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domingo, 11 de março de 2018

Número de famílias chefiadas por mulheres mais que dobra no país

06/03/2018

Entre 2001 e 2015, contingente saltou de 14 milhões para quase 30 milhões
O número de famílias chefiadas por mulheres mais que dobrou em uma década e meia. De acordo com estudo elaborado pelos demógrafos Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Diniz Alves, coordenado pela Escola Nacional de Seguros, o contingente de lares em que elas tomam as principais decisões saltou de 14,1 milhões, em 2001, para 28,9 milhões, em 2015 — avanço de 105%. Segundo os pesquisadores, os dados indicam melhora nas relações de gênero, embora ainda existam desafios importantes a serem vencidos, como uma divisão mais justa dos afazeres domésticos, um importante fator para garantir igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, por exemplo.

Os dados são baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O conceito de chefia usado é o que o instituto oficial chama de pessoa de referência: o integrante da família considerado responsável por aquela casa. O levantamento reflete mais a divisão entre homens e mulheres porque, apesar de o IBGE estimar o número de casais do mesmo sexo, o contingente de aproximadamente 60 mil pessoas não influencia o resultado. A chefia compartilhada, em que o casal divide igualmente as responsabilidades, também não foi calculada porque toda pesquisa domiciliar, necessariamente, aponta uma pessoa de referência na família pesquisada — mesmo que as tarefas sejam divididas igualmente.
No passado, o índice de lares comandados por mulheres crescia mais influenciado pelo avanço de famílias de uma pessoa só, com ou sem filhos. Em uma sociedade ainda patriarcal, esse cenário muitas vezes era ligado à vulnerabilidade social: a mulher que foi abandonada pelo marido, muitas vezes com filhos. Mas o novo levantamento mostra um novo quadro. Embora a maior parte das chefes de família sejam aquelas que vivem sozinhas com seus filhos (um contingente de 11,6 milhões de pessoas), a principal novidade do estudo foi o aumento expressivo do comando feminino em famílias onde há um cônjuge. Entre os casais com filhos, o número de mulheres chefes passou de 1 milhão, em 2001, para 6,8 milhões, em 2015, alta de 551%. Já no caso dos casais sem filhos, o crescimento foi ainda maior, de 339 mil para 3,1 milhões, salto de 822%.
O demógrafo José Eustáquio, um dos autores, explica que essa é uma mudança importante no padrão dos arranjos familiares brasileiros. Em vez de mulheres serem chefes por necessidade, passam a ser mais reconhecidas dentro de seus lares como pessoas de referência.
— Esse fenômeno já vinha sendo observado. Havia o debate, nas décadas de 1980 e 1990, de que as famílias monoparentais femininas estavam aumentando a presença de mulheres na pobreza. Muitas vezes, esse aumento não estava ligado ao maior padrão de vida da mulher, e às vezes pelo contrário, estava ligado a um empobrecimento. Esse estudo mostrou uma novidade. A gente descobriu que o crescimento das mulheres chefes de família foi muito maior nas famílias de núcleo duplo, que é quando tem pai e mãe dentro da família — afirma o pesquisador.
As transformações culturais e redução de desigualdades na área de educação e no mercado de trabalho também afastam a ideia de que lares chefiados por mulheres estariam ligados a uma vulnerabilidade social. Inclusive a ideia de que a pobreza entre as mulheres estaria associada à presença do marido em casa, tese sustentada por setores mais conservadores.
— A gente sabe que as mulheres reverteram algumas desigualdades de gênero e reduziram outras. Na educação, elas superaram os homens em todos os níveis educacionais. Tem mais mulher no mercado de trabalho. Em termo de rendimento, elas reduziram a desigualdade. Então, de fato, esse crescimento das mulheres chefes de família nas famílias de núcleo duplo tem a ver, sim, com empoderamento, maior educação e maior participação no mercado de trabalho — aponta Eustáquio.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE CUIDADO
Para Maria Helena Monteiro, diretora de Ensino Técnico da Escola Nacional de Seguros e coordenadora do estudo, aponta que a maior participação da mulher no mercado de trabalho influenciou o resultado.
— Eu costumo dizer que o homem da casa no século XXI é a mulher. Isso tem a ver com o avanço na educação, as mulheres estão competindo por empregos melhores — observa.
Ela lembra que há desafios na área de políticas públicas para que esse potencial seja totalmente alcançado. Em 2001, as mulheres gastavam 28,7 horas semanais em afazeres domésticos. Em 2015, eram 24,4 horas semanais.
— Acho que isso é muito mais pelo acesso à máquina de lavar roupa do que por uma maior participação do homem — destaca Maria Helena, ao lembrar da importância de políticas públicas para que essa economia do cuidado não sobrecarregue as mulheres. — O número de eleitoras no Brasil já é 7 milhões maior que o de eleitores. As mulheres são maioria e vão decidir as eleições em 2018. E surpreendentemente nenhum candidato faz qualquer menção à questão das mulheres. Há uma demanda por política pública, com cuidado com os idosos e crianças, por exemplo. O governo precisaria se preocupar em condições de cuidado que têm recaído sobre as mulheres e criado dificuldades.

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