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terça-feira, 19 de abril de 2011

Correio Braziliense - 19/04 - Violência contra mulheres no interior do Brasil resiste ao tempo

A filha de Maria Eva morreu em de Planaltina de Goiás (GO) após receber 57 facadas: "Ela falava que ia ganhar na loteria para tirar a gente daqui"
A violência no interior do Brasil resiste ao tempo. Perpetua-se pela vulnerabilidade das vítimas e pelas falhas do Estado. Enquanto houve um aumento médio de 30% nos casos de femicídio —  assassinato de mulheres —, na última década, no Brasil, o recorte desse tipo de crime no interior do país é ainda mais preocupante. No Pará, o crescimento foi de 256%. Passou de 63 casos para 226. Na Paraíba, em 2000, 44 mulheres foram assassinadas, segundo dados do Ministério da Saúde. No ano passado, 112.
“O drama das mulheres no interior é que elas estão longe das delegacias e de outros serviços de assistência. Muitas vezes, elas começam a sofrer pequenas manifestações de violência e, como não têm a quem recorrer, vão crescendo numa escalada que pode chegar ao homicídio”, afirma a psicóloga Lenira Silveira, que trabalhou durante 18 anos na Casa Eliane de Gramont, instituição de São Paulo especializada em atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica.
Na zona rural de Planaltina de Goiás, Andréia da Silva Oliveira foi assassinada aos 15 anos com uma peixeira. Acabava ali o sonho de ser mãe que a acompanhava desde pequena. Ela ainda brincava de bonecas quando descobriu estar grávida de um casal de gêmeos. Recebeu 57 facadas de Francisco das Chagas Cardoso, 54 anos.


Os dois trabalhavam na feira central da cidade. Um interesse não correspondido teria sido a motivação para o assassinato. Mesmo após um ano e três meses da morte de Andréia, o pai dela, Damião Caetano de Oliveir, 42, entra e sai da sala da casa onde mora e se mostra transtornado em recuperar na memória os detalhes do crime que destruiu os planos ainda imaturos da filha. “Ela falava que ia ganhar na loteria para tirar a gente daqui”, emociona-se Maria Eva Pereira, mãe da jovem assassinada.

Herança
“O que se percebe é que nessas regiões ainda predomina uma situação patriarcal e o domínio masculino. A mulher ainda é vista como objeto, como propriedade do homem, que não trata a companheira com respeito, mas à base da submissão. Assim, quando a mulher faz qualquer coisa errada ou tem algum vacilo, o homem recorre à violência e não ao diálogo”, afirma o delegado de Barbalha (CE), Marcos Antonio dos Santos. Na região, 173 mulheres foram mortas nos últimos 10 anos. Boa parte dos crimes na zona rural. Para conter os assassinatos, segundo o delegado, é preciso muito mais do que a criação de delegacias e juizados especializados. “Só mesmo um trabalho de conscientização para que os filhos desses agressores tenham mais respeito com as futuras mulheres.”


No Vale do Jequitinhonha (MG), Luciene Pereira de Sousa foi assassinada com golpes de foice, em 11 de fevereiro deste ano, pelo ex-namorado, o lavrador Antônio Rodrigues dos Santos, 21 anos. O irmão da jovem, Gleuson Pereira de Sousa, ao tentar defendê-la, teve o antebraço esquerdo decepado, mas resistiu aos ferimentos. Antônio foi preso no dia seguinte em Araçuaí, cidade vizinha a Novo Cruzeiro, onde o crime ocorreu. Ele confessou ter premeditado a morte da ex. Integrante de uma família de quatro irmãos, Luciene era muito tímida e quase nunca ia à área urbana.

Amedrontada e querendo esquecer a tragédia, a família da adolescente deixou a comunidade do Córrego do Rabelo. Mora hoje em Grupiara, localidade de difícil acesso na zona rural de Novo Cruzeiro, a 44 quilômetros da sede do município. No lugar, só se chega de moto, a cavalo ou a pé devido à precariedade das estradas da região.


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