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domingo, 4 de maio de 2014

Carta aos amigos do planeta internet

por Carol Mendes

Queridos amigos do planeta internet,

Hoje, eu vi um monte de gente aderindo à “campanha” do somos todos macacos. Já entendi a intenção de todo mundo, ninguém é racista, todo mundo humanista, fã de frase atribuída ao Morgan Freeman e de nosso eterno amigo pacifista (sqn) Nelson Mandela, ou Madiba, para os mais íntimos que tanto choraram sua morte. Entendemos o seu ponto de vista, anotado.

Agora, gostaria de convidar especialmente aqueles que estão chamando o pessoal do movimento negro de radical e tentando calar essas vozes com este argumento, a refletir comigo sobre os pontos abaixo:

1) O racismo é institucional, ou seja, ele está ligado à formação do Estado como conhecemos. E nós aqui embaixo de uma estrutura racista reproduzimos ideologias racistas e perpetuamos formas racistas de dominação. Aconteceu, todo mundo criado aqui nesta sociedade, nesta época, não deu para evitar. Foi assim.

2) Por ser institucional, o racismo mata, porque o Estado democrático liberal não garante cidadania para todos (é, gente. Não. Alguém sempre tem mais direitos). No Brasil, com esta disparidade social absurda, que tem raízes na escravidão, mata o DG, bailarino da Regina Cazé, a Claudia, e todo mundo que aparece todo dia no jornal. Todos pretos e pobres. A coisa mais perigosa hoje neste país é ser homem, preto e pobre. Você corre risco de morte se for os três ao mesmo tempo, apenas por existir.

3) O racismo é uma forma de exploração aviltante do ser humano, porque alguém está ficando mais pobre e alguém mais rico. Aqui entra desde a formação do nosso capitalismo, com o trabalhador escravo, que produziu riqueza, até o apresentador de TV que anda vendendo umas camisetas nonsense às custas do sofrimento alheio. Então, vejam, é muita gente mesmo.

4) A Vila Internet amplia a voz das pessoas. Quando elas falam em uníssono, nem se fala. Na facul de RP (obrigada, Cásper) a gente aprende que comportamento de massa é quando as pessoas são tomadas ideologicamente por uma ideia e tem um comportamento baseado nesta ideologia, sem muita reflexão, apenas fazendo coro. Li inclusive um texto falando sobre comunicação e Nazismo, baseado nesta lógica, mas eu esqueci o autor (se algum colega lembrar, por favor me avise).

5) A palavra “macaco” não é só uma palavra. Ela tem história e significado… para os negros, ela tem um significado de violência, ela representa a animalização, como se não fossemos seres humanos. Os negros, desde sempre, lutaram contra esta animalização e isso continua até os super civilizados dias de hoje. Algumas vitórias nós tivemos, outras estão em curso, e ninguém aqui vai ficar quieto. E quando as pessoas brancas em geral querem ditar os moldes da luta, elas estão exercendo o poder de violência que sempre tiveram. Em suma: pimenta no c* dos outros é refresco.

6) “Somos todos macacos” é o “consciência humana” revisitado. É falar sobre cidadania como consenso, e isso não existe. Por que? Porque somos todos diferentes, ninguém é igual a ninguém, todo mundo faz parte de um grupo específico que reivindica coisas especificas. O Estado, gente, não consegue absorver e apaziguar tudo, então mais fácil fazer a gente acreditar que tudo em paz mesmo na guerra, né não? Cada pessoa tem uma consciência e se coloca politicamente de uma forma no mundo. Então, PLIS, não somos iguais. Mas devemos nos respeitar nas diferenças.

Quando você apoia ser um macaco, você está praticando e justificando a violência institucionalizada deste Estado em que vivemos, contra pretos sem defesa e sem amparo, pela maneira mais primordial de violência: a fala. Tô falando de gente pobre, que morre nas favelas todos os dias, que não tem direitos de cidadão. Você amplia uma voz de consenso que é falsa, opressora, e você faz isso contra outro ser humano.

Eu e os pretos de classe média que eu conheço: cagamos se vocês são macacos. Nossa luta é MUITO maior. Não vamos parar de falar e nem de radicalizar.

E nem vamos entrar na discussão de como tudo isso começou, porque não importa…. sempre tem um jogador de futebol que serve de boi de piranha para toda esta falácia.

Fica aqui um pedido a todos que tem bom senso e humanidade: antes de saírem emitindo “opinião” em coro, reflitam.

Obrigada.

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