de horror, mas é realidade de mais de 150 milhões de mulheres vivas em todo o mundo. Todas elas, mutiladas. Tiveram o corpo e o direito ao prazer cortados por facas, cacos de vidro ou lâminas caseiras. Sem anestesia. E sem consentimento.

"Eles nos levaram – a mim e outras meninas – e cortaram-nos uma a uma. Foi um verdadeiro trabalho de açougueiro. O sangue estava por toda parte. Eu quase morri de dor e por causa do forte sangramento e, desde este dia, sofria de inflamações e dores terríveis quando precisava ir ao banheiro. Eu tinha apenas 5 anos de idade", relatou Senait Demisse, 28 anos, de Nazareth, Etiópia, África.

O que é FGM
A mutilação genital feminina (FGM, na sigla em inglês) é uma prática em que parte ou todo o órgão sexual de mulheres e crianças é removido. A chamada infibulação consiste na costura dos lábios vaginais ou do clitóris, feita com pontos ou espinhos; nestes casos, é deixada apenas uma abertura pequena para urina e menstruação, assim como ocorreu com a africana Inab Abduliah. Segundo dados da ONU, pelo menos 15% das meninas mutiladas na África passaram por uma infibulação.

A menina Safa, ainda criança, durante gravações do filme "Flor do deserto"
Foto: Arquivo Fundação Flor do Deserto / Divulgação

Os casos de mutilação estão concentrados na África (com 28 países praticantes) e no Oriente Médio, mas também há praticantes na Ásia e em comunidades imigrantes na Europa, América do Norte e Austrália. Num estudo realizado pela ONU, descobriu-se que a Europa é moradia de mais de 500 mil meninas mutiladas.

O fim da prática da mutilação genital é uma das metas da ONU em relação à violência contra a mulher. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou que não há nenhuma razão religiosa, de saúde ou de desenvolvimento para mutilar ou cortar uma mulher. Segundo estimativas da organização, 86 milhões de meninas serão mutiladas até 2030, apesar de ser considerada ilegal. O dia 6 de fevereiro foi escolhido como Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, celebrado para denunciar a prática.

"A FGM não é considerada como algo legítimo internacionalmente, por ser violenta, agredir os direitos sexuais das mulheres e não permitir que usufruam do próprio corpo. Inclusive é ilegal em países onde é praticada, como no Egito. Mas há grupos que seguem culturas e religiões nas quais é exercida pelas famílias: muitas vezes pela avó e mães; as meninas que sofrem são muito jovens. É algo que funciona em núcleos familiares e, portanto, levado por diversas gerações", explica o cientista político e assessor de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil, Maurício Santoro.  

Mariam Coulibaly exibe as ferramentas que utilizava para realizar a mutilação de meninas em seu país: uma faca que era de sua mãe e ervas, para curar as feridas, em Salemata, sudeste do Senegal, em janeiro de 2003
Foto: AP

A mutilação pode provocar diversos problemas para as vítimas: infecções crônicas, sangramento intermitente, dores na relação sexual, pequenos tumores benignos em nervos, pedras na vesícula e uretra, danos aos rins, infertilidade, entre outros. Em relação às consequências psicológicas, a FGM pode causar ansiedade, medo e sentimentos de humilhação, vergonha e revolta.

Proibida, porém prevalente, a mutilação da genitália feminina chega a ser praticada em 99% das mulheres em países como Djibuti e Somália, na África. As justificativas apontadas são muitas: as famílias acreditam que, mutiladas, as filhas poderão se casar com homens "melhores", que não as aceitariam não-circuncisadas. Isto porque algumas culturas acreditam que os órgãos femininos são impuros e a prática traz higiene. Com a retirada do clitóris, também acreditam que as possibilidades de acontecerem relações sexuais extraconjugais são diminuídas.

Vida livre e reconstruída

Safa e Inab em Djibouti, África, onde a Fundação possui projetos para evitar que novas meninas sejam mutiladas; no país, a prática atinge quase 99% das mulheres
Foto: Arquivo Fundação Flor do Deserto / Divulgação

"As mulheres sofrem mutilação física e psicológica. Então, o sentimento é sempre de muita vergonha. Quando migram para outros países e percebem que não é certo sentir dor em relação sexual, descobrem que foram vítimas de mutilação criminosa, portanto podem optar pela reconstrução da vagina. Mas esta decisão é sempre acompanhada de muitos sentimentos conflitantes, pois é difícil perceber o crime numa tradição e ensinamentos arraigados há gerações e gerações", conta a médica cirurgiã Beatriz Lassance, que trabalhou em Amsterdã, no departamento de cirurgia plástica Onze Lieve Vrouwe Gasthuis, com o médico Refaat Karim, referência em cirurgia ginecológica de reconstrução.

Beatriz participou da operação de várias meninas africanas mutiladas. "O clitóris é um órgão retrátil e, por isso, a amputação é sempre parcial, o que permite a exposição e reposicionamento com cirurgia. Já as estruturas externas são reconstruídas com tecidos adjacentes por enxerto ou retalhos de pele", explica.

Porém, segundo a médica, as meninas devem passar por intenso trabalho psicológico, sendo esclarecidas e preparadas para as mudanças que a "liberdade" trará antes de realizar o procedimento. "Existe um conflito interno. Mas é visível que, após a cirurgia, elas se sentem mais mulheres", afirma.

As flores do deserto
A Desert Flower Foundation (Fundação Flor do Deserto) foi fundada no início dos anos 2000 pela ex-top model somaliana Waris Dirie. Assim como 99% das meninas de seu país, Dirie também passou por mutilação genital quando tinha apenas 5 anos. "Aquele dia mudou minha vida para sempre. Depois que me senti um pouco melhor, eu sabia, mesmo sendo uma garotinha, que aquilo foi errado e que iria lutar contra este crime brutal, mesmo sem saber quando, onde e como", diz Dirie.

Aos 13 anos, a ex-modelo fugiu da pequena comunidade em que vivia, na Sómalia, por causa de um casamento forçado - ela foi vendida pela família em troca de cinco camelos a um homem que teria idade para ser seu avô.  Chegando a Londres, trabalhou como faxineira na Embaixada da Somália e no Mc'Donalds, sendo descoberta aos 18 anos pelo fotógrafo Terrence Donovan.

Waris Dirie foi convidada a ser embaixadora especial da ONU contra a prática de mutilação de meninas
Foto: Arquivo Fundação Flor do Deserto / Divulgação

Em uma entrevista à revista Marie Claire, Waris contou sua história, começando, assim, a realizar sua promessa de lutar contra a prática. Em 1996, Waris foi convidada para ser Embaixadora da ONU contra a FGM. Viajando pelo mundo em campanha, reuniu-se com ex-presidentes como Bill Clinton e Michael Gorbachev e ministrou diversas palestras em congressos.

Em 2002, a ex-modelo abriu sua própria fundação - Waris Dirie Foundation - com sede em Viena, na Áustria, para apoiar seu trabalho como ativista. Em 2010, a Fundação foi renomeada como "Desert Flower", e hoje faz trabalhos em comunidades africanas, além de atender mulheres na Alemanha e possuir um curso de preparação de médicos para a cirurgia de reconstrução na Holanda com o Dr. Refaat Karim.

"As mulheres jovens, principalmente, sentem que foram vítimas de um crime. Elas sentem que algo lhes foi tirado quando eram crianças. As mais idosas defendem a prática, pois acreditam que isto faz parte de sua cultura ou religião", conta o diretor da Fundação Flor do Deserto, Walter Lutschinger, que é otimista em relação ao futuro dessas meninas.

Lutschinger acredita que o fim da mutilação está mais próximo do que nunca. "Graças às leis contra a FGM em quase todos os países, inúmeras campanhas, milhares de relatórios divulgados pela mídia, muitas meninas puderam e poderão ser salvas. Nós realmente acreditamos que esse crime vai acabar neste século", afirma.

Inab e Senait com a médica cirurgiã, Cornelia Strunz, após o procedimento cirúrgico em Berlim
Foto: Arquivo Fundação Flor do Deserto / Divulgação

Em alguns anos de trabalho, a Fundação já recebeu e-mails de mais de 120 mil mulheres que gostariam de "renascer", fazendo uma operação de reconstrução e, até mesmo, trabalhando para evitar que outras mulheres sejam mutiladas.

Como é o caso de Senait Demisse, que passou mais de 20 anos sofrendo de dores, operada recentemente pela Fundação Flor do Deserto, na Alemanha. Ela diz que agora se sente livre e que se casará em breve. "Eu contei para minhas amigas sobre a cirurgia e agora todas querem vir para Berlim fazer", afirma. 

Inab Abduliah também foi operada este ano. "Fiquei sabendo sobre o trabalho da Fundação e, após uma conversa, voei a Berlim por conta deles e concordei imediatamente em operar. Agora, minha vida é normal e me sinto uma mulher completa", contou.

Hoje, a africana trabalha para a Flor do Deserto em seu país, Djibouti. "Trabalho para proteger minhas duas irmãs pequenas e outras garotas da tortura brutal", a que são submetidas mais de 90% das mulheres de seu país, conta a jovem.  

Violência: nascer mulher define existência social, diz ONU

Dados da ONU mostram que 7 em cada 10 mulheres são ou serão vítimas de violência. O sequestro de mais de 200 meninas na Nigéria em abril deu força ao debate em torno do tema; afinal, por que - e como - ser mulher define o futuro e a vida de milhares de pessoas?

Ana Lis Soares

Vídeo divulgado pelo grupo islamita Boko Haram revela situação de jovens sequestradas na Nigéria vestindo hijab, tendo sido obrigadas a se converter ao islamismo 
Foto: AFP

A imagem é a seguinte: mais de duzentas meninas e jovens com o corpo coberto por roupas escuras e olhos descobertos, cheios de medo e certa resignação. O cenário ao fundo é uma paisagem arborizada ilustrando aquilo que poderia ser um "quadro do terror", mas é a realidade. A realidade dessas e de outras milhões de mulheres no mundo inteiro. 

As jovens cristãs foram sequestradas em uma pequena cidade do interior da Nigéria em abril, pelo grupo terrorista islâmico Boko Haram, obrigadas a se converterem ao islamismo e (possivelmente) à inércia de serem vendidas como escravas. Elas foram raptadas de suas casas, tiradas de suas famílias e privadas de suas próprias vidas por cometeram um “crime fatal”: elas estudavam. Mais do que isso, participavam da vida social.

“Nascer mulher tem definido a vida e a existência social do gênero feminino. Por isso, a ONU Mulheres trabalha e coloca todo o seu esforço em favor dos direitos e da liberdade de mulheres e meninas em todo o mundo”, afirma a porta-voz da instituição, Nadine Gasman.
A violência contra mulheres é uma construção social e resultado da desigualdade de força nas relações de poder entre homens e mulheres e reproduzida pela sociedade
Foto: Getty Images

Após o primeiro mês de sequestro sem nenhuma negociação à vista (já que o Boko Haram exige a liberdade de prisioneiros), não há boas previsões do futuro das meninas nigerianas. “O caso ali é de escravidão e estupro, algo que acontece de forma comum em vários países”, relata o cientista político e assessor de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil, Maurício Santoro. 

“Há muitas redes de exploração sexual que levam mulheres do leste da Europa para o oeste. Também há casos de sequestros, como nos Países do Golfo Pérsico, onde mulheres e meninas são sequestradas e levadas para países como Catar, Emirados Árabes e, em situação precária, acabam servindo como mão-de-obra escrava”, completa.

Como no caso noticiado pela imprensa britânica, em 21 de maio, de uma jovem das Filipinas de 23 anos (que não teve o nome revelado), queimada com água fervente e espancada pelos patrões na Arábia Saudita, que admitiram a violência, por ter demorado a fazer um café.  

A "culpa" de ser mulher
São tantos os crimes que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considera a violência contra a mulher como uma das violações de direitos humanos mais presentes no mundo e sua total eliminação é meta da campanha “Una-se pelo fim da violência contra as mulheres”.

Nalia Raza, 17 anos, foi vítima de violência com ácido em Islamabad, Paquistão em 10 de junho de 2007, tendo de passar por uma cirurgia ocular. Raza foi queimada por ter rejeitado abusos sexuais de seu professor da escola, em uma pequena aldeia no sul do Punjab
Foto: Getty Images

O quadro é desconcertante: segundo dados das Nações Unidas, 70% de todas as mulheres do mundo já sofreram ou sofrerão algum tipo de violência em, pelo menos, um momento de suas vidas – independente de nacionalidade, cultura, religião ou condição social.  De acordo com um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2013, a cada noventa minutos, uma brasileira é vítima de violência.

"Ela é feita para apanhar/Ela é boa de cuspir"
São muitas as "Genis" em nosso mundo, como cantou Chico Buarque na famosa canção "Geni e o Zepelim". Segundo dados da ONU, pelo menos cinco mil mulheres morrem por ano apenas por terem, supostamente, cometido "crimes" como adultério, relações sexuais e gravidez fora do casamento.

"Mulheres estupradas são mortas por terem 'tido relações sexuais fora do casamento'. Há também centenas de mortas acusadas de bruxaria ou por serem homossexuais. Vítimas de uma sociedade por saírem de determinada conduta ou quebrarem um tabu cultural", explica o cientista político da Anistia Internacional, Maurício Santoro.

No Paquistão, existe, inclusive, um termo usado para aquelas que têm rostos desfigurados por ácido: "crimes de cozinha". Também neste país, é comum que tais vítimas sejam mortas em praça pública por machadadas.

O filme-documentário "Banaz: A Love Story", de 2012, dirigido por Deeyah Khan, trouxe à tona um caso de crime de honra que chocou o mundo: a curda Banaz Mahmod, de 20 anos, foi estrangulada em janeiro de 2006 no sul de Londres pelo pai e o tio, Mahmod Mahmod e Ari Mahmod, por ter se apaixonado por um homem, que não era aquele para quem estava "prometida". 

Casamento: um bom negócio para eles
Em abril deste ano, o nepalês Farid Sheikh colocou fogo na mulher de 25 anos, que estava grávida de sete meses, para obter da família dela uma moto e alguns búfalos como dote. Sheikh teria agido com a ajuda de seus pais. A vítima perdeu o filho e ficou com graves queimaduras por todo o corpo. Ele e seus pais fugiram.

O caso mostra um cenário bastante comum em países da Ásia e do Oriente Médio: o chamado crime por dote, uma prática proibida por Lei na maioria dos locais onde ainda acontece.

Nestes crimes, elas são mortas por problemas relacionados à quantia de dinheiro ou bens que devem ser pagos pela família da noiva à família do futuro marido – que, aliás, estão cada vez mais caros. Relatos de pagamentos com imóveis, joias e automóveis não são incomuns.

A Organização Mundial da Saúde diz que 25 mil noivas recém-casadas são mutiladas ou mortas, a cada ano, por crimes de dote: uma mulher assassinada pela família de seu noivo a cada hora. 

Meninas prometidas
Na próxima década, mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados, segundo estudos da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Desprovidas de direitos, as menores de idade ficam à mercê do abuso sexual e da escravidão doméstica.

Foto premiada mostra a realidade dos casamentos forçados entre meninas e homens adultos: a menina Ghullam foi vendida ao seu marido, mais de 30 anos mais velho que ela
Foto: Unicef / Reprodução

A pobreza é um dos principais incentivadores do casamento de crianças, vendidas pela família em troca de dinheiro ou bens. Na África Subsaariana, a taxa de meninas casadas chega a 39%.

Além de questões depredativas psicológica e física, o casamento infantil também é apontado como entrave para o progresso de países em desenvolvimento, atrapalhando na redução da mortalidade infantil e materna, no combate ao HIV/Aids e na educação primária universal. Nos países onde ocorre, uma em cada sete mulheres se casam antes dos 15 anos.

"Indicadores sociais da Índia são piores que de Bangladesh, país mais pobre. Isto acontece porque a Índia é tão retrógrada em relação à mulher, que impede cerca da metade da população de se envolver no mercado. Assim, sociedade, economia e política são prejudicadas", afirma Maurício Santoro. 

Num combate à prática, a Unicef premiou em 2007, como Foto do ano, a imagem de um afegão de 40 anos casado com a menina Ghulam, de 11 anos. A família de Ghulam a vendeu para poder comprar alimentos a outros filhos. 

Educação, direitos e engajamento
A violência de gênero é abominável em qualquer que seja o ato. Neste mês de maio, a ONU Mulheres está lançando uma mobilização global para o empoderamento das mulheres e meninas dentro das comemorações de Pequim +20 (marca o 20º aniversário da histórica Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim em 1995). "O objetivo é reforçar os compromissos dos países e das sociedades em torno da igualdade de gênero", explica a porta-voz Nadine.

A violência contra mulheres na América Latina foi apontada como preocupação pela ONU, especialmente em países como a Guatemala, que apresenta altos índices de casos entre pessoas não-íntimas
Foto: Getty Images

A violência contra mulheres é uma construção social e resultado da desigualdade de força nas relações de poder entre homens e mulheres e reproduzida pela sociedade. No Brasil, por exemplo, criamos uma das leis mais avançadas de proteção à mulher, a Lei Maria da Penha. Então, é possível acreditar num futuro melhor para as mulheres?

"Acho que o assunto é claro: ser mulher ainda é muito difícil. Há dificuldade na participação da vida pública, em empresas privadas. Há discriminação – especialmente entre mulheres participantes de grupos minoritários: negras, indígenas, de zonas rurais, etc", diz Maurício Santoro. Porém, Santoro acredita no combate à violência que derrama tanto sangue no mundo.

"Na Anistia [Internacional], usamos uma expressão: ‘direitos humanos internacionalmente reconhecidos’. São tratados e acordos tomados por muitos países. Portanto, existe um futuro, uma resposta que passa por leis, por engajamento, pela educação. Por isso, trabalhamos com isso, com conhecimento, com direitos. Eu daria como exemplo, a Malala, uma menina do Paquistão que levou um tiro na cabeça por lutar por seus direitos, graças ao que apreendeu pela educação que recebia dos pais. Acho que isso demonstra como a família faz a diferença", conclui Santoro.

Violência contra mulher

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Feminicídio íntimo

Crime cometido por um marido, namorado ou ex-parceiro. A OMS e a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres descobriram que mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Em comparação, o mesmo estudo estima que apenas 5% dos assassinatos de homens são cometidos por uma parceira.
Os casos de feminicídio íntimo têm crescido nos últimos anos entre as grávidas, segundo relatos de polícia e registros médicos coletados pela OMS.

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Crimes em nome da “honra”

“Crimes de honra” são assassinatos de meninas ou mulheres a mando da própria família, por alguma suspeita ou caso de transgressão sexual (quebra de regras e/ou tabus) ou de comportamento, tais como adultério, relações sexuais ou gravidez fora do casamento – ou mesmo, se a mulher for estuprada.
O crime é praticado para não “manchar o nome da família”.
A ONU estima que, no mínimo, 5 mil mulheres são mortas por crimes de honra no mundo por ano. Os assassinatos ocorrem de diversas formas, como por armas de fogo, facadas e estrangulamentos; também sendo comuns que as mulheres sejam mortas queimadas, apedrejadas, obrigadas a tomar venenos e jogadas pela janela.


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Casamento forçado

Mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados durante a próxima década, segundo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Estes casamentos ocorrem em todo o mundo, mas são mais comuns no Sul da Ásia e em zonas da África Subsaariana, atingindo 65% de meninas em Bangladesh, 48% na Índia e 76% no Níger, por exemplo.
As menores casadas têm pouca ou nenhuma escolaridade e, portanto, poucas oportunidades de educação, limitando sua capacidade para ingressar no mercado de trabalho e ter um rendimento independente.
O casamento arranjado costuma ocorrer por “proteção da virgindade”, “honra da família”, além de “proteção e segurança econômica” – sendo a pobreza um dos principais fatores. Muitas vezes, as mulheres são trocadas por animais (como camelos) e dívidas.

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Feminicídio relacionado ao dote

É mais evidente no continente indiano, onde ainda há o costume do dote (quantia de bens ou dinheiro oferecida ao noivo pela família da noiva, para acertar o casamento).
Geralmente, ocorre com mulheres recém-casadas que são mortas por sogros por esse motivo.
Algumas instituições calculam que 25 mil mulheres recém-casadas são mortas ou mutiladas a cada ano, como resultado da violência relacionada ao dote. Neste caso, grande parte das mulheres tem o corpo incendiado.
De acordo com o estudo Global Burden of Disease, realizado pela OMS, edição 2012, as queimaduras são a 7ª causa mais comum de morte entre as mulheres com idades entre 15 e 44 anos em todo o mundo. Na região sudeste da Ásia, o fogo foi a 3ª causa mais comum dessas morte.

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Feminicídio não-íntimo

Crime é cometido por alguém que não tenha relacionamento íntimo com a mulher. A região da América Latina é uma das mais conturbadas por crimes como este: estupros, assédios e assassinatos, por discriminação de gênero. Pelo menos 400 mulheres foram brutalmente assassinadas na década passada, em Ciudad Juárez, na fronteira do México com os EUA, por exemplo. Em 2008, mais de 700 mulheres foram assassinadas na Guatemala. Muitos desses assassinatos foram precedidos por abuso sexual brutal e tortura.

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Mutilação genital feminina

Embora ocorra em vários países, principalmente no continente africano, a mutilação genital feminina (FGM, na sigla em inglês) não é considerada internacionalmente como algo legítimo, por ser muito violenta e agredir os direitos sexuais das mulheres. Porém, mesmo ilegal, é praticada em diversos países como no Egito, sendo perpetuado por grupos que seguem determinadas culturas e religiões. É uma prática exercida pelas próprias famílias, como avó e mães.
Mais de 135 milhões de meninas e mulheres vivas já foram cortadas nos 29 países da África e Oriente Médio, onde a prática está concentrada. A ONU estima que até 2030 mais de 86 milhões de meninas ainda serão mutiladas. Em média, 6 mil mulheres por dia sofrem mutilação genital.
Em alguns países, como a Somália, a incidência de mulheres que sofrem mutilação é de 99%. A média de idade varia de um local ao outro, mas pode ocorrer logo após o nascimento. Há vários tipos de mutilação, desde a remoção do clitóris até dos grandes lábios. Em casos extremos, a vagina da vítima é inteira costurada.


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Formas de combate

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considera a violência contra mulheres uma das violações de direitos humanos mais presentes no mundo. A Organização possui uma campanha chamada “Una-se pelo fim da violência contra as mulheres”.
Além dos direitos humanos e da educação, a OMS cita seis maneiras de combate ao feminicídio. São elas:
• Reforçar a vigilância e rastreio de violência por parceiros íntimos: trabalho de cooperação entre polícia, médicos e agências, com objetivo de coletar e relatar com mais detalhes a relação vítima-infrator e a motivação para o homicídio
• Capacitar e sensibilizar profissionais de saúde: em alguns locais, como nos EUA, estudos têm mostrado que grande parte das mulheres acessa os serviços de saúde (por causas de violência) no ano anterior ao de ser morta pelos parceiros
• Capacitar e sensibilizar policiais: junto de entidades de proteção às crianças, a polícia é o principal serviço que pode dar suporte às menores afetadas pelo feminicídio
• Aumentar a prevenção e pesquisa de intervenção: segundo a OMS, esta é a melhor maneira de reduzir o feminicídio no mundo, pois intimida a violência de parceiros. Entender como os crimes acontecem torna o trabalho de prevenção mais fácil
• Reduzir a posse de armas e fortalecer as leis sobre armas: o risco de morte entre as mulheres vítimas do feminicídio cresce três vezes quando existe uma arma em casa
• Reforçar a vigilância, investigação, leis e consciência de assassinato em nome da "honra": advogados têm relatado sucesso na sensibilização destes crimes por meio da coleta e análise de dados, processos e decisões judiciais, utilizando como referência os direitos humanos internacionais – instrumentos relevantes para a proteção de direitos das mulheres
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