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sábado, 26 de novembro de 2011

Salário igual ao dos homens, já!


Aprendemos tudo, chegamos a todos os postos, abraçamos qualquer carreira, mas nosso salário ainda é menor que o dos homens. Vamos virar esse jogo?
Iracy Paulina em 28.10.2011
http://claudia.abril.com.br/materia/salario-igual-ao-dos-homens-ja

carreira-salarios-iguais

(Foto: Karine Basilio)

Em setembro, Dilma Rousseff estampou a capa da Newsweek. A revista americana mostrou uma pesquisa sobre o progresso da mulher no mundo e elegeu a presidenta como o rosto emblemático das conquistas femininas na última década. O título da reportagem, que conta também a trajetória pessoal e política da brasileira, era: “Não mexa com Dilma”. Responsável pela estreia da mulher no comando do Brasil, um país com economia em franco crescimento ante a crise mundial (como definiu a publicação), no dia 21 ela proferiu o discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi o primeiro nome feminino a fazê-lo nos 66 anos da organização. Falou para uma plateia coalhada de engravatados, ainda que fosse possível ver algumas das 20 mulheres que chefiam Estados. Dilma iniciou o discurso: “É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna, que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo”. Mas a presidenta terá de se empenhar muitíssimo para transformar o Brasil no país da paridade.
Por quê? No seu trabalho, leitora, o funcionário do lado, que desempenha função idêntica – nem sempre com a mesma competência –, certamente ganha bem mais que você. A prática vem do patriarcalismo, que ainda norteia o mercado. Se não fizermos pressão, a situação se manterá: a direção das empresas é masculina e entende que o universo público pertence ao homem e o doméstico à mulher. Finge esquecer que ocupamos 48,8% dos postos de trabalho. Ignora que nos incomoda ganhar menos. Em 2010, nosso salário médio era de 1 553,44 reais, 83% do ganho do homem, com holerite médio de 1 876,58 reais. Se Dilma adotar medidas públicas de incentivo, conseguir criar entre os empresários um ambiente pró-equidade e, com isso, diminuir significativamente a disparidade, poderá voltar à ONU para ensinar a fórmula aos outros dirigentes. “O salário feminino tem sempre um gap em relação ao masculino. Esse é um fenômeno mundial”, afirma Rebeca Tavares, representante da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul. Nos Estados Unidos de Barack Obama a situação é ainda pior que a nossa: as americanas que têm só o ensino médio recebem 65% do contracheque dos homens no mesmo nível.

Atrasa o planeta
Além de ser uma enorme injustiça, atrapalha o andamento do mundo, como ressaltou a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, no especial da Newsweek: “Quando liberamos o potencial econômico das mulheres, elevamos o desempenho econômico das comunidades e das nações”. Nas palavras de Hillary, mais dinheiro na bolsa feminina significa estabilidade política, menos conflitos, mais alimentos e desenvolvimento. Lembra a revista que os 20 países chefiados por mulheres elegem democraticamente seus representantes e somam um Produto Interno Bruto (PIB) de 200 bilhões de dólares. Simples assim: a mulher investe 90% de sua renda na família, enquanto o homem empenha apenas 40%, gastando o resto, em geral, com ele mesmo. Ela estuda, produz melhor e compra mais, investe nos filhos, amplia a casa, influencia as vizinhas, leva a comunidade a cobrar qualidade do serviço público... Não é por outro motivo que “estabelecer a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres” está entre os oito objetivos de desenvolvimento do milênio que os 192 países-membros das Nações Unidas se comprometeram a cumprir até 2015.

Muito estudo, menos grana
Voltando ao Brasil: a distância entre os holerites é um vexame ainda mais estridente nas atividades que exigem escolaridade elevada, faixa em que as mulheres deveriam levar vantagem, já que têm, em média, um ano a mais de estudo que os homens, ocupam 57% das vagas universitárias e também são maioria nos cursos de pós-graduação. Esse grupo qualificado recebe apenas 60% do ganho masculino. “É uma questão cultural: nós somos vistas como ótimas para administrar a pobreza – no Bolsa Família, as beneficiárias são as mulheres, tidas pelo governo federal como honestas e altruístas. Mas a administração da riqueza está fora do que a sociedade espera das mulheres”, observa Hildete de Melo, coordenadora do núcleo transdisciplinar de estudos de gênero da Universidade Federal Fluminense.

Caminhos para mudar
As mulheres precisam assumir cargos de chefia. Do contrário, vamos comer poeira por mais algumas décadas. Uma forma é a designação de tutores para ajudar funcionárias com perfil de liderança a crescer. “Nos Estados Unidos, consultorias em RH estão fazendo um programa personalizado”, explica Rebeca Tavares. Traçam os objetivos da mulher: algumas querem chegar ao topo, outras desejam conciliar melhor trabalho e vida doméstica e almejam ir até a gerência. Desenhado o perfil, a consultoria prepara um plano de tutoria adequado às aspirações.
O Grupo HSBC adotou esse modelo no Brasil, em 2007, para acelerar a carreira de mulheres com alto potencial e desempenho. O foco era a formação de sucessores. De lá para cá, cada uma das 120 selecionadas ganhou um mentor entre os executivos sêniores. Houve um aumento de 111% de mulheres nas gerências. Só em 2011, o banco registrou um crescimento de mais de 20% nos cargos executivos.
A Dow Brasil, multinacional do setor químico e petroquímico, com 29% de mulheres no quadro, mantém há 11 anos o Women Innovation Network (WIN), grupo de voluntários dos dois sexos que discute o papel delas na corporação e sugere avanços, como a flexibilização de horário e a possibilidade do trabalho remoto, sem que isso atrapalhe a carreira das funcionárias, como explica a diretora Anna Paula Dacar, líder na WIN. A usina hidrelétrica Itaipu Binacional, com apenas 19% de mulheres, conseguiu dobrar, nos últimos sete anos, a força feminina nas gerências, que hoje representa 20% do total.
A Itaipu recebeu o Selo Pró-Equidade, lançado há quatro anos pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a ONU Mulheres. O programa tenta incentivar as empresas a instituir e ampliar as ações em favor da mulher. Cem companhias já adotaram a iniciativa, mas apenas 14 são privadas, entre elas Wal-Mart e Philips. A ministra da pasta, Iriny Lopes, espera dobrar o número na próxima edição. “Ao aderir, a empresa se compromete a instalar um comitê interno para elaborar um plano de igualdade, considerando questões de gênero e raça”, diz. A Secretaria supervisiona o andamento. Na mesma linha, a ONU Mulheres lançou o guia “Princípios de Empoderamento das Mulheres”, que já conquistou Dow Brasil, CPFL, Whirpool, KPMG e Ernst&Young. Entre outras medidas, ele propõe a presença de 30% de funcionárias nas mesas em que se tomam decisões em todas as áreas do negócio.
O selo e as outras iniciativas são ainda muito tímidos e, numericamente, insuficientes. Basta conferir a última edição de As Melhores Empresas para Trabalhar – 2011. A publicação, de responsabilidade das revistas VOCÊ S.A. e EXAME, da Abril Mídia, que elege 150 companhias do topo, a nata do país, faz a ressalva: “Um dos pontos que mais chama a atenção, mesmo nas melhores empresas para trabalhar, é a diferença que ainda separa homens e mulheres, tanto quantitativa quanto qualitativamente”.
O Instituto Ethos levantou, em parceria com o Ibope, o perfil social, racial e de gênero das 109 maiores empresas brasileiras. A conclusão: elas reconhecem ter papel importante, mas ainda precisam descobrir como melhorar as condições de igualdade. Cerca de 55% dos executivos pesquisados consideram inadequado o percentil de mulheres em cargos de liderança e chefia; 49% acreditam que isso ocorre por faltar ao comando das empresas conhecimento e experiência para lidar com a questão.
Se deputados e senadores forem menos letárgicos e prestarem atenção nessa realidade, poderemos ver, em breve, a aprovação de um projeto – na fila de votação desde agosto – que tem tudo para alterar o panorama (veja “A lei vai passar?”). Com a nova lei, as empresas serão levadas a realizar as mudanças. “A proposta inclui medidas bem práticas, em harmonia com a legislação trabalhista”, explica a juíza do trabalho aposentada Comba Porto, que ajudou na elaboração do texto. “Resta saber o que vai ser aprovado pelos parlamentares.” O passo seguinte no avanço da legislação seria o que alguns países europeus já adotaram: as cotas nos conselhos administrativos, que elegem o presidente da empresa. Regina Madalozzo, especialista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo, diz: “Os conselhos constituídos apenas por homens elegem presidentes com o seu perfil. Dificilmente colocam uma mulher”. A Espanha, em 2007, aprovou uma lei determinando que essas instâncias de decisão tenham no mínimo 40% de mulheres. O prazo para a adequação termina em 2015. Seguindo a lei à risca, esse país pode se levantar da crise e contornar seus graves problemas sociais. “Mas não há penalidade para a companhia que não cumprir”, afirma Regina. Já na Noruega, a empresa que desobedece à regra não pode negociar na bolsa. Este ano, a França se mirou nas duas nações. O enquadramento à norma deve ocorrer até 2016. Se isso não acontecer, os membros do conselho deixarão de ser remunerados. Ótima medida!

As empresas ganham
Com mais mulheres no comando, as empresas vão acabar descobrindo que também colherão bons frutos: “Os negócios ganharão com olhares masculinos e femininos sobre um mesmo problema, o que melhora a produtividade e a eficiência”, lembra Regina. O fato já foi constatado pela consultoria americana McKinsey, em 2010, ao analisar empresas internacionais que negociavam ações na Bolsa de Nova York. Os índices de rentabilidade mais elevados estavam nas corporações com mais mulheres no conselho.

O seu tijolinho
Enquanto as macromudanças não vêm, a mulher deve administrar a carreira de maneira hábil. Por exemplo, precisa garantir que a promoção conquistada venha sempre selada pelo dinheiro. Há uma prática espertinha e condenável se espalhando pelo mercado. Funciona assim: os chefes propõem uma promoção regada a prestígio – só com aumento de responsabilidade e carga de trabalho. Eles argumentam que o momento atual impede o oferecimento de remuneração maior. E ainda dizem: “Quem sabe num próximo momento venha o ajuste...” Recuse esse tipo de afago que não rende nenhum tostão. Mais um aprendizado: você é a sua melhor defesa e deve proteger seus interesses ainda na contratação. Sobre isso, diz Mariá Giulese, diretora executiva da consultoria de RH Lens&Minarelli: “A mulher precisa aprender a negociar seu salário e não aceitar a primeira coisa que lhe oferecem, com medo de ser rejeitada ou perder oportunidades”.

A injustiça
• Somos 51,3% da população brasileira.
• Respondemos por 48,8% dos postos de trabalho.
• Temos 8,8 anos de escolaridade ante 7,7 anos dos homens.
• Ocupamos 57,12% das vagas nas faculdades.
• O nosso salário médio é de 1 553,44 reais, 83% do que ganha o homem (1 876,58 reais).
• As brasileiras mais escolarizadas ganham ainda menos: 60% do holerite masculino.

Poucas no comando
• 13,7% são diretoras, presidentas e CEOs
• 22,1% ocupam as gerências
• 26,8% respondem como supervisoras e chefes

Foto modelo Elise Richon, Elite, Karine Basilio; as demais, Getty Images

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