FLAVIA GUERRA · SETEMBRO 27, 2016
Se o Festival de Brasília 2016 jogou luz em temas polêmicos e necessários, como a questão, e o cinema, indígena, o cinema negro, a violência contra a mulher, entre tantos outros, o destaque ao cinema produzido por realizadoras (sejam elas diretoras, produtoras, atrizes e afins) merece atenção também especial nesta edição.
Em um balanço do festival, as mulheres mostraram a que vieram. E revelaram que contam histórias de amizade, dramas, risos, violência, superação, cumplicidade com o olhar feminino, claro, mas com domínio do fazer audiovisual. Este foi o caso dos longas exibidos fora de competição Precisamos Falar do Assédio, de Paula Sacchetta, e Câmara de Espelhos, de Dea Ferraz (leia mais aqui: No Festival de Brasília, é preciso falar de cinema e resistência), dois documentários que movimentaram os primeiros dias de festival e dialogaram muito bem entre si ao levar para as telas a questão da imagem e da violência contra a mulher.
Já na Mostra Competitiva, este é o caso de um dos longas mais aplaudidos do festival: A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha. A diretora mineira não pôde vir ao festival por conta do nascimento de seu filho, mas enviou uma comitiva composta praticamente só por mulheres. Entre elas, a produtora Luana Melgaço, além das atrizes portuguesas Elizabete Francisca e Francisca Manuel, que representaram a produção mineira e pediram mais incentivos e políticas públicas para o setor audiovisual do estado.
Na tela, o que se viu em A Cidade… é o amadurecimento de uma diretora que já foi premiada com obras como Aboio (Melhor Documentário no É Tudo Verdade 2005), Acácio (2008) e A Falta que me Faz (2009, Melhor filme do Festival Latino-Americao de São Paulo). Na trama, Elizabete e Francisca vivem duas portuguesas que escolhem Belo Horizonte para viver. A primeira é Teresa, uma jovem vivaz e inquieta, que acaba de chegar de Lisboa e praticamente invade o cotidiano já estabelecido e calmo de Francisca, a segunda.
Enquanto uma traz na bagagem a energia e a expectativa de se construir, mas também os desafios de entender uma terra estranha (ainda que, quase, fale sua língua), a segunda já carrega cansaços, desilusões, ainda que já tenha mais conforto emocional nos laços afetivos que criou com os colegas da Tasca em que trabalha, o rapaz que é mais que um amigo, mas que não chega a ser um namorado.
Tudo parece muito cotidiano, pequeno em suas situações diárias, mas tudo é também grande e simbólico em cada gesto de aproximação e estranhamento entre as duas e o ambiente em que as cerca. Francisca, a mais sisuda e distante, acha os brasileiros folgados, o tempo todo pedindo cigarro, invadindo pequenas privacidades do outro. Seu amigo brasileiro rebate dizendo que “somos afetuosos.” “Afetuosos e folgados”, responde Francisca, em uma observação que resume tão bem o estranhamento que sempre um imigrante tem com pequenas-grandes diferenças entre sua cultura e a ‘dos outros’.
Na tela, o que se viu em A Cidade… é o amadurecimento de uma diretora que já foi premiada com obras como Aboio (Melhor Documentário no É Tudo Verdade 2005), Acácio (2008) e A Falta que me Faz (2009, Melhor filme do Festival Latino-Americao de São Paulo). Na trama, Elizabete e Francisca vivem duas portuguesas que escolhem Belo Horizonte para viver. A primeira é Teresa, uma jovem vivaz e inquieta, que acaba de chegar de Lisboa e praticamente invade o cotidiano já estabelecido e calmo de Francisca, a segunda.
Enquanto uma traz na bagagem a energia e a expectativa de se construir, mas também os desafios de entender uma terra estranha (ainda que, quase, fale sua língua), a segunda já carrega cansaços, desilusões, ainda que já tenha mais conforto emocional nos laços afetivos que criou com os colegas da Tasca em que trabalha, o rapaz que é mais que um amigo, mas que não chega a ser um namorado.
Tudo parece muito cotidiano, pequeno em suas situações diárias, mas tudo é também grande e simbólico em cada gesto de aproximação e estranhamento entre as duas e o ambiente em que as cerca. Francisca, a mais sisuda e distante, acha os brasileiros folgados, o tempo todo pedindo cigarro, invadindo pequenas privacidades do outro. Seu amigo brasileiro rebate dizendo que “somos afetuosos.” “Afetuosos e folgados”, responde Francisca, em uma observação que resume tão bem o estranhamento que sempre um imigrante tem com pequenas-grandes diferenças entre sua cultura e a ‘dos outros’.
Já Teresa parece não só lidar bem com este excesso de intimidade brasileira como precisar dela. É mais frágil aparentemente, mas também mais forte ao se permitir rir mais de si mesma, errar e ser errante. A construção da intimidade entre as duas, apesar de tão contratantes quanto Belo Horizonte e Lisboa, é fruto de uma interação muito forte entre diretora, atrizes e direção de fotografia (de Ivo Lopes Araújo). A câmera de Ivo é praticamente um personagem a mais no apartamento em que as duas vivem. E dança, acompanhando os movimentos de Teresa e Francisca, ao sabor dos sentimentos, ações e reações de cada uma.
Com a carga real que poucos filmes revelam, a amizade entre duas mulheres, que se tocam, se abraçam, mas também se estranham, é orgânica, e traduz o que de fato é o cotidiano de amigas que vivem e convivem juntas.
Estado Itinerante – Já entre os curtas, o também mineiro ‘Estado Itinerante’ se revelou um dos mais consistentes filmes da competição, se não de todo o festival. Dirigido por Ana Carolina Soares, o filme narra o drama de Vivi, uma jovem que, ao mesmo tempo em que consegue um emprego como cobradora de ônibus em Belo Horizonte, vive uma realidade de violência em casa. Produzido por Ana Carolina e por Denise Flores, o curta traz Lira Ribas em uma história profunda, com seu arco dramático bem desenvolvido e que emocionou a plateia do Cine Brasília em seus 25 minutos de duração.
A direção precisa de Ana Carolina, que aposta na construção da cumplicidade de Vivi com outras cobradoras para tratar de um tema duro em um ambiente ainda muito masculino, deu ao festival momentos de cinefilia pura. “O machismo cultural está ali no dia a dia delas. É preciso romper estas barreiras”, comentou a diretora.
Um dos melhores momentos do filme é exatamente a cena em que Vivi põe para tocar Don’t Cry, do Guns n’ Roses, para tocar em um típico boteco. Em um plano sequência que dura o tempo da canção, ela dança com uma figura que o espectador só vê primeiramente de costas, de cabelo afro curto, pode ser um homem. Mas aos poucos, enquanto Vivi dança, revela-se a trans Cristal em cena. E não se trata de uma dança a duas que sugere exatamente a sedução, mas sim a cumplicidade da violência diária sofrida por cada uma delas. Cinema puro.
A cineasta explicou que este plano, a priori, deveria ser cortado e montado. “Mas o Diogo (Lisboa, diretor de fotografia) quando foi assistir ao corte, defendeu, brigou que o plano tinha de estar inteiro. Que as pessoas tinham que conseguir chegar até o final da cena. Eu e o Cacá (Roscoe, montador) sentimos que com o corte a gente tinha tirado a progressão dramática que ela vai sentindo.” E assim a cena se manteve íntegra, intacta e é o ponto alto do filme. Não só pelo plano cinematográfico, mas por trazer a cumplicidade entre as duas mulheres que dançam e levá-la a um grau acima do óbvio.
“Foi muito importante ter a Cristal nesta cena. É um filme sobre cumplicidade. Romper as barreiras da rivalidade entre as mulheres, que é algo colocado pelo machismo. Participo de alguns grupos de internet e me incomoda quando são excluídas as mulheres trans. A Cristal é uma mulher trans, negra e é candidata a vereadora. Uma mulher de luta. Romper mais uma barreira. Aquela dança é um encontro em que há a tensão e sabemos as violências que passamos. É um encontro de celebração.
A força de Estado Itinerante está justamente em valorizar os detalhes do não dito, do que se pode entender aos poucos e do que está em extra-campo, em um filme em que nunca se vê o rosto de nenhum homem. “Para mim isso sempre foi uma questão. A relação do feminismo ativo no filme eu vim perceber um pouco no processo quando já estava filmando. Percebi na montagem que tinha trazido todas para o protagonismo. Porque o extra-campo era um lugar de escolha para poder expandir o tema. E por isso os sons e os diálogos eram importantes para trazer a questão”, comentou a diretora.
Time forte – Além destes exemplos da presença feminina nas telas de Brasília, há diversos outros que rendem tantas mais análises de como a forte presença das profissionais, cada vez mais articuladas entre si, resulta em boas histórias e pontos de vista diversos no cinema nacional.
Alice de Andrade exibiu também na Mostra Competitiva sua declaração de amor a Cuba no lírico Vinte Anos. Claudia Priscila (em parceria com Pedro Marques) extrapolou as fronteiras da ficção e do documentário para (re)construir a história de Jean Claude Bernadet, um dos maiores críticos de cinema do Brasil, que tem se dedicado também à atuação e se reinventa a cada ação, em A Destruição de Bernadet.
A lista é grande e incompleta, pois a presença feminina no festival foi muito maior do que este texto abarca. Mas vale ressaltar que a participação das mulheres em Brasília 2016 se estende também a produtoras como Vânia Catani (que trouxe o incômodo, mas interessantíssimo, Deserto, de Guilherme Weber), à jornalista Andrea Cals na Comissão de Seleção dos longas, e à produtora Ana Arruda Neiva e Marisa Merlo na seleção de curtas. Já no júri de longas, as atrizes Camila Márdila e Mayana Neiva, a produtora Diana Almeida, a diretora de fotografia Kátia Coelho dividiram com o professor João Luiz Vieira, o crítico Luiz Carlos Merten e o cineasta Paulo Caldas a árdua tarefa de eleger os premiados desta edição tão diversa. Nos curtas, a jornalista e exibidora Anna Karina de Carvalho e a cineasta Nathália Tereza cumpriram a mesma difícil função ao lado do cineasta Andy Malafaia, Fernando Severo e José Araripe Jr.
Destaque ainda para as cineastas que participaram do encontro ‘Produção Audiovisual, Identidade e Diversidade – Um Olhar dos Realizadores Afrobrasileiros e Indígenas sobre o Cenário Brasileiro do Audiovisual’. O debate foi intenso e uma análise do que afirmaram as cineastas presentes aos dois grupos de discussão virá em breve.
De volta aos concorrentes, há que se citar curtas como Abigail, que tem a assinatura de duas diretoras (Isabel Penoni e Valentina Homem) para retratar, ainda que deixe um gosto de “queremos saber mais e mais”, a figura de Abigail Lopes, que foi mulher de Francisco Meireles, um dos mais notórios sertanias brasileiros, e que conviveu anos com os Xavantes e terminou a vida em trânsito livre entre o mundo imaterial dos orixás.
Já Procura-se Irenice, que é dirigido por dois cineastas (Thiago B. Mendonça e Marco Escrivão), jogou na tela, e na cara da plateia, o nome de uma atleta negra que ousou enfrentar o racismo e a Ditadura dos anos 60 e acabou no esquecimento.
A colaboração com diretores para trazer o protagonismo feminino para as telas também ganhou destaque em Demônia – Melodrama em Três Atos, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet.Despretensioso, o curta é uma sátira sagaz dos clichês do gênero e da vida pós-moderna, em que a banalização da palavra da Bíblia, os dramas familiares, tabus e memes da internet podem conviver todos (quase) pacificamente. Já outros clichês e tabus caem por terra com a história do casal de Bodas de Papel. Dirigido por Keyci Martins e Breno Nina (também protagonista), o curta mexe no vespeiro que são as fantasias sexuais e a inversão de papeis entre homem e mulher. Exercício interessante de provocação em tempos em que o conservadorismo caminha lado a lado com a hipocrisia.
Impossível não lembrar da também mineira, e parceira de Marília Rocha e Luana Melgaço, Clarissa Campolina. A também realizadora competiu com o curta Solon, uma fábula muito particular sobre o nascimento do mundo. O filme, que é fiel ao estilo inventivo da diretora e traz uma união mítica entre as artes plásticas e o cinema, acaba de ser premiado com o Emerging Voices 2016 Film Award. Ao jornal Financial Times, Clarissa afirmou, em ocasião da premiação: “Eu queria contrar uma fábula da reconstrução do mundo, onde Deus é feminino, não masculino, com um corpo que é parte da paisagem e vice-versa.”
Melhor tradução para a própria participação feminina neste Festival de Brasília 2016 não há.
PS: Para terminar, ainda ocorreu no festival o primeiro encontro da Críticas de Cinema do Brasil. Uma iniciativa que visa a articulação das profissionais da área para debates e ações em torno do pensar cinematográfico.
Carta Capital
Com a carga real que poucos filmes revelam, a amizade entre duas mulheres, que se tocam, se abraçam, mas também se estranham, é orgânica, e traduz o que de fato é o cotidiano de amigas que vivem e convivem juntas.
Estado Itinerante – Já entre os curtas, o também mineiro ‘Estado Itinerante’ se revelou um dos mais consistentes filmes da competição, se não de todo o festival. Dirigido por Ana Carolina Soares, o filme narra o drama de Vivi, uma jovem que, ao mesmo tempo em que consegue um emprego como cobradora de ônibus em Belo Horizonte, vive uma realidade de violência em casa. Produzido por Ana Carolina e por Denise Flores, o curta traz Lira Ribas em uma história profunda, com seu arco dramático bem desenvolvido e que emocionou a plateia do Cine Brasília em seus 25 minutos de duração.
A direção precisa de Ana Carolina, que aposta na construção da cumplicidade de Vivi com outras cobradoras para tratar de um tema duro em um ambiente ainda muito masculino, deu ao festival momentos de cinefilia pura. “O machismo cultural está ali no dia a dia delas. É preciso romper estas barreiras”, comentou a diretora.
Um dos melhores momentos do filme é exatamente a cena em que Vivi põe para tocar Don’t Cry, do Guns n’ Roses, para tocar em um típico boteco. Em um plano sequência que dura o tempo da canção, ela dança com uma figura que o espectador só vê primeiramente de costas, de cabelo afro curto, pode ser um homem. Mas aos poucos, enquanto Vivi dança, revela-se a trans Cristal em cena. E não se trata de uma dança a duas que sugere exatamente a sedução, mas sim a cumplicidade da violência diária sofrida por cada uma delas. Cinema puro.
A cineasta explicou que este plano, a priori, deveria ser cortado e montado. “Mas o Diogo (Lisboa, diretor de fotografia) quando foi assistir ao corte, defendeu, brigou que o plano tinha de estar inteiro. Que as pessoas tinham que conseguir chegar até o final da cena. Eu e o Cacá (Roscoe, montador) sentimos que com o corte a gente tinha tirado a progressão dramática que ela vai sentindo.” E assim a cena se manteve íntegra, intacta e é o ponto alto do filme. Não só pelo plano cinematográfico, mas por trazer a cumplicidade entre as duas mulheres que dançam e levá-la a um grau acima do óbvio.
“Foi muito importante ter a Cristal nesta cena. É um filme sobre cumplicidade. Romper as barreiras da rivalidade entre as mulheres, que é algo colocado pelo machismo. Participo de alguns grupos de internet e me incomoda quando são excluídas as mulheres trans. A Cristal é uma mulher trans, negra e é candidata a vereadora. Uma mulher de luta. Romper mais uma barreira. Aquela dança é um encontro em que há a tensão e sabemos as violências que passamos. É um encontro de celebração.
A força de Estado Itinerante está justamente em valorizar os detalhes do não dito, do que se pode entender aos poucos e do que está em extra-campo, em um filme em que nunca se vê o rosto de nenhum homem. “Para mim isso sempre foi uma questão. A relação do feminismo ativo no filme eu vim perceber um pouco no processo quando já estava filmando. Percebi na montagem que tinha trazido todas para o protagonismo. Porque o extra-campo era um lugar de escolha para poder expandir o tema. E por isso os sons e os diálogos eram importantes para trazer a questão”, comentou a diretora.
Time forte – Além destes exemplos da presença feminina nas telas de Brasília, há diversos outros que rendem tantas mais análises de como a forte presença das profissionais, cada vez mais articuladas entre si, resulta em boas histórias e pontos de vista diversos no cinema nacional.
Alice de Andrade exibiu também na Mostra Competitiva sua declaração de amor a Cuba no lírico Vinte Anos. Claudia Priscila (em parceria com Pedro Marques) extrapolou as fronteiras da ficção e do documentário para (re)construir a história de Jean Claude Bernadet, um dos maiores críticos de cinema do Brasil, que tem se dedicado também à atuação e se reinventa a cada ação, em A Destruição de Bernadet.
A lista é grande e incompleta, pois a presença feminina no festival foi muito maior do que este texto abarca. Mas vale ressaltar que a participação das mulheres em Brasília 2016 se estende também a produtoras como Vânia Catani (que trouxe o incômodo, mas interessantíssimo, Deserto, de Guilherme Weber), à jornalista Andrea Cals na Comissão de Seleção dos longas, e à produtora Ana Arruda Neiva e Marisa Merlo na seleção de curtas. Já no júri de longas, as atrizes Camila Márdila e Mayana Neiva, a produtora Diana Almeida, a diretora de fotografia Kátia Coelho dividiram com o professor João Luiz Vieira, o crítico Luiz Carlos Merten e o cineasta Paulo Caldas a árdua tarefa de eleger os premiados desta edição tão diversa. Nos curtas, a jornalista e exibidora Anna Karina de Carvalho e a cineasta Nathália Tereza cumpriram a mesma difícil função ao lado do cineasta Andy Malafaia, Fernando Severo e José Araripe Jr.
Destaque ainda para as cineastas que participaram do encontro ‘Produção Audiovisual, Identidade e Diversidade – Um Olhar dos Realizadores Afrobrasileiros e Indígenas sobre o Cenário Brasileiro do Audiovisual’. O debate foi intenso e uma análise do que afirmaram as cineastas presentes aos dois grupos de discussão virá em breve.
De volta aos concorrentes, há que se citar curtas como Abigail, que tem a assinatura de duas diretoras (Isabel Penoni e Valentina Homem) para retratar, ainda que deixe um gosto de “queremos saber mais e mais”, a figura de Abigail Lopes, que foi mulher de Francisco Meireles, um dos mais notórios sertanias brasileiros, e que conviveu anos com os Xavantes e terminou a vida em trânsito livre entre o mundo imaterial dos orixás.
Já Procura-se Irenice, que é dirigido por dois cineastas (Thiago B. Mendonça e Marco Escrivão), jogou na tela, e na cara da plateia, o nome de uma atleta negra que ousou enfrentar o racismo e a Ditadura dos anos 60 e acabou no esquecimento.
A colaboração com diretores para trazer o protagonismo feminino para as telas também ganhou destaque em Demônia – Melodrama em Três Atos, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet.Despretensioso, o curta é uma sátira sagaz dos clichês do gênero e da vida pós-moderna, em que a banalização da palavra da Bíblia, os dramas familiares, tabus e memes da internet podem conviver todos (quase) pacificamente. Já outros clichês e tabus caem por terra com a história do casal de Bodas de Papel. Dirigido por Keyci Martins e Breno Nina (também protagonista), o curta mexe no vespeiro que são as fantasias sexuais e a inversão de papeis entre homem e mulher. Exercício interessante de provocação em tempos em que o conservadorismo caminha lado a lado com a hipocrisia.
Impossível não lembrar da também mineira, e parceira de Marília Rocha e Luana Melgaço, Clarissa Campolina. A também realizadora competiu com o curta Solon, uma fábula muito particular sobre o nascimento do mundo. O filme, que é fiel ao estilo inventivo da diretora e traz uma união mítica entre as artes plásticas e o cinema, acaba de ser premiado com o Emerging Voices 2016 Film Award. Ao jornal Financial Times, Clarissa afirmou, em ocasião da premiação: “Eu queria contrar uma fábula da reconstrução do mundo, onde Deus é feminino, não masculino, com um corpo que é parte da paisagem e vice-versa.”
Melhor tradução para a própria participação feminina neste Festival de Brasília 2016 não há.
PS: Para terminar, ainda ocorreu no festival o primeiro encontro da Críticas de Cinema do Brasil. Uma iniciativa que visa a articulação das profissionais da área para debates e ações em torno do pensar cinematográfico.
Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário