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quinta-feira, 26 de abril de 2012


O balneário egípcio de Dahab se tornou o destino de grávidas que querem realizar o parto dentro da água

  
Um grupo de pais russos acredita que nascer no mar e exercícios físicos para recém-nascidos vão torná-los crianças mais fortes do que as outras. Práticas como mergulhá-los em água fria e manter a placenta enterrada também ajudariam nesse objetivo

Por Katie Breen. Fotos Alexey Pivovarov
Paulina dormindo, junto a seu irmão de 5 anos, 
um dia após nascer
"Mandei meu marido comprar 300 litros de água limpa", conta Katya, 30 anos, uma ex-modelo russa, que agora vive em Dahab, um badalado balneário egípcio na região do Sinai. Ela foi a Dahab para fazer o parto na água de sua segunda filha, uma menininha chamada Paulina. Na Rússia a prática é proibida, razão pela qual muitos casais estão vindo atrás da liberdade e do calor dessa região. “Eu estava tendo contrações fazia algumas horas, e assim que o meu marido voltou com os recipientes de água, nós inflamos nossa piscina”, diz Katya. Como a piscina era pequena, o marido dela foi correndo até a vizinha pegar uma maior. O parto aconteceu ali. “Eu não estava acompanhada por uma parteira, apenas uma amiga que tinha um pouco de experiência. Concentrei-me totalmente em dar à luz, senti o bebê se mexendo dentro de mim, tive três contrações maiores e ela nasceu.”

Katya é uma entre as tantas russas que vão a Dahab para fazer o parto em casa, quase sempre na água. A maior parte delas teve o primeiro filho em uma maternidade estatal russa, o que deixou lembranças terríveis. Segundo essas mães, a frieza dos funcionários, o corte do períneo (musculatura da vagina), a falta de informação, o pouco cuidado com as mulheres em trabalho de parto são alguns dos motivos que as deixaram com trauma da experiência.

Embora seja proibido dar à luz em casa na Rússia, partos caseiros, especialmente os na água, são encorajados há mais de 30 anos pelo guru Igor Charkovsky, um senhor de 74 anos, sem formação em medicina. Ele começou a trabalhar nos anos 70, quando popularizou a ideia de que partos na água ajudam os bebês a se tornarem mais fortes. Diferente de Frederick Leboyer, médico obstetra francês que também disseminou a prática do parto na água nos anos 70, Charkovsky ficou famoso por promover partos em águas oceânicas frias, muitas vezes lado a lado com golfinhos. Entre as ideias que prega, está também a de que o cordão umbilical deve permanecer preso ao bebê durante 30 horas depois do nascimento.

A maior parte dos casais russos em Dahab partilham de ideias que incentivam, além do parto natural em casa, a amamentação prolongada, a alimentação natural e a educação alternativa. Preservar a placenta também está no rol dessas práticas. Foi o que Katya fez após o parto de Paulina na água. “Ela começou a chorar de frio e entramos em casa. Nós mantivemos o cordão umbilical preso em seu corpo, a colocamos para dormir e ajeitamos a placenta em uma travessa (depois a colocaram no freezer), com um pouco de sal.” Katya, e muito de seus amigos adeptos dessa prática, acreditam no poder da placenta: “É igual a um segundo cérebro”, disse um dos pais russos que a reportagem encontrou em Dahab. “É uma maneira de dar à criança energia cósmica”, disse outro.

O culto à placenta pode ter cenas surpreendentes. Alguns pais a penduram na sala para secar e poderem levar de volta à Rússia, para ser enterrada embaixo de uma árvore: um carvalho para um menino, um salgueiro para uma menina.

A ex-modelo Katya, pouco depois do parto 
de sua filha Paulina
De acordo com antigas tradições russas, esse é o lugar para onde a criança – ou mais tarde o adulto – vai retornar quando precisar recarregar as energias. Outra tradição é cortar o cordão umbilical ao nascer do sol, à primeira luz da manhã. E foi exatamente isso que Katya e o marido fizeram na manhã seguinte.

Depois da experiência um pouco confusa de seu parto natural (devido ao tamanho da piscina), Katya teria um bebê nas mesmas condições se fosse ter o terceiro filho? “Posso fazer o parto na água de novo, mas com uma parteira experiente ao meu lado. Na hora de dar à luz, eu não estava ansiosa, mas agora me pergunto o que eu teria feito se, por exemplo, o bebê tivesse se enrolado no cordão umbilical.” A ucraniana Anya também foi a Dahab para o parto do segundo filho e estava bastante tensa com a situação pois seu primeiro parto em casa não foi fácil. Ainda assim, quis experimentar pela segunda vez. Ela começou a ter contrações no sétimo mês de gestação e ficou preocupada que tivesse de fazer o parto de um bebê prematuro em casa.

Na época, Igor Charkovsky estava em Dahab e a orientou durante: “Ele foi um anjo, colocou as asas ao meu redor! Em poucas horas, lá estava meu filho, um bebezinho doce de dois quilos.” Às seis horas da manhã seguinte ao parto, Anya, o marido e o guru russo foram até a praia. Ele segurava o bebê, ela carregava a placenta em uma pequena bacia enquanto o cordão, coberto com algodão branco, continuava preso ao corpo do bebê. O vídeo do ritual mostra Charkovsky mergulhando o menininho repetidas vezes: a cabeça dele é afundada, puxada para fora e colocada no peito de Anya. Ela diz que o bebê está bem, embora não o tenha mostrado à reportagem.

Essa pequena indústria do parto na água em Dahab é coordenada por Olga, uma ex-gerente de uma discoteca que hoje mora no Egito e ajuda a organizar os seminários nos quais Lena Fokina, espécie de assistente de Charkovsky, ensina as práticas aos pais. Olga também organiza o alojamento e a viagem para as famílias russas. Ela própria deu à luz na água e fez exercícios aquáticos com sua filhinha desde muito pequena: “Quanto mais cedo se começa, melhor é, pois depois de um mês o bebê esquece sua vida na água no útero da mãe”, afirma. Segundo ela, é preciso sacudi-lo na água “para baixo, para cima!” várias vezes. Assim, o bebê entenderia que precisa controlar a respiração. Depois de um ano, ele já sabe nadar embaixo d’água. “Na água o bebê relaxa, a natação leva embora o estresse”, diz Olga.

Esses exercícios aos quais ela se refere são chamados por essa tribo de “ioga de bebê” ou “ginástica dinâmica” e podem ser praticados na água ou fora dela. Outro pai russo brincava com seu filho de quatro meses quando a reportagem o encontrou. Girava-o no ar, jogava-o para cima e arrematava o exercício com um levanta-e-abaixa. Depois de alguns minutos, esperava-se que ele fosse deixar o bebê em paz, mas não. O procedimento todo recomeçou. O bebê não chora, também não dá risada, só parece um pouco entorpecido. “Quando o bebê vai para cima e para baixo desse jeito, o cérebro dele passa a funcionar mais rápido”, diz. Ele e a mulher querem fazer com que essa criança seja mais forte do que a média e que eles próprios foram. Para eles, a vida é tão difícil na Rússia que voar acima da cabeça dos adultos pode reforçar a autoconfiança da criança: “As que praticam esses exercícios são mais abertas, mais ousadas”.

No alto, Lena Fokina, sai com Paulina da água.
Abaixo: a instrutora ensina a dar banho nos recém nascidos

Em um estudo sobre o parto natural na Rússia, a antropóloga Ekaterina Belooussova afirma que as crenças comuns difundidas entre a tribo do parto na água é que tais práticas vão transformar os bebês em superpessoas. Ela escreve sobre uma “parteira espiritual” chamada Daria Streltsova que afirma que os nascimentos na água eram praticados na antiguidade sob a crença de aprimorar certas habilidades nas crianças. Estas supostamente deveriam se tornar parte da elite e cumprir missões especiais. Segundo Belooussova, Charkovsky e seus seguidores consideram as crianças nascidas em hospitais como deficientes, mesmo que os médicos digam que sejam saudáveis”. Não foi encontrado nenhum estudo para validar a crença de que esses exercícios estafantes dentro e fora d’água tenham impacto positivo sobre o desenvolvimento mental ou físico de uma criança. Pelo contrário, não representaria um perigo terrível?

Aqui Lena Fokina ensina a um dos pais qual tipo
de ginástica seu recém-nascido deve fazer



Em um famoso vídeo disseminado no Youtube Lena Fokina aparece girando um bebê de duas semanas no ar e depois o jogando-o para cima e para baixo. E se o bebê cair? “Por que iria cair?”, é a resposta de uma das mães que assistem ao vídeo junto com a reportagem de Marie Claire. “Somos responsáveis”. Talvez. Mas por que se arriscar? Você não acha mais arriscado quando deixa seu filho comer salgadinho e assistir à televisão o dia inteiro?”, diz essa mesma mãe.

Muitos pediatras concordam que os bebês não são seres tão frágeis e, sim, precisam de exercícios. Mas também chamam atenção para o fato de que exercícios praticados nessa fase podem ser perigosos para os ossos e as juntas em desenvolvimento. Para alguns médicos, ficar jogando o bebê de um lado para o outro pode causar até danos cerebrais e deficiências para toda a vida (como cegueira e dificuldades motoras ou cognitivas).

Muitos egípcios mostraram-se reservados em comentar o assunto, mas afirmaram que se ouve muito choro desses bebês na praia. Assim, os adeptos desses métodos vêm se tornando mais discretos recentemente. A maior parte das pessoas acredita que os bebês devem ser tratados com carinho e ternura, ao passo que a ênfase de Charkovsky não está na comunicação amorosa, mas em desenvolver resistência e tolerância à dor. Os pais devem usar a disciplina e não ceder a um bebê que chora. Não se nega que esses pais russos estão cheios de amor, mas é impressionante a necessidade deles de controlar cada movimento na ainda curta vida de seus bebês. Ou seriam superbebês?


No alto: Bebê treina natação
Logo abaixo: mães brincam com as crianças
nos quintais das casas que alugam em Dahab
PARTO NA ÁGUA: É BOM SABER

• No geral, as mães se sentem mais relaxadas em função da água morna. Por outro lado não é possível tomar anestesia nem fazer a episiotomia (pequeno corte na vagina para auxiliar na saída do bebê)

• Em trabalhos de parto de maior risco, não é possível monitorar os batimentos cardíacos e as contrações

• A equipe médica tem menos acesso ao chamado campo de ação, onde ocorre a saída do bebê. Assim, é mais difícil auxiliá-lo caso precise de ajuda

• O parto na água não é ensinado em nenhum serviço de Residência Médica de Obstetrícia no Brasil. Por isso é preciso escolher muito criteriosamente o obestreta e checar se ele tem treinamento nessa especialidade

• Se o parto na água for domiciliar é imprescíndivel que haja uma ambulância neonatal e adulta no endereço

http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI300671-17737,00-O+BALNARIO+EGIPCIO+DE+DAHAB+SE+TORNOU+O+DESTINO+DE+GRAVIDAS+QUE+QUEREM+REAL.html




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