“Engravidou porque quis. Quem pariu Mateus que o embale. Quinze anos já está no terceiro filho, é uma sem vergonha! Ser mãe velha é um absurdo! Essa daí é mãe mas quer trabalhar, estudar, ir para as festinhas no final de semana; pensasse nisso antes de fazer. Na hora de revirar os olhinhos não reclamou. Cadê a mãe dessa criança?”
Quem nunca ouviu (ou até mesmo disse) uma das frases acima sendo proferidas aos sete ventos que atire a primeira pedra.
Dizem por aí que lugar de mulher é onde ela quiser. Realmente, lugar de mulher é onde ela quiser desde que essa mulher não seja mãe.
Éramos mulheres. Agora somos mães. São papéis diferentes.
Nada como a misoginia nossa de cada dia. Se antes já era difícil ser mulher em uma sociedade tão machista e violenta, as coisas tendem a piorar quando o teste de gravidez dá positivo porque nossos papéis perante a sociedade mudam. Somos reduzidas a um mero rótulo, afinal mãe é tudo igual, só muda de endereço. Ninguém se importa mais com quem você é, suas ambições e seus anseios (isso se alguém se importava antes), agora você é como as outras mães, todas incluídas no mesmo pacote: as pobres coitadas que jogaram suas vidas fora. Discurso esse que muitas vezes se apresenta de maneira subliminar, quando você tenta subverter o padrão Amélia de qualidade da família tradicional.
Estudar? Sair? Manter uma vida ativa? Namorar? Repensar sua vida amorosa? Mudar de vida? Nada disso lhe pertence mais. Seja como um urso e hiberne socialmente durante os primeiro dezoito anos do seu baby.
Esqueça seus planos e sonhos porque nada nunca mais será igual. Se antes você tinha uma vida legal, cheia de amigos e coisas divertidas, apenas esqueça. Agora você estará sozinha. Sozinha com um bebê. Para ser bem sincera, as pessoas no geral costumam amar suas próprias mães, não as mães dos outros. Para as nossas mães? Tuuuuudo. Para a mãe dos outros? Exclusão social e silenciamento.
A maternidade pode ser dolorosa. Não porque somos incapazes ou falhamos com nossos filhos, mas porque o mundo nos exige a perfeição e ao mesmo tempo nos isola. Mães são mulheres. Mulheres são pessoas. Pessoas com sentimentos, com múltiplas possibilidades e nos restringir apenas aos espaços kids é desonesto. É cruel.
Mulheres que são mães precisam ocupar os espaços. Precisamos ter representatividade, voz ativa e alcançar postos que nos são renegados pelo simples fato de termos gerado/ adotado uma criança. Nós precisamos de acolhimento e de uma rede de apoio que nos ajude com nossos bebês, e que nos faça acreditar que vai ficar tudo bem. Porque, acredite, não é uma trajetória fácil ser responsável pela vida de alguém.
A maternidade não é algo natural. É um amor construído, uma caminhada solitária. Quantas vezes mães não se desesperam e choram? Eu já chorei muito e ainda choro. É tão mais confortável afirmar que o amor materno é incondicional e ignorar que nossas vidas enquanto mulheres também importam. A quais condições estamos submetidas enquanto somos invisibilizadas e carregamos sozinhas a responsabilidade de educarmos nossos filhos?
Alguém já te perguntou hoje como você se sente? Se você está precisando de ajuda, se seu filho precisa de ajuda? Qual foi a última vez que você se divertiu sem o seu filho? Você está tendo o apoio necessário? Alguém já te abraçou hoje?
Nós enquanto mães, estamos adoecendo. E infâncias saudáveis não se constroem com mães doentes. Não façamos da solidão materna um lugar comum porque não é. Não deve ser.
Blogueiras Negras
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