Mulheres querem ônibus exclusivos em Campinas para reduzir violência
Projeto foi feito após reclamações de assédio no transporte público.
Abaixo-assinado conseguiu a adesão de 4 mil assinaturas.
Do G1 Campinas e Região
Neusa Concetta (à direita) coleta assinaturas
(Foto: Neusa Concetta/ Arquivo Pessoal)
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Um movimento organizado na região do Campo Grande, em Campinas (SP) quer reservar ônibus exclusivos para as mulheres durante os horários de pico na cidade. Idealizado pela comerciante Neusa Concetta, a iniciativa pretende reduzir os casos de assédio sexual nos veículos do transporte público.
Segundo a comerciante, a ideia do projeto, batizado de "Expresso Mulher", surgiu após as reclamações constantes de passageiras que desembarcavam no Terminal Campo Grande. "Elas passam por aqui revoltadas com a situação à que são submetidas nos ônibus", explica lembra Neusa, que é dona de um mercado próximo ao terminal. O abaixo-assinado, iniciado no dia 2 de abril, já teve a adesão de mil pessoas.
Heleonora Prado aprova prosposta do ônibus para
mulheres (Foto: G1 Campinas/Bruno Teixeira)
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A iniciativa propõe a instalação de um veículo, com identificação diferenciada, no trajeto que liga o Terminal Campo Grande ao Terminal Central. A doméstica Heleonora Prado, passageira da linha 2.12, que faz o percurso, aprova o projeto. "Estou cansada de homens que se aproveitam de mim. Passo o dia todo trabalhando e no fim do dia ainda aguento essa humilhação", lamenta. A experiência da dona de casa Vânia Barroso é ainda mais crítica. "Um homem já chegou a ficar quase sem roupas perto de mim. Comecei a gritar e ele desceu em seguida", relata.
A revolta das passageiras, porém, geralmente passa despercebida. "Elas sentem que não tem com quem reclamar", explica a idealizadora do projeto. Outras passageiras reclamam da falta de tempo. "Eu trabalho o dia todo, se tiver que ir para a delegacia todas as vezes que se aproveitarem de mim, eu não vivo", afirma Heleonora.
A proposta, no entanto, não foi recebida de forma positiva pelos homens. "Tem que deixar a mulherada aí. A gente só gosta de olhar", rebateu o metalúrgico José Augusto Ferreira. Apesar disso, a organizadora Neusa Concetta afirma que boa parte das assinaturas são de homens. "Geralmente eles têm experiências de abuso com filhas ou esposas", explica. O auxiliar administrativo, James Amaral,também passageiro da linha 2.12, é um dos que apoia a iniciativa. "Elas não têm que sofrer com o machismo dos outros", disse. A opinião foi recebida com deboche por alguns passageiros.
Ônibus que integra como destino o Terminal Campo
Grande (Foto: G1 Campinas/Bruno Teixeira)
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Caso seja aprovado para apenas um veículo da linha, o tempo de espera para o ônibus exclusivo para mulheres seria de 1h40. A demora pode ser um fator de recusa da utilização do veículo. "Não tenho condições de chegar atrasada no trabalho. Se fosse o caso, eu teria que abrir mão do ônibus especial", lamenta a doméstica Heleonora Prado.
A separação entre homens e mulheres no transporte público não é inédita no país. No Rio de Janeiro, vigora uma lei desde 2006 que garante exclusividade às mulheres em um dos vagões de metrô da cidade durante a semana em horários de pico.
Os detalhes do projeto e a lista com as assinaturas do "Expresso Mulher" devem ser apresentados ao secretário municipal de Transportes, André Aranha Ribeiro, no dia 7 de maio. Segundo a assessoria da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), a viabilidade do projeto só poderá ser avaliada após a entrega do abaixo-assinado.
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