Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

terça-feira, 6 de março de 2018

Oito escândalos machistas midiáticos que aceitamos sem questionar quando ocorreram

Do seio de Janet Jackson à rivalidade Jennifer Aniston e Angelina Jolie passando pela queda em desgraça de George Michael: tudo aconteceu diante de nossos olhos

GUILLERMO ALONSO
3 MAR 2018 - 10:09


O caso Janet Jackson (2004) 
Um cantor e uma cantora fazem uma apresentação diante de milhões de pessoas no espaço musical mais visto do ano, o intervalo do Super Bowl. No final da apresentação, ele arranca parte do vestido dela e a deixa com um seio parcialmente exposto ao público (seu mamilo nunca apareceu, coberto por uma joia) durante apenas alguns segundos. A central telefônica da rede de televisão que exibe o intervalo explode com chamadas de espectadores indignados. Só ela é culpada por esse erro de figurino. O cantor continua lançando discos com enorme sucesso e uma gigantesca promoção em todos os veículos de comunicação. A cantora continua lançando discos com a mesma qualidade dos anteriores, mas as rádios se negam a tocá-la e os canais de vídeo, a colocar seus videoclipes. Ele é recebido como uma grande estrela no Grammy desse ano, ela tem seu convite retirado. Ele continua sendo hoje em dia uma das maiores estrelas masculinas do pop. Ela, após redefinir gêneros e temáticas nos anos oitenta e noventa com uma série de discos que estão entre os mais vendidos e com as melhores críticas da história, está acabada como cantora por aquele episódio. Ele se chama Justin Timberlake. Ela, Janet Jackson e ninguém ainda lhe pediu desculpas. 

O caso Jennifer Aniston e Angelina Jolie (2005) 
Um famoso ator é casado com uma famosa atriz, uma das intérpretes de comédia romântica mais queridas do mundo. Mas um dia decidem se separar e imediatamente depois (segundo alguns tabloides antes, mas nada soubemos sobre isso) ele inicia uma relação com outra famosa atriz de caráter e físico completamente opostos aos de sua ex-mulher: beleza explosiva, caráter obscuro. O público e a imprensa começam a compará-las. O mundo se divide: uns apoiam a heroína romântica, outros a morena explosiva. Uma é vítima, outra uma destruidora de lares. Enquanto isso, o ator que provocou tudo isso com suas idas e vidas, continua sua bem-sucedida carreira incensado por crítica e público. Ninguém o julga e lhe coloca alguma alcunha. Todos os julgamentos e os apelidos são para as mulheres. Ele é Brad Pitt. Elas, Jennifer Aniston e Angelina Jolie.

O caso George Michael (1998) 
Um célebre ator chamado Hugh Grant que ficou famoso interpretando heróis românticos distraídos é surpreendido recebendo sexo oral de uma prostituta em um local público de Los Angeles. É preso, paga pouco mais de 1.000 dólares (3.250 reais) de multa e continua seu casamento com uma bela atriz britânica, Elizabeth Hurley. Três anos depois um célebre cantor é surpreendido paquerando um homem em um banheiro público (nunca chegaram a fazer sexo, o homem que paquerava era um policial disfarçado e lançou uma armadilha ao cantor). Isso o obriga a sair à força do armário e sua carreira musical nos Estados Unidos empaca para sempre. Após ter vendido dezenas de milhões de discos no país, a imprensa não volta a fazer boas críticas de suas músicas. O ator casado que foi surpreendido fazendo sexo em público com uma prostituta era Hugh Grant e atualmente continua com uma carreira de sucesso no cinema. O cantor que nunca chegou a fazer sexo em um banheiro com outro homem, mas foi vítima de uma armadilha era George Michael e morreu em 2012 após ver como seu legado musical se apagava. Isso é machismo? Sim, a homofobia que teve aqui um papel tão significante (pouco depois daquilo uma luxuosa comunidade de moradores onde Michael queria comprar um apartamento se negou a deixar que ele vivesse ali) é uma das formas mais puras e mesquinhas de machismo.

O caso Madonna (1992) 
Uma famosa cantora, talvez a mais famosa do mundo, decide publicar um disco e um livro em que fala de suas fantasias e explora sua própria sexualidade. Outros o haviam feito antes: Prince, David Bowie, Lenny Kravitz, Serge Gainsbourg, Mick Jagger... E Michael Jackson há uma década agarrava suas partes íntimas em todos os seus videoclipes e shows. Todos jogaram com seus corpos e expressaram seus desejos. Mas a sociedade não aceita que uma mulher o faça com um livro em que grita ao mundo suas fantasias sexuais, joga com os gêneros e os papéis estabelecidos e traça uma linha entre o sexo e o amor que nenhuma outra cantora feminina havia se atrevido a mencionar antes. Sua carreira afundou em um buraco do qual começou a sair quando teve uma filha e fez um musical; em outras palavras, quando começou a comportar-se novamente como uma senhorita. A cantora era Madonna. Nenhuma de todas as que se orgulham de ser suas herdeiras chegou perto de fazer uma declaração sociopolítica tão poderosa como aquele livro, ‘Sex’.

O caso Katie Holmes (2005) 
Uma jovem atriz com um grande futuro nas telas (acabava de participar de um dos filmes de maior sucesso de bilheteria do ano, ‘Batman Begins’) se casa com o ator que mais consegue sucessos de bilheteria do mundo e, quase com certeza, o mais famoso. Os tabloides contam estranhos contratos pré-nupciais cujos deveres e obrigações vão em uma só direção: a da jovem. Artigos em publicações como a Vanity Fair afirmam que a mulher do ator saiu, na realidade, de um processo de seleção feito pela igreja da Cientologia, a qual o ator pertence. Ela abandona sua religião católica para começar a estudar a religião dele. Em suas aparições públicas é quase sempre ele que fala. Ela abandona quase completamente sua carreira apesar de seu último filme ter arrecadado 375 milhões de dólares (1,2 bilhão de reais). Sete anos depois, se divorciam. Os tabloides afirmam que uma das cláusulas do divórcio a proíbe de ser vista em público com algum homem durante cinco anos. Isso nunca se confirmou, mas curiosamente, após esse período acabar, ela aparece pela primeira vez em público com um famoso ator, Jamie Foxx, com quem a imprensa afirma que ela há anos se relaciona em segredo. Ele é Tom Cruise. Ela, Katie Holmes. E esperamos que essa inquietante história algum dia se transforme em um grande filme.

O caso Monica Lewinsky (1998) 
Uma jovem de 22 anos chega à Casa Branca para trabalhar como bolsista e se rende conquistada pelos encantos do homem mais poderoso do mundo. A coisa fica mais séria e entre eles começa uma relação que inclui certos atos sexuais ao longo de dois anos. Ela fica em silêncio sobre isso, mas uma amiga e confidente a trai e grava suas conversas durante meses para entregá-las a um promotor que odiava o presidente. O presidente nega a relação e se refere a ela em público como “essa mulher”. Os programas de televisão fazem brincadeiras sobre ela. O mundo começa a considerá-la uma vigarista e uma frívola enquanto o presidente e sua mulher posam juntos como exemplo de casamento cheio de virtude. Quando ambos são chamados para depor, ele o faz através de um circuito de televisão fechado, ela deve ir em pessoa. Ele continua com seu mandato. Ela se transforma em uma das primeiras vítimas do ‘bullying’ na Internet e após algumas aventuras profissionais fracassadas pelas quais precisa passar para pagar os custos de seu processo, abandona os Estados Unidos e se retira durante dez anos da vida pública para tentar levar uma existência anônima e continuar seus estudos. Ele se chama Bill Clinton; ela, Monica Lewinsky.

O caso Whitney Houston (1985) 
Ela é uma jovenzinha negra que sempre cresceu entre a igreja (onde causava espanto com sua torrente de voz) e o gueto (ela era respondona, briguenta e muito determinada). Mas vários executivos da indústria musical a descobrem e decidem transformá-la em outra coisa: em uma heroína romântica, a cantora negra que agrada os brancos, a mulher forte que deve ocultar seu caráter porque vão transformá-la na namoradinha da América e do mundo inteiro. A jovem acaba sendo uma das maiores estrelas musicais do mundo graças a esse papel imposto que a leva ao abismo. Quando sua verdadeira personalidade aparece e a mulher negra e respondona surge, o público lhe dá as costas. Ela se chamava Whitney Houston e morreu em 2012 após uma longa luta de anos contra o vício. Sua história tem muitas arestas e quase todas têm a ver com a raça, mas também com o machismo: Whitney foi a criação de um enorme grupo de executivos da indústria musical, todos eles homens, que nunca lhe perguntaram o que ela realmente desejava.

O caso Miley Cyrus (2013) 
Uma jovem atriz e cantora que deseja deixar para trás sua imagem de estrela infantil (foi durante cinco anos a protagonista de uma séria da Disney) lança um disco com conteúdo mais adulto e canções com referências ao amor e sexo. Apresenta um de seus singles em um evento da MTV. Como parte de sua estratégia, aparece no palco com pouca roupa e na sequência entra um homem que lançou a que provavelmente é a canção de maior sucesso desse ano (se chama ‘Blurred Lines’) e recebeu acusações porque sua letra trivializa o consentimento sexual e exalta a cultura do estupro (a música dele inclui frases como: “Garota boazinha, sei que você quer fazer”). A jovem cantora se esfrega no homem que tem o dobro de sua idade em uma dança sugestiva e sexualizada. A imprensa a chama de “profundamente perturbada e nojenta” e fala de um possível transtorno alimentar. As associações de pais dizem que ela é um péssimo exemplo aos seus filhos. Ele, sem receber nenhuma crítica, declara em público que não sabia que ela iria se comportar dessa forma no palco. Ela responde ao 'The New York Times' que é claro que ele sabia. “Eu levei toda a culpa. Ele agiu como se não soubesse o que iria acontecer. Mas você estava nos ensaios! Você sabia exatamente o que iria acontecer! Ele aprovou meu figurino e me queria o mais nua possível, porque era assim que as garotas apareciam no videoclipe de sua música!”. Ele se chama Robin Thicke; ela, Miley Cyrus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário