Escrito no
dia 24 de março de 2014, numa madrugada de insônia.
Helena,
Quando você
nasceu foi declarada do sexo feminino, mas quando ainda era muito pequena, um
cisco na minha barriga, já imaginava “E se a escolha não for a mesma constatada
pelos médicos?”. Sim, já discuti isso com seu pai.
Sou uma boba,
fico imaginando você já adulta, me contando suas novidades na mesa, me
apresentando amigos, levando broncas e tomando um belo café com leite preparado
com todo carinho por mim e sempre – s-e-m-p-r-e – te imagino como uma folha em
branco. Nenhuma roupa, nenhum corte de cabelo ou qualquer preferência da minha
imaginação que possa imitar suas escolhas. São suas, não me meta nelas.
Claro, sempre
te darei conselhos, irei te ouvir e vou opinar quando achar necessário, mas
quem você é e o que deseja, são questões que apenas diz respeito ao seu ser.
Hoje você tem 8 meses, quase 9, brinca com avião, lata de milho, bonecas,
tartaruga ninja, forma de silicone de cupcake, mordedores, saquinhos com feijão
e arroz, pote cheio de feijão, sim, estou sendo muito criativa na tarefa de te
entreter sem gastar dinheiro e o mais importante: aqui não tem brinquedo de
menina e menino. Temos diversão.
Lembre-se
disso. Vou te vestir de rosa – mais rosa, porque você ganha muitas roupas dessa
cor – vermelho, azul, preto, tudo que achar confortável e sim, as vezes coloco
presilhas no seu cabelo, mas devo admitir que acho aquilo chato para crianças.
Só quero te
deixar claro, querida, você pode ser um menino, uma menina, algo entre um ponto
e outro, uma flor, um pedaço de nuvem, um peixe com pés, tudo que você quiser,
desde que seja uma pessoa de opinião própria. Prefiro que você reflita sobre
tudo e me conte sobre sua decisão, do que seja a garotinha perfeita e de
sucesso da mamãe. Melhor, nem seja, isso é muito chato.
Desejo do
fundo de minha alma que você pense sobre o mundo, veja desenhos no céu,
acredite no potencial criativo humano e fale sobre concepções, do que o que
conhecemos como “normal”.
Tenho medo,
claro, que você sofra violência por ser mulher ou por qualquer outra escolha
futura, mas se quero uma filha corajosa, também devo me cobrar a coragem de te
ajudar a enfrentar o mundo. Somos uma equipe, lembre-se disso. O mundo e seus
conceitos pré-definidos podem se explodir em purpurina.
Com amor,
Mamãe.
http://cartasparahelena.wordpress.com/2014/03/30/helena-voce-pode-ser-um-menino-se-quiser/
Nenhum comentário:
Postar um comentário