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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Os humanos domesticaram o ‘lobo’ que têm dentro de si?



Quando Thomas Hobbes popularizou a ideia de que o homem é o lobo do homem —homo homini lupus est—, ele vivia em uma época em que o homem começava a ser o cão domesticado do homem. E muitos dos que usam essa expressão latina talvez não saibam que os chimpanzés são o lobo do chimpanzé, que até os lêmures são lobos dos lêmures e que, é óbvio, os lobos são lobos dos lobos. Estamos falando do nível de violência letal que os membros de uma espécie exercem sobre seus congêneres. O reino animal está cheio de exemplos nos quais é comum que se matem entre si, dentro da mesma espécie, como uma característica a mais de sua evolução.

Nesse contexto, quão letais são os humanos para com seus congêneres? Um estudo minucioso publicado em 29 de setembro pela revista Nature tentou calcular esse fator posicionando-o no contexto de sua família evolutiva, e comparando sua letalidade com a dos demais mamíferos. A partir de dados de uma gigantesca variedade de fontes humanas e de mamíferos, cientistas espanhóis se atrevem a defender que cabe a nós, humanos, um nível de violência mais ou menos concreto. Do total de mortes humanas, seria de se esperar que 2% fossem causadas pela violência interpessoal. Ou seja, que duas em cada cem pessoas morressem nas mãos de outra pessoa, em guerras, crimes etc. Curiosamente, os pesquisadores observaram que esse número coincide com a proporção de mortes violentas de nossa pré-história. Mas depois entraram outros fatores em jogo, disparando primeiro e freando depois essa nossa faceta sangrenta.

Os autores do estudo, do Conselho Superior de Estudos Científicos (CSIC, em sua sigla em espanhol) e das universidades de Granada e Rey Juan Carlos, compilaram durante dois anos dados de 1.024 espécies de mamíferos (de 137 famílias de animais) para quantificar o nível de violência mortal exercido entre congêneres. Além disso, somaram informações sobre humanos mortos em conflitos e assassinatos de 600 civilizações e populações humanas, partindo de cerca de 50.000 anos até a atualidade, até alcançar a proporção de 2% que corresponderia de forma natural aos humanos.

Por exemplo, 4,5% dos chimpanzés morrem devido à violência exercida por outro chimpanzé, mas apenas 0,7% de nossos outros primos, os bonobos. E cerca de 12% dos humanos da Idade Média morriam violentamente. Os pesquisadores descobriram dois fatores que predizem um maior índice de violência letal dentro de uma espécie: que se desenvolva em sociedade e que tenha um caráter territorial. Dois fatos que influenciam muito os humanos. Além disso, nosso ramo mais ancestral (euarchonta) é dos mais sangrentos, com os primatas com índices mais altos. A mortalidade mais alta ocorre em suricatas, mangustos, leões e outros grandes felinos, alguns lêmures e babuínos, lobos e outros canídeos sociais, leões marinhos, marmotas e esquilos de solo.

Nos últimos séculos, a proporção de mortes violentas em relação ao total é notavelmente menor do que se esperava

“Nossos 2%, mais ou menos, é a porcentagem que deveríamos ter em função de nossas raízes filogenéticas [relações de parentesco entre espécies]. Mas se só isso influísse, esses 2% seriam fixos: há fatores culturais e de contexto que modulam esse nível de violência”, afirma José María Gómez, professor da Universidade de Granada.

Desde o Paleolítico até a Idade do Bronze, a proporção não se alterou de forma significativa em relação ao que se poderia esperar. Mas ao chegar à Idade do Ferro começou uma escalada sangrenta entre humanos que se estendeu e cresceu até a chegada da Idade Moderna, quando começou a se corrigir. Nos últimos séculos, a proporção de mortes violentas em relação ao total é notavelmente menor do que a esperada, segundo os cálculos de Gómez e seus colegas. Em seguida, analisaram essa proporção em função do tipo de Governo: as tribos e bandos pré-históricos se moviam em parâmetros previsíveis; os caciques e reis antigos dispararam de forma dramática essas mortes; e o Estado moderno coloca a porcentagem muito abaixo dos 2% esperados.

“Nosso trabalho pode ajudar a resolver o dilema de que a violência tem um componente evolutivo, mas não significa que haja um determinismo genético”, afirma Gómez, pesquisador da Estação Experimental de Zonas Áridas do CSIC. Este biólogo evolutivo explica que eles se limitaram a analisar o sistema político porque parecia evidente que poderia influir, mas há muitos outros fatores que podem modular a violência letal entre humanos que se dá a cada momento e lugar, com a cultura e o comércio ou, em outras espécies, o tipo de cortejo ou o sistema reprodutivo.

Nos últimos anos, o psicólogo evolutivo Steven Pinker se tornou um dos pensadores mais relevantes —e polêmicos— exatamente por publicar dois livros (Tábula rasa e Os anjos bons de nossa natureza) nos quais argumentava que a violência humana vem diminuindo ao longo da história e que estaríamos vivendo em um dos períodos menos perigosos para nossa integridade. Consultado sobre esse artigo da Nature, Pinker afirma ao EL PAÍS que está “impressionado” com o trabalho de Gómez e sua equipe: “Quem dera esse estudo estivesse disponível quando escrevi o livro”.

“É uma análise criativa e minuciosa, e portanto consistente com minha concepção da história da violência”, afirma Pinker, que ressalta que muitos animais, não só os humanos, matam indivíduos de sua própria espécie e que, sendo tão sociais e territoriais, é previsível que tenhamos um nível importante de violência, mesmo que tenhamos sabido corrigi-la com leis e instituições. “Apesar de ter destacado todos esses pontos em Os anjos bons da nossa natureza, eles demonstraram com muito mais precisão, rigor e profundidade”, elogia.

El País
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O Bebê de Bridget Jones - Trailer Internacional



Publicado em 23 de mar de 2016
O Bebê de Bridget Jones - setembro de 2016 nos cinemas.

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Cercada de amigos e pronta para ser feliz para sempre, Bridget Jones segue confiante já que sua vida está dando sinais de melhora: agora ela é produtora do noticiário em que trabalhava e se orgulha por ter uma boa relação com seu ex-namorado, o advogado Mark Darcy (Colin Firth). Quando tudo parece estar as mil maravilhas, ela descobre que, aos 40 anos de idade, está esperando seu primeiro filho. A pergunta que não quer calar é: quem será o pai do bebê?

Com direção de Sharon Maguire, que também assina a direção do primeiro filme da franquia, “O Bebê de Bridget Jones” conta com Renée Zellweger, Colin Firth, Patrick Dempsay e Ed Sheeran no elenco. A comédia estreia nos cinemas brasileiros em setembro de 2016.

STJ e EUA fecham acordo para agilizar julgamentos de sequestros parentais

A presidente do STJ, Laurita Vaz, e a assessora especial para Assuntos da Criança do Departamento de Estado dos EUA, Susan Jacobs, discutiram casos recentes de subtração internacional de crianças por pais e outros familiares. Também participaram do encontro o vice-presidente da corte, Humberto Martins, e os ministros Villas Bôas Cueva e Sérgio Kukina.
Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são signatários da Convenção de Haia, que, entre outros temas, estabelece procedimentos jurídicos para agilizar a resolução de casos de sequestros parentais. Entre 2003 e 2013, dados da Advocacia-Geral da União apontam que o órgão atuou em quase 300 casos do gênero em todo o país.
De acordo com a presidente do STJ, o Brasil tem como princípio priorizar a proteção da criança. Isso, no entanto, não deve significar a morosidade dos processos. “Estamos de portas abertas para avançar nas tratativas que levem ao julgamento de casos de subtração de crianças por parentes com a máxima rapidez”, declarou Laurita.
Segundo Kukina, a legislação brasileira sobre crianças e adolescentes é das mais avançadas do mundo e segue a Convenção de Haia e a Convenção Internacional da ONU sobre os Direitos das Crianças. “A prova disso é que, no Brasil, grande parte das comarcas têm juízes especializados nos direitos da criança e do adolescente”, afirmou. O ministro Cueva enumerou ainda a promoção recente de dois seminários no STJ exclusivamente sobre o tema da criança e do adolescente com juízes federais.
Para a assessora norte-americana, a colaboração entre Brasil e Estados Unidos em casos de subtração de crianças passa por separar jurisdição e custódia. “A nossa ideia é sensibilizar o Brasil para agilizar os processos de reconhecimento da residência habitual dessas crianças. As discussões sobre a custódia devem ocorrer nos países em que elas realmente residem”, defendeu Jacobs. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.

Em Brasília, mulheres marcam presença dentro e fora da tela

FLAVIA GUERRA · SETEMBRO 27, 2016

Se o Festival de Brasília 2016 jogou luz em temas polêmicos e necessários, como a questão, e o cinema, indígena, o cinema negro, a violência contra a mulher, entre tantos outros, o destaque ao cinema produzido por realizadoras (sejam elas diretoras, produtoras, atrizes e afins) merece atenção também especial nesta edição.

Em um balanço do festival, as mulheres mostraram a que vieram. E revelaram que contam histórias de amizade, dramas, risos, violência, superação, cumplicidade com o olhar feminino, claro, mas com domínio do fazer audiovisual. Este foi o caso dos longas exibidos fora de competição Precisamos Falar do Assédio, de Paula Sacchetta, e Câmara de Espelhos, de Dea Ferraz (leia mais aqui: No Festival de Brasília, é preciso falar de cinema e resistência), dois documentários que movimentaram os primeiros dias de festival e dialogaram muito bem entre si ao levar para as telas a questão da imagem e da violência contra a mulher.

Já na Mostra Competitiva, este é o caso de um dos longas mais aplaudidos do festival: A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha. A diretora mineira não pôde vir ao festival por conta do nascimento de seu filho, mas enviou uma comitiva composta praticamente só por mulheres. Entre elas, a produtora Luana Melgaço, além das atrizes portuguesas Elizabete Francisca e Francisca Manuel, que representaram a produção mineira e pediram mais incentivos e políticas públicas para o setor audiovisual do estado.

Na tela, o que se viu em A Cidade… é o amadurecimento de uma diretora que já foi premiada com obras como Aboio (Melhor Documentário no É Tudo Verdade 2005), Acácio (2008) e A Falta que me Faz (2009, Melhor filme do Festival Latino-Americao de São Paulo). Na trama, Elizabete e Francisca vivem duas portuguesas que escolhem Belo Horizonte para viver. A primeira é Teresa, uma jovem vivaz e inquieta, que acaba de chegar de Lisboa e praticamente invade o cotidiano já estabelecido e calmo de Francisca, a segunda.

Enquanto uma traz na bagagem a energia e a expectativa de se construir, mas também os desafios de entender uma terra estranha (ainda que, quase, fale sua língua), a segunda já carrega cansaços, desilusões, ainda que já tenha mais conforto emocional nos laços afetivos que criou com os colegas da Tasca em que trabalha, o rapaz que é mais que um amigo, mas que não chega a ser um namorado.

Tudo parece muito cotidiano, pequeno em suas situações diárias, mas tudo é também grande e simbólico em cada gesto de aproximação e estranhamento entre as duas e o ambiente em que as cerca. Francisca, a mais sisuda e distante, acha os brasileiros folgados, o tempo todo pedindo cigarro, invadindo pequenas privacidades do outro. Seu amigo brasileiro rebate dizendo que “somos afetuosos.” “Afetuosos e folgados”, responde Francisca, em uma observação que resume tão bem o estranhamento que sempre um imigrante tem com pequenas-grandes diferenças entre sua cultura e a ‘dos outros’.
Já Teresa parece não só lidar bem com este excesso de intimidade brasileira como precisar dela. É mais frágil aparentemente, mas também mais forte ao se permitir rir mais de si mesma, errar e ser errante. A construção da intimidade entre as duas, apesar de tão contratantes quanto Belo Horizonte e Lisboa, é fruto de uma interação muito forte entre diretora, atrizes e direção de fotografia (de Ivo Lopes Araújo). A câmera de Ivo é praticamente um personagem a mais no apartamento em que as duas vivem. E dança, acompanhando os movimentos de Teresa e Francisca, ao sabor dos sentimentos, ações e reações de cada uma.

Com a carga real que poucos filmes revelam, a amizade entre duas mulheres, que se tocam, se abraçam, mas também se estranham, é orgânica, e traduz o que de fato é o cotidiano de amigas que vivem e convivem juntas.

Estado Itinerante – Já entre os curtas, o também mineiro ‘Estado Itinerante’ se revelou um dos mais consistentes filmes da competição, se não de todo o festival. Dirigido por Ana Carolina Soares, o filme narra o drama de Vivi, uma jovem que, ao mesmo tempo em que consegue um emprego como cobradora de ônibus em Belo Horizonte, vive uma realidade de violência em casa. Produzido por Ana Carolina e por Denise Flores, o curta traz Lira Ribas em uma história profunda, com seu arco dramático bem desenvolvido e que emocionou a plateia do Cine Brasília em seus 25 minutos de duração.

A direção precisa de Ana Carolina, que aposta na construção da cumplicidade de Vivi com outras cobradoras para tratar de um tema duro em um ambiente ainda muito masculino, deu ao festival momentos de cinefilia pura. “O machismo cultural está ali no dia a dia delas. É preciso romper estas barreiras”, comentou a diretora.

Um dos melhores momentos do filme é exatamente a cena em que Vivi põe para tocar Don’t Cry, do Guns n’ Roses, para tocar em um típico boteco. Em um plano sequência que dura o tempo da canção, ela dança com uma figura que o espectador só vê primeiramente de costas, de cabelo afro curto, pode ser um homem. Mas aos poucos, enquanto Vivi dança, revela-se a trans Cristal em cena. E não se trata de uma dança a duas que sugere exatamente a sedução, mas sim a cumplicidade da violência diária sofrida por cada uma delas. Cinema puro.

A cineasta explicou que este plano, a priori, deveria ser cortado e montado. “Mas o Diogo (Lisboa, diretor de fotografia) quando foi assistir ao corte, defendeu, brigou que o plano tinha de estar inteiro. Que as pessoas tinham que conseguir chegar até o final da cena. Eu e o Cacá (Roscoe, montador) sentimos que com o corte a gente tinha tirado a progressão dramática que ela vai sentindo.” E assim a cena se manteve íntegra, intacta e é o ponto alto do filme. Não só pelo plano cinematográfico, mas por trazer a cumplicidade entre as duas mulheres que dançam e levá-la a um grau acima do óbvio.

“Foi muito importante ter a Cristal nesta cena. É um filme sobre cumplicidade. Romper as barreiras da rivalidade entre as mulheres, que é algo colocado pelo machismo. Participo de alguns grupos de internet e me incomoda quando são excluídas as mulheres trans. A Cristal é uma mulher trans, negra e é candidata a vereadora. Uma mulher de luta. Romper mais uma barreira. Aquela dança é um encontro em que há a tensão e sabemos as violências que passamos. É um encontro de celebração.

A força de Estado Itinerante está justamente em valorizar os detalhes do não dito, do que se pode entender aos poucos e do que está em extra-campo, em um filme em que nunca se vê o rosto de nenhum homem. “Para mim isso sempre foi uma questão. A relação do feminismo ativo no filme eu vim perceber um pouco no processo quando já estava filmando. Percebi na montagem que tinha trazido todas para o protagonismo. Porque o extra-campo era um lugar de escolha para poder expandir o tema. E por isso os sons e os diálogos eram importantes para trazer a questão”, comentou a diretora.

Time forte – Além destes exemplos da presença feminina nas telas de Brasília, há diversos outros que rendem tantas mais análises de como a forte presença das profissionais, cada vez mais articuladas entre si, resulta em boas histórias e pontos de vista diversos no cinema nacional.

Alice de Andrade exibiu também na Mostra Competitiva sua declaração de amor a Cuba no lírico Vinte Anos. Claudia Priscila (em parceria com Pedro Marques) extrapolou as fronteiras da ficção e do documentário para (re)construir a história de Jean Claude Bernadet, um dos maiores críticos de cinema do Brasil, que tem se dedicado também à atuação e se reinventa a cada ação, em A Destruição de Bernadet.

A lista é grande e incompleta, pois a presença feminina no festival foi muito maior do que este texto abarca. Mas vale ressaltar que a participação das mulheres em Brasília 2016 se estende também a produtoras como Vânia Catani (que trouxe o incômodo, mas interessantíssimo, Deserto, de Guilherme Weber), à jornalista Andrea Cals na Comissão de Seleção dos longas, e à produtora Ana Arruda Neiva e Marisa Merlo na seleção de curtas. Já no júri de longas, as atrizes Camila Márdila e Mayana Neiva, a produtora Diana Almeida, a diretora de fotografia Kátia Coelho dividiram com o professor João Luiz Vieira, o crítico Luiz Carlos Merten e o cineasta Paulo Caldas a árdua tarefa de eleger os premiados desta edição tão diversa. Nos curtas, a jornalista e exibidora Anna Karina de Carvalho e a cineasta Nathália Tereza cumpriram a mesma difícil função ao lado do cineasta Andy Malafaia, Fernando Severo e José Araripe Jr.

Destaque ainda para as cineastas que participaram do encontro ‘Produção Audiovisual, Identidade e Diversidade – Um Olhar dos Realizadores Afrobrasileiros e Indígenas sobre o Cenário Brasileiro do Audiovisual’. O debate foi intenso e uma análise do que afirmaram as cineastas presentes aos dois grupos de discussão virá em breve.

De volta aos concorrentes, há que se citar curtas como Abigail, que tem a assinatura de duas diretoras (Isabel Penoni e Valentina Homem) para retratar, ainda que deixe um gosto de “queremos saber mais e mais”, a figura de Abigail Lopes, que foi mulher de Francisco Meireles, um dos mais notórios sertanias brasileiros, e que conviveu anos com os Xavantes e terminou a vida em trânsito livre entre o mundo imaterial dos orixás.

Já Procura-se Irenice, que é dirigido por dois cineastas (Thiago B. Mendonça e Marco Escrivão), jogou na tela, e na cara da plateia, o nome de uma atleta negra que ousou enfrentar o racismo e a Ditadura dos anos 60 e acabou no esquecimento.

A colaboração com diretores para trazer o protagonismo feminino para as telas também ganhou destaque em Demônia – Melodrama em Três Atos, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet.Despretensioso, o curta é uma sátira sagaz dos clichês do gênero e da vida pós-moderna, em que a banalização da palavra da Bíblia, os dramas familiares, tabus e memes da internet podem conviver todos (quase) pacificamente. Já outros clichês e tabus caem por terra com a história do casal de Bodas de Papel. Dirigido por Keyci Martins e Breno Nina (também protagonista), o curta mexe no vespeiro que são as fantasias sexuais e a inversão de papeis entre homem e mulher. Exercício interessante de provocação em tempos em que o conservadorismo caminha lado a lado com a hipocrisia.

Impossível não lembrar da também mineira, e parceira de Marília Rocha e Luana Melgaço, Clarissa Campolina. A também realizadora competiu com o curta Solon, uma fábula muito particular sobre o nascimento do mundo. O filme, que é fiel ao estilo inventivo da diretora e traz uma união mítica entre as artes plásticas e o cinema, acaba de ser premiado com o Emerging Voices 2016 Film Award. Ao jornal Financial Times, Clarissa afirmou, em ocasião da premiação: “Eu queria contrar uma fábula da reconstrução do mundo, onde Deus é feminino, não masculino, com um corpo que é parte da paisagem e vice-versa.”

Melhor tradução para a própria participação feminina neste Festival de Brasília 2016 não há.

PS: Para terminar, ainda ocorreu no festival o primeiro encontro da Críticas de Cinema do Brasil. Uma iniciativa que visa a articulação das profissionais da área para debates e ações em torno do pensar cinematográfico.

Carta Capital

Precisamos falar sobre aborto

28 de setembro é o dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe
por Joanna Burigo — publicado 28/09/2016


Este texto é uma adaptação da programação disponível na página do evento Virada feminista online#PrecisamosFalarSobreAborto 24h!, pensado e organizado em parceria pelos grupos feministas Think Olga, Gorda&Sapatão, Ativismo de Sofá e Justificando. 
28 de setembro é o dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe, e para desmistificar a questão fomentando, ampliando e aprofundando o debate com qualidade, durante as 24h do dia será compartilhado conteúdo a respeito de direitos sexuais e reprodutivos.
Esta ação visa iluminar o assunto, promovendo um levante feminista online que reúne coletivos e militantes em toda a América Latina. Usando a hashtag nas redes, o convite é extensivo a todas as mulheres, e conta com uma série de transmissões ao vivo via Facebook, utilizando assim as redes para colocar esta pauta histórica e resistente da luta feminista no centro do debate. 
Participam do evento nomes como Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política, Secretária Adjunta de Direitos Humanos de SP e colunista da Boitempo Editoral e de CartaCapital, que aborda a pauta: "A interseccionalidade necessária para discutir direitos sexuais e reprodutivos". 
Kel Campos, advogada e blogueira do Ativismo de Sofá e Mulheres Notáveis, fala sobre aborto no cinema com análise de filmes, personagens e a realidade da criminalização. Tema semelhante é abordado por Renata Corrêa, escritora, roteirista e idealizadora do documentário Clandestinas, que junto com Clara Averbuck – também escritora e fundadora do site Lugar de Mulher – discute a representação do aborto na mídia e no imaginário social. 
A filósofa, escritora e colunista da revista Cult Márcia Tiburi levanta as falácias sobre a questão do aborto, a Revista AzMina articula as formas como a legalização e descriminalização do aborto estão interligadas, e Ana Paula Xongani, designer e empresária, pergunta: quem morre por abortos clandestinos? 
Karina Buhr, cantora, compositora, escritora e artista visual, em um vídeo emocionante, levanta as contradições entre a fala pública e a fala privada, e demonstra que discutir aborto de forma honesta inclui contestar a sociedade machista e racista. 
Heloisa Righetto, uma das fundadoras do Conexão Feminista, fala diretamente de Londres para estabelecer pontes e fornecer um panorama sobre leis de aborto no Reino Unido. Voltando ao cenário nacional, Debora Diniz – antropóloga, professora da UNB e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética – aposta no pragmatismo com a pauta "Eixos da Ação Constitucional encaminhada ao STF: isto é sobre os Direitos Humanos das Mulheres".
Maria Teresa Blandon, da Nicarágua, é professora, pesquisadora e coordenadora do Programa Feminista La Corriente, e discute as relações entre maternidade voluntária, compulsória e aborto. Carla Gisele Batista, educadora popular e mestre em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismo dá um panorama sobre a questão do aborto na América Latina, e Maru Casanova, do Uruguai, demonstra os avanços e desafios da implementação dos serviços de abortamento legal em seu país.
Juliana Guarany é criadora de uma plataforma colaborativa que documenta projetos feministas pelo mundo, o FemMap, e divulga quais projetos relativos a aborto estão presentes lá. O portal de jornalismo especializado em gênero, feminismos e direitos humanos Catarinas, em parceria com a Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, debate as relações entre a criminalização do aborto e a cultura do estupro.  
O dia também conta com uma série de outros vídeos enviados por ativistas como Stephanie Ribeiro, e entrevistadas de peso, como Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, Fabiana Paes, Promotora de Justiça no Ministério Público de São Paulo, e Regina Soares Jurkewicz, doutora em Ciências da Religião e coordenadora do grupo Católicas pelo Direito de Decidir. 
Paula Viana, Secretaria Executiva Colegiada no Grupo Curumim, debate a qualidade da assistência médica no serviço de abortamento legal. A repórter Isabela Moreira, da Revista Galileu, informa sobre a descriminalização do aborto com dados, recortes e infográficos, e Gabriela Cunha, advogada, mestre em Direitos Humanos e Coordenadora da Cladem Brasil reporta o número de mulheres presas por aborto e as consequências dessas prisões em suas vidas.
Carol Patrocínio, jornalista e fundadora da Comum, discute métodos contraceptivos como argumento contra o aborto, e Jaqueline Gomes de Jesus – Professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro e psicóloga com doutorado em Psicologia Social e do Trabalho – estende a questão para os direitos sexuais e reprodutivos de pessoas trans.
Nathália E. Ziolkowski, socióloga, mestre em história das mulheres, e integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras no Mato Grosso do Sul, com Carine Giaretta, ex-advogada do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza, contam sobre a resistência feminista no caso de 10 mil mulheres acusadas e perseguidas em Campo Grande.
A atriz, cantora e compositora Thalma de Freitas é a favor do aborto sem culpa e sua pauta é a autoridade das mulheres em relação ao próprio corpo e à própria vida. Laura Molinari, do grupo Finadas do Aborto, que faz performances e instalações sobre esse assunto, discute as novas estratégias dos movimentos contra a legalização do aborto no Brasil. Ana Lucia Keunecke, advogada e co-fundadora da Associação Artemis, declara que o aborto já está previsto legalmente diante dos tratados internacionais assinados e ratificados pelo Brasil.
Eliana Oliveira e Amarilis Costa, do Preta e Acadêmica, um coletivo de feminismo negro que busca combater opressão nos espaços educacionais, expõem a realidade do aborto e experiências na ilegalidade. DJ Luana Hansen e Drika Ferreira são rappers, e discutem as experiências de cantar sobre aborto.
Olímpio Moraes, professor, obstetra e gestor executivo da Maternidade da Encruzilha, dá parecer técnico sobre as diferenças entre aborto seguro e aborto inseguro, e Melania Amorim, ginecologista e obstetra, MD, PhD, pesquisadora, professora e ativista em prol de direitos sexuais e reprodutivos, discute a importância de compreender o aborto como problema de saúde pública e a necessidade fundamental da legalização para a redução da morbidade e mortalidade materna.
As mulheres da Maternativa rasgam mitos sobre a legalização do aborto, e falando sobre experiências privilegiadas na ilegalidade está Nathália Oliveira, cientista social e parte da INNPD – Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas.
Aline Souza e Claudia Gazola, do Coletivo Leila Diniz, reportam sobre o aborto na legislação brasileira e sobre o conflito religioso de mulheres que abortam. Silvia Camurça, educadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco e da Articulação de Mulheres Brasileiras, lista as razões do patriarcado para punir o aborto. Iara Amora é coordenadora de projetos da CAMTRA – Casa da Mulher Trabalhadora, e apresenta casos de mortes por abortos clandestinos do RJ e a CPI do Aborto na ALERJ.
O coletivo feminista Bruta Flor relaciona a questão do aborto na Paraíba e a epidemia do Zika vírus, e o grupo de teatro Madalenas aborda aborto e afeto. Luka Franca, jornalista e militante do movimento feminista e negro, debate legalização do aborto e maternidade. Lado M, um site que produz conteúdo para promover o empoderamento feminino, oferece uma importante reflexão: como exercer empatia com mulheres que abortam.
No dia também haverá o lançamento, ao vivo, do livro e curta-metragem Somos Todas Clandestinas – e o coletivo Finadas do Aborto, juntamente com a Frente contra a Criminalização das Mulheres pela Legalização do Aborto, fará um cortejo em memória das mulheres mortas por aborto clandestino.
Amelinha Teles é diretora da União de Mulheres de São Paulo, coordenadora do Projeto Promotoras Legais Populares, integra a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, e faz avaliação histórica com a pauta "De 1964 à 2016: avanço do fundamentalismo e recrudescimento do conservadorismo contra os Direitos Humanos das Mulheres”.
O coletivo Mulheres de Buço examina o aborto em primeira pessoa, falando da experiência de mulheres que abortaram. A Rede Feminista de Juristas, oferece uma perspectiva jurídica e médica, considerando acordos internacionais ratificados no Brasil, em bate -papo com advogadas da DeFEMde e a Dra. Ana Amorim. Silvia Badim, professora e coordenadora dos direitos das mulheres da Diretoria da Diversidade da UnB, discute os desafios do acesso ao aborto legal nos casos de violência sexual.
As MinasNerds explicam aborto e legislação, e os coletivos "Nós, Mulheres da Periferia" e "Fala Guerreira" discutem o aborto pela perspectiva da mulher periférica. Silvia Ferreira, professora e pesquisadora do GEM e NEIM – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, defende que aborto é uma questão de saúde pública e de direito humanos. Quem também fala é Jo Batista, socióloga e colaboradora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA).
Debora Baldin, do Canal das Bee, visa incluir o movimento LGBT na luta pela descriminalização do aborto, e Maíra Kubík Mano, doutora em Ciências Sociais e professora do departamento de Gênero e Feminismo UFBA, pesquisa a participação e representação política das mulheres e ressalta: "Parece legal, mas é cilada: um olhar apurado sobre o PL 5654/2016." A intensa programação encerra com o blog Vulva Revolução, que oferece uma análise e panorama do debate sobre aborto no Brasil.
Participe destas 24h sobre um tema tão encoberto em tabus e moralismos, mas que deveria ser tratado primordialmente como uma questão de saúde pública. #PrecisamosFalarSobreAborto.  

As mulheres negras não cabem na “democracia” brasileira

Mulheres negras compõem são cerca de um quarto da população, mas são apenas 1,3 em cada mil candidatos a prefeito
por Carmela Zigoni — publicado 28/09/2016



A análise do perfil das candidaturas para as eleições 2016 revela, mais uma vez, o sexismo e o racismo das estruturas de poder no Brasil. Das 493.534 candidaturas em todo o Brasil, sendo 156.317 candidaturas do sexo feminino, apenas 14,2% (70.265) são mulheres negras concorrendo ao cargo de vereadora e 0,13% (652) ao cargo de prefeita – considerando-se “negra” a somatória das variáveis ‘pretas’ e ‘pardas’.
Se considerarmos somente as candidatas que se auto-declararam ‘pretas’, o número é ainda menor: 0,01% (60) para prefeitura, 0,03% vice prefeitura (135), 2,64% (13.035) se candidataram ao cargo de vereadora.
Com relação aos homens negros (‘pretos’ + ‘pardos’), eles representam 28,8% das candidaturas para prefeitura, 30,1% para vice prefeitura e 33,4% para vereador. Os partidos que mais têm candidaturas de mulheres negras (pretas + pardas) são o Partido da Mulher Brasileira (PMB) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU): 23,6% e 20,4% respectivamente.
Entre os grandes partidos, a proporção de candidaturas de mulheres negras (pretas + pardas) é a seguinte: 16,4% no PT, 13,8% no PSB, 13% no PDT, 12,3% no PSDB e 12,1% no PMDB. Considerando apenas as candidatas que se auto-declaram ‘pretas’, os números são ainda menores: 4,5% no PT, 2,4% no PSB, 2,3% no PDT, 2,2% no PSDB e 2% no PMDB.
O estado que tem mais candidatas negras (pretas + pardas) é o Amapá (25,2%), seguido do Acre (25%) e Pará (24,9%).
De acordo com o IBGE, São Paulo, Bahia e Minas Gerais são os estados que mais têm mulheres negras em sua população: nestes, a proporção de mulheres negras candidatas, para todos os cargos em disputa nas eleições 2016, é de 7,8% em São Paulo (6.678), 24,0% na Bahia (8.759) e 15% em Minas Gerais (11.724).
Os dados também demonstram a tendência à sub-representação de mulheres em geral(brancas, pretas, pardas, amarelas e indígenas): em todo o País, temos 12,6% para candidaturas ao cargo de prefeita, 17,4% para vice-prefeita e 32,9% para vereadora – ou seja, 87,4% das candidaturas a prefeituras de todo o país é composta por homens. É importante ressaltar que as mulheres representam 51,04% da população brasileira e que cota mínima obrigatória para os partidos para candidaturas femininas é de 30%. Embora nenhum partido tenha atingido 50%, quase todos cumpriram a cota legal (exceto pelo PCO, que possui 29,4% de suas candidatas mulheres).
Mas quando observada a distribuição entre os cargos, esse comportamento se mantém somente para o cargo de vereador. Para prefeitura, somente os partidos PMB, PSTU e Novo têm 30% ou mais de candidatas mulheres, e para a vice-prefeitura, apenas o PMB atingiu essa cota.
No que se refere aos indígenas, foram 1.702 candidatos em todo o Brasil (0,3% do total de candidatos), dos quais 29 para o cargo de prefeito e 1.613 para os cargos de vereador. Candidatos que se declararam indígenas às prefeituras estão no Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Roraima e Rio Grande do Sul.
Contexto
As mulheres negras (pretas + pardas) experimentam os piores indicadores sociais hoje no Brasil, apesar de grandes avanços recentes como a diminuição da pobreza extrema por meio de políticas de segurança alimentar e nutricional, de transferência de renda, de elevação real do salário mínimo e de aumento da formalização da mão de obra, entre outras. Neste grupo, as pretas ainda são as mais vulnerabilizadas pela desigualdade social brasileira.
Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil, produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres, demonstrou que as negras também são as maiores vítimas da violência doméstica e violência letal: o índice de homicídios cresceu 54,2% entre 2003 e 2013, ao passo que o das mulheres brancas caiu 9,2%.
Tratamento da base de dados do TSE: Luciana Guedes
A população carcerária de mulheres no Brasil também tem crescido aceleradamente (567% entre 2000 e 2014), e as mulheres negras representam 68% das mulheres encarceradas hoje no Brasil (Fonte: Conselho Nacional de Justiça, 2015).
Outro dado dramático de contexto das relações raciais no país é o fato de que convivemos com uma média de 25 mil jovens negros homens mortos ao ano por arma de fogo (fonte: Mapa da Violência, 2014) – a morte do jovem negro impacta diretamente a vida de suas mães, filhas, esposas. A boa notícia neste cenário é que as jovens negras também conquistaram espaços sociais positivos. A partir de políticas públicas afirmativas e de inclusão social, a presença das jovens negras aumentou nas universidades nos últimos anos.
O mundo do trabalho é uma das dimensões mais importantes da vida social, especialmente do ponto de vista da autonomia econômica e de realização individual. O racismo e o sexismo também operam nessa dimensão da vida social: estudo recente do Ipea revela que as mulheres negras ganham, em média, 40% da remuneração dos homens brancos.
Em 2015, as mulheres negras demonstraram para o País que seguirão com suas demandas nas arenas de participação na vida política: a Marcha de Mulheres Negras, que contou com mais de 30 mil mulheres, trouxe a Brasília a agenda anti-racista, contra a violência e pelo bem viver. Na ocasião, marcharam em direção a um Congresso Nacional que tem apenas 56 mulheres, sendo 12 negras (11 eleitas para a Câmara e 1 para o Senado).
Atualmente, convivemos com um ministério com uma única mulher, em um governo que cortou o orçamento da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e para direitos humanos, tornando o Ministério da Justiça um órgão voltado somente para a ação policial. Os dados das candidaturas às Eleições 2016 demonstram, mais uma vez, que os espaços de poder institucionalizados continuam fechados para as mulheres negras no Brasil.

Carta Forense

Orgulho trans na Turquia: projeto Gabrielle Le Roux

23 set 2016

As 6 queixas mais comuns dos casais para os terapeutas e como solucioná-las

Do UOL

28.09.2016

Cada casal é de um jeito, mas há questões comuns à maioria deles. Felizmente, muitos dos impasses podem ser resolvidos com menos expectativa e mais diálogo. A seguir, psicólogos e terapeutas de casais contam as reclamações mais frequentes em consultório.
  • As tarefas de casa não são divididas

    Segundo o psicólogo Breno Rosostolato, professor da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, é a mulher quem apresenta a queixa com mais frequência. "Muitos homens se colocam como soberanos da casa. Eles dizem: se ela pedir, ajudo, mas a mulher não tem de pedir nada. O homem tem de contribuir voluntariamente. É obrigação e não uma ação nobre", afirma. Segundo o especialista, é fundamental que a mulher também evite pegar a responsabilidade de tudo para si e aprenda a delegar, para não reforçar o machismo. "É preciso dizer para o outro que você espera que ele seja participativo."
  • Falta iniciativa

    Esperar que o par faça qualquer coisa no momento que deseja é pedir para se frustrar, segundo a terapeuta familiar Heloísa Capelas, autora do livro "O Mapa da Felicidade" (editora Gente). "Queremos que a outra pessoa nos entenda, que compreenda o que desejamos e adivinhe o que estamos pensando, mas não conversamos com ela sobre isso", diz a especialista. O primeiro passo para melhorar a comunicação é reconhecer que o outro pensa e age de forma diferente da nossa. Isso já ajuda a evitar que irritações, raivas e frustrações tomem conta.
  • O celular é o terceiro elemento da relação

    Quando usado em excesso, o smartphone pode prejudicar o diálogo e a interação entre o casal. "Tem sempre um que se ressente e considera abusiva a forma como o parceiro utiliza a internet. Então aparecem sentimentos de insegurança, desconfiança e desrespeito", diz a psicóloga Vânia Calazans, especialista em terapia cognitivo comportamental pela Universidade de São Paulo. Em vez de resmungar cada vez que o par mexe no celular, é melhor dizer de uma vez que o comportamento está afastando o casal. Também é importante valorizar os momentos desconectados, deixando claro para o outro o quanto é bom quando os dois podem se curtir de fato.
  • O jeito do outro não é igual ao seu

    Ele lava a louça mal, deixa as roupas encardidas e nunca passa pano direito no chão, mas se há colaboração, vale repensar a forma de executar tarefas. "Cada um faz do jeito que sabe e pode e o outro não deve dar pitaco. Até porque, se o seu jeito é o melhor, só você pode fazer", diz a psicóloga Graziela Baron Vanni, coautora do livro "Amor, Ciúme e Infidelidade" (editora Letras do Brasil).
  • Atitudes simples são encaradas como provocações

    "Ele não lavou a roupa porque não se importa comigo." Talvez ele não tenha feito porque esqueceu, ficou com preguiça ou porque não gosta e procrastina a tarefa, mas nem sempre é uma tentativa de afronta. "Nessas horas, o diálogo de acolhimento funciona: 'Sei que é chato, também não gosto de fazer, mas vamos fazer juntos ou criar um jeito que seja mais fácil para você'. Essa é uma conversa típica de um casal cúmplice, maduro e que se respeita", diz Graziela.
  • Só um trabalha ou o outro ganha muito menos

    "Existe uma cobrança velada quando um dos parceiros não está trabalhando ou recebe um salário muito menor", diz a psicóloga Milena Carbonari, especialista em sexualidade. Então, começam as reclamações sobre o quanto foi gasto em roupas, saídas com os amigos ou no salão de beleza. O caminho é os dois controlarem juntos receitas e despesas da casa e combinarem o quanto pode ser gasto individualmente em determinados períodos.

Quanto custa o preconceito

Lucila Cano

Com a aprovação do Estatuto do Idoso em 1º de outubro de 2003, comemora-se, desde então, o Dia do Idoso nessa data. Passados 13 anos, nem tudo o que foi firmado em papel transformou-se em realidade na vida dos idosos. O que não é de se estranhar, pois nossos legisladores tendem a formular leis tão ambiciosas quanto impossíveis de serem cumpridas.
Em relação ao Estatuto do Idoso, basta a leitura dos três primeiros artigos das disposições preliminares para entendermos claramente a inviabilidade do que neles se promete diante do que de fato temos no país:
Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
        Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
        Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Não vou me estender mais sobre os artigos e parágrafos da lei nº 10.741, posteriormente atualizada em julho de 2013. A íntegra está acessível na internet para quem quiser saber mais sobre os direitos dos idosos. Alguns deles, justiça seja feita, conquistados e comemorados, como passagens gratuitas e assentos reservados nos transportes públicos, e a prioridade de atendimento em diversos serviços.

Conduta

O que não cabe comemorar é o preconceito em relação aos idosos que persiste em várias situações. Ele se manifesta principalmente pela impaciência, pela incapacidade que as pessoas têm de ouvir as outras. Também se apresenta pela arrogância, por aquele traço comum àqueles que acham que sabem tudo e que, portanto, não precisam dar tratos à opinião de alguém mais velho. A experiência do idoso, supõe o arrogante, é coisa obsoleta, ultrapassada como a tecnologia do telefone que ele comprou no ano passado e jogou no lixo este ano.
A conduta atual privilegia o supérfluo, o passageiro, o sucesso instantâneo. E tamanha é a voracidade dela que seres humanos acabam sendo comparados com objetos descartáveis. Esquecem os fúteis que o valor do ser humano está justamente no estofo, no conteúdo de experiências fantásticas que uma pessoa acumula com seus erros e acertos e que podem contribuir para que uma sociedade se torne melhor do que é.

Reformas

A aprovação de uma nova idade para a aposentadoria compulsória dos ministros do STF, tribunais superiores e TCU, agora aos 75 anos, é exemplo de bom senso e respeito para com a própria população brasileira, que pode usufruir por mais tempo o conhecimento desses servidores em favor da justiça.
Se pudéssemos quantificar, qual seria o custo do preconceito com os mais velhos? Empresas aposentam ou despedem colaboradores experientes, alegando necessidade de renovação. Arriscam perder o saudável equilíbrio da somatória das vivências de diferentes gerações.
Um estatuto é bom e serve de base para a reivindicação de direitos escritos, mas não recebidos. Os brasileiros envelhecem desprovidos de educação, poupança e cuidados de saúde física e mental; com oportunidades de trabalho restritas; e sob a ameaça cotidiana do preconceito dentro de casa, na vizinhança, nas ruas.
Um estatuto serve de base para a reivindicação de direitos escritos, mas não recebidos. Ainda é pouco, no entanto. Com mais três décadas, um terço da população brasileira será de idosos. O país precisa de reformas, a começar pela mais necessária de todas, a de comportamento.