Robert Muggah e Renata Giannini
No mundo, cerca de 1,5 bilhão de crianças correm o risco de se tornarem vítimas da violência. Em países afetados por conflitos, estes riscos são especialmente altos. Pelo menos 76 mil jovens morrem todos os anos como resultado direto e indireto da violência armada em zonas de guerra e em sociedades afetadas por altos índices de violência e criminalidade. No Brasil esta realidade não é tão diferente, somos uma das sociedades mais violentas do mundo. A taxa de homicídio atingiu níveis epidêmicos: 50 mil pessoas são mortas por armas de fogo todos os anos. A maioria das vítimas é composta por jovens e crianças.
As consequências da violência são vastas e podem moldar gerações. Não só deixam cicatrizes físicas, mas pesquisas neurológicas recentes indicam que a violência pode gerar déficits psicológicos, mudanças comportamentais perversas, traumas psicológicos, comportamento violento, e abandono escolar. Evidência disso é o fato de que jovens entre 15 e 29 anos não são somente as principais vítimas de homicídios no Brasil, eles são também perpetradores de violência. Alguns fatores contribuem para isso: exposição à violência na infância, frequentemente dentro de suas próprias casas, além da desigualdade social e econômica, desestruturação familiar, falta de cuidado, entre outros.
A realidade mostra que o escopo da violência contra a criança no Brasil - e ao redor do mundo - é pouco compreendida. Quantos jovens, exatamente são vítimas de violência? O último censo indica que há, no Brasil, 63 milhões de jovens. Destes, 29 milhões são crianças com menos de 10 anos de idade. Uma porção significativa destas pessoas moram em áreas de baixa renda afetadas pela violência crônica e ocasional e estão em risco. De acordo com o Ministério da Saúde, entre 1980 e 2010 houve um aumento de 346% nas taxas de homicídio entre jovens. Todos os dias, o Disque Denúncia 100 registra 129 casos de violência física e psicológica cometida contra crianças.
Um primeiro passo para reverter esta situação é a realização de um diagnóstico do problema. Felizmente, novas tecnologias - inclusive algumas utilizadas pelo Instituto Igarapé e seus parceiros - incluindo Ushahidi, Frontline SMS, e outras plataformas de mapeamento de crises, podem ajudar. Em razão do rápido aumento da conectividade e acesso a tecnologias de informação, governos e organizações não-governamentais podem começar a gerar informação que pensava-se ser impossível acessar. Desta maneira, jovens que eram invisíveis podem participar ativamente de iniciativas para melhorar a sua própria segurança.
O Instituto Igarapé está desenvolvendo um aplicativo para smartphones que visa melhorar a segurança das crianças. O Índice de Segurança da Criança (CSI - Child Security Index) é um aplicativo de código-fonte aberto (open source) que mapeia a percepção das crianças sobre a violência. O CSI consiste em 30 questões simples de múltipla escolha, selecionadas a partir de extensa revisão bibliográfica sobre o assunto. Estas questões avaliam os riscos e exposição à violência em diversos ambientes, como o próprio lar, a escola ou a comunidade, além também dos fatores de proteção. Esta informação é salva em uma plataforma online e pode ser visualizada de maneira interativa, mostrando tendências e padrões de violência em diferentes áreas. Entre 2014 e 2016, O Instituto Igarapé trabalhará em parceria com organizações em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo para implementar o CSI nestas e em outras 45 cidades no Brasil. O objetivo é mapear as dinâmicas de violência contra a criança e identificar soluções para sua prevenção.
A informação é a pedra fundamental de uma política eficaz. As novas tecnologias podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento de soluções individualizadas e de melhor custo-benefício. Através do empoderamento de organizações que trabalham com a prevenção da violência contra as crianças, o CSI é um exemplo de como a tecnologia pode contribuir para tornar nossas comunidades mais seguras.
O CSI é uma das organizações finalistas do Desafio de Impacto Social Google l Brasil. Para nos ajudar a dar voz às nossas crianças, vote aqui até o dia 8 de maio de 2014.
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