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sábado, 24 de setembro de 2016

FÓRUM INTERNACIONAL DE FEMINISMOS NEGROS – BFF: O QUE ROLOU?

LARISSA SANTIAGO

Um encontro PRETA!
Its was SO BLACK!
DE LEY!


Essa foi a expressão que surgiu como verbalização do que foi o 1º Fórum de Feminismos Negros que aconteceu nos últimos dias 5 e 6 de setembro na Costa do Sauípe, Bahia.

No primeiro dia, nos reunimos em torno de discussões sobre território e territorialidade e as mulheres Charo Minas-Rojas (Colômbia), Amina Mama (Nigéria) e Po Kimani (Quênia) falaram sobre nossos corpos como territórios e disputas de poder e de como a luta das mulheres negras está sempre ligada nessa noção de territoritalidade como pertecimento e memória – seja do corpo, da natureza e da alma.

Também falamos do futuro e do desejo de os feminismos negros construírem um novo mundo justamente por termos espiritualidade, memória e senso de comunidade. E que para avançarmos, precisamos sempre nos conectar com nós mesmas, sermos mais leves umas com as outras e nos mantermos em constante construção – só conselho bom.

Em uma das discussões mais quentes, Po Kimani nos lembrou sobre linguagem e de como devemos nos preocupar em sermos inclusivas com as pretas que não querem se identificar como irmãs ou mulheres e de como é nosso papel respeitar as expressões de gênero que transitam entre nós, já que esses também são jeitos de estar e acessar o mundo.

No segundo dia, partimos para as problematizações sobre o futuro. Falamos de uma construção de um feminismo negro global, respeitando suas especificidades e diversidades – onde a língua e as barrerias colonizadoras como território e fronteiras são apontados como pedras no caminho, mas que não pode nos paralisar. Falou-se na criação de uma linguagem comum, feminista, com expressões próprias e que incluam as línguas não hegemônicas como swhali, português e castellano.

Colocamos o amor na roda e como a solidariedade entre nós precisa ser o primeiro passo para a construção de um mundo com justiça social e justiça para as mulheres. D’bi Young Anitafrika, artista jamaicana, enfatizou que o amor e autodeterminação precisam superar o medo. Nesse dia também contamos com a presença de Jurema Werneck (Brasiiiil) que lembrou da nossa situação política e como ela tem afetado diretamente a vida das mulheres negras; articulando com D’bi, Jurema nos lembrou que o medo tem sido usado como elemento repressor, mas que ele não deve nos paralisar.

SESSÕES DA COMUNIDADE
Dentro do Fórum de Feminismos Negros aconteceram diversas outras atividades que foram denominadas Sessões da Comunidade, onde discutimos sobre aborto, sexualidade, cooperação internacional e como continuar as interações e integrações depois do Fórum.

Em uma das sessões que mais lotou, nós fomos apresentadas a um novíssimo Fundo de recursos de Feminismo Negro que contará com investimentos de mulheres negras norte americanas e de outros países junto com esforços de pessoas jurídicas. Basicamente esse fundo deve ser realidade dentro de dois anos e beneficiará mulheres negras no mundo inteiro que trabalhem com jovens negras, trabalhadoras domésticas, questões de sexualidade e direitos reprodutivos.

O QUE FICOU
Conversando com algumas mulheres negras do Equador, Honduras, Brasil e EUA sentimos muita falta de uma plenária conclusiva, que fechasse o Fórum e que de fato fizesse encaminhamentos. Sentimos muito por não ter criado juntas perspectivas para um próximo Fórum e por deixarmos passar a oportunidade de construir uma agenda global.

O desejo de continuar conectadas a essas mulheres ficou e seguiremos juntas criando uma rede de maneira segura e com as ferramentas que nos proporcionem mais privacidade.

Encerramos o evento com Ya Jaciara (Brasiiiil) nos lembrando que as nossas ancestrais vibram e vibrarão por nós. Numa demonstração de conexão e de pontes visíveis, as sacerdotisas da Nigéria e Honduras pediram a benção das entidades ancestrais e terminamos saudando Yemanjá e Exu, ambos orixas donos dos nossos destinos e das comunicações, respectivamente.

O saldo é positivo. Estamos caminhando juntas, construindo e reconectando nossos desejos e objetivos feministas sepapados pelo atlântico, mas tão comuns quando postos juntos. Foi um encontro PRETA! So BLACK! DE LEY!

ATUALIZANDO… …. ….
Continuamos muitas de nós reunidas para o 13º Fórum Awid que aconteceu entre os dias 8 e 11 de setembro e, percebendo a universalidade do Feminismo ali posto, nos organizamos em sessões específicas, onde algumas mulheres como Gisele Santos, Bia Onça, Rosália Lemos, Rosa Marques e tantas outras trouxeram a experiência da Marcha de Mulheres Negras; mesas autorganizadas como a da exibição do curta “Dia de Jerusa” de Viviane Ferreira (Brasiiiil) e as tantos outros grupos de trabalho organizados pelas mulheres negras de todo o mundo, enquanto o Fórum discutia questões outras – incluindo muitas mesas sobre financiamento de projetos.

Importante citar que um dos painéis mais emocionantes trazia a contação das estratégias das mulheres negras, chamado “Experiências de solidariedade, resistência e criações disruptivas”. Nessa plenária, Alicia Garza do #BlackLivesMatter (siiiim, ela!) enfatizou a importância de recontarmos nossas histórias, inclusive as que são hegemônicas dentro das nossas comunidades – como a balela de que só os homens são vítimas de violência policial -; Khouloud Mahdhaoui, da Tunísia nos falou da sua experiência em organizar um festival numa zona de conflito, onde as mulheres puderam resgatar sua identidade e fazer da arte um caminho para a libertação.

Foi nessa mesa também que Daughtie Ogutu, Anna Gabriel i Sabaté (Espanha), Arelis Uriana (Colômbia) e Yasmin Thayná (Brasiiiil) nos fizeram refletir sobre a importância do autocuidado: de como exercer a cura coletivamente é importante e que engolir o choro não precisa ser a única solução.

O FECHAMENTO
As mulheres negras são rios que se encontram. Formam uma pororoca, eu diria.

As jovens negras brasileiras puxaram uma conversa sobre mulherismo e feminismo e como pauta, a discussão levaria a cabo o que haveria de comum nessas duas correntes para que juntas pensássemos numa solução aos problemas que nos afligem igualmente. Ora, ao ouvirmos mulheres nigerianas, jamaicanas, americanas e de mais outros (pelo menos) 10 países, percebemos que o conflito teórico é muito menor do que aqueles travados nos facebooks da vida.

Ao que explicaram, o mulherismo surge de uma visão contra hegemônica. Onde o feminismo seria aquele universal, que luta pelo voto e mulheres no mercado de trabalho. Citando Alice Walker, as pretas enfatizaram que o mulherismo seria o contra ponto no que diz respeito a consideração da luta anterior das mulheres negras africanas e na diáspora – o que no Brasil costumamos chamar “movimento de mulheres negras”.

Tendo isso claro, nos juntamos numa construção maior e propomos um encontro de Feminismos Negros antes do Fórum da Awid, – levando em consideração inclusive que 4 anos é muito tempo pra nosso povo – encontro independente e que pudesse, por exemplo, ser sediado em Cuba ou em outro país de língua latina.

Felizes, não pensamos em concluir o fórum, mas continuá-lo na rede. E juntas continuamos na construção de uma aliança global por um feminismo negro que inclui, que abraça e chora. Está tudo só começando! #BlackFeminism #FeminismoNegro

Blogueiras Negras

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