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domingo, 11 de maio de 2014

'Desarmadas e de vestido', grávidas da PM adotam nova rotina de trabalho

Com a gestação, policiais deixam as ruas para atuar administrativamente.
Quatro mil mulheres fazem parte do efetivo da Polícia Militar na Bahia.

Ruan Melo
Do G1 BA

Tenente Alessandra Paula e soldado Lílian Saraiva (Foto: Ruan Melo/ G1)
Tenente Alessandra Paula e soldado Lílian Saraiva (Foto: Ruan Melo/ G1)
De vestido e exibindo os seus barrigões de seis e quatro meses de gravidez, a tenente Alessandra Paula e a soldado Lílian Saraiva trabalham normalmente dentro dos seus batalhões. Policiais militares, elas chamam a atenção das pessoas acostumadas à imagem da policial armada, sempre trajando colete e algemas.
Segundo a Polícia Militar, ao revelarem a gravidez ao comando, as PMs deixam de exercer o trabalho de campo e passam a executar atividades administrativas. As policais também mudam a farda e trabalham desarmadas. Com a mudança, que visa preservar mãe e filho, as novas mamães contam que têm dificuldade em se habituar a nova rotina.
"A questão de horário para cumprir é difícil, o sono aumenta. Eu pego 7h e saio 18h, um dia sim, um dia não. Como trabalho no almoxarifado, tenho que ficar no computador, e fico com tanto sono", relata a soldado Lílian Saraiva, grávida de seis meses do seu primeiro filho. "Tem sono e a questão da alimentação também, que a gente tem que ter um cuidado maior", acrescenta a tenente Alessandra Paula, com seu barrigão de quatro meses.
A Polícia Militar promove nesta sexta-feira (9) uma série de ações em homenagem ao Dia das Mães. No auditório do Centro Maria Felipe, localizado na Vila Policial Militar do Bonfim, na Avenid Dendezeiros, em Salvador, haverá a realização de palestras ao longo do dia.
Com a nova realidade proporcionada pela gravidez, o cuidado com a segurança também passou a ser rodobrado pelas PMS. "Minha preocupação não é nem na gravidez, é depois. Vou ter outra vida para cuidar, ter que me preocupar mais com a segurança. Eu trabalho em Pirajá, em uma área mais perigosa. Meu sentimento agora é só não ficar me estressando", espera a tenente.
PM promoveu palestra especial para o Dia das Mães (Foto: Ruan Melo/ G1)PM promoveu palestra especial para o Dia dasMães em Salvador (Foto: Ruan Melo/ G1)
Já a soldado Lílian conta que após a gravidez pretende deixar de trabalhar nas ruas. "A preocupação com a gente tem que aumentar. Sair do administrativo, ir para a rua é difícil. Penso em fazer concurso depois, mudar de setor na polícia".
Trabalho e preconceito
De acordo com a Polícia Militar, atualmente, 4 mil mulheres fazem parte do efetivo da PM na Bahia, que conta com um universo de 32 mil homens. Em um ambiente majoritariamente masculino, as policiais contam que ainda sofrem com preconceito, seja dentro da própria corporação ou nas ruas.
"Na corporação, algumas pessoas acham que a mulher não tem capacidade de exercer determinado cargo, que temos que trabalhar no setor administrativo. Já ouvi relatos de colegas que disseram que o comandante não aceitava mulher na viatura. É uma coisa histórica, difícil de ser acabada", opina a capitã Edilânia.
Segundo a capitã, nas ruas, muitas vezes o preconceito parte das próprias mulheres. "Nossos maiores problemas são com as mulheres. Uma vez eu estava em uma situação e a mulher veio perguntar quem estava à frente. Eu disse que era eu, mas ela não acreditou e foi procurar um outro colega. Acho que elas pensam que nós queremos ser melhores", opina.
Mesmo com os problemas, a tenente Alessandra conta que prefere não se importar. "Talvez as mulheres pensem isso porque acham que nós somos iguais a elas e não vamos resolver os problemas. Mas eu vejo isso como uma forma inusitada, não fico chateada. Procuro administrar da melhor maneira possível porque é uma questão cultural".
Em meio aos casos de machismo, as policiais acreditam que as mulheres têm uma forma diferente dos homens de lidar com a situação. "Acho que a mulher tem mais percepção da situação. Tem muitos colegas que chegam naquela vontade de resolver logo e não param para ver a situação de um modo geral", acredita a soldado Lílian. "Têm até colegas que me falam que preferem trabalhar comigo a trabalhar com determinador homens", acrescenta.
Cantadas
Mas não é somente com o machismo e preconceito que as policiais têm que lidar no trabalho diário. Há ainda os "engraçadinhos", que aproveitam a situação em que estão sozinhas no horário de trabalho para tentar "conquistar" as PMs.

"Trabalhei muito tempo no Centro Histórico e todo serviço meu tinha problema com isso, com os 'gaiatos' na rua. Na verdade, quando eles se dirigem a você não estão desrespeitando apenas você, mas a farda, o estado. É uma forma de desacato. Uma vez eu estava trabalhando na véspera de natal, sozinha, e aí passaram três pessoas e disseram 'poxa, que PFEM (policial feminina) gostosa', nesse termo mesmo. Aí eu passei o rádio para o colega, que segurou eles. Levei para a delegacia, registrei a ocorrência e fui até o final. Eles acabaram pagando cesta básica e prestando serviço comunitário", lembra.

"A depender do caso a gente leva na esportiva, não agride. Mas têm uns que se excedem e nós temos que tomar outro tipo de atitude", conta a tenente Alessandra.

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