“Só a ação é prerrogativa exclusiva do homem”, escreve a filósofa: “nem um animal nem um deus é capaz de ação, e só a ação depende inteiramente da constante presença de outros”
Curadoria e Narração: Alexandre Machado
[Abertura do capítulo “As esferas pública e privada — O homem: animal social ou político”, da obra “A Condição Humana”. Disponível na internet ou, em versão impressa, na rede de sebos Estante Virtual]
Dentre as atividades humanas, uma se destaca por ser a única que, de forma alguma, poderia ser realizada fora da sociedade dos homens: a ação. É certo que um trabalho estritamente solitário não seria um trabalho humano; na verdade, tal trabalho seria mais condizente com um animal laborans, não com um homem. Ademais, um homem que obrasse sem a intervenção de qualquer outro homem, seria um mero fabricador, uma espécie de demiurgo platônico, e não propriamente um ser humano.
Entretanto, a ação é ainda mais especificamente humana. Com efeito, de nenhum modo, mesmo que quisesse, o homem seria capaz de realizá-la sozinho, já que o que a constitui é exatamente a presença constante dos outros homens. A ação é a única atividade do homem que não pode, em absoluto, ser realizada sem a presença do seu semelhante, ou seja, é a única atividade que não interpõe, entre um homem e outro, a mediação das coisas. Desta feita, a atividade realizada pela ação atinge, direta e imediatamente, o outro.