Nos EUA, homem busca emprego 'feminino'
Ao longo da última década, os homens começaram a procurar trabalho em campos que eram um território de mulheres
THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
Usando um uniforme vermelho e falando em espanhol, Miguel Alquicira acomodou uma garotinha numa cadeira de dentista para adultos e a acalmou durante o raio X. Depois, apresentou a dentista à paciente e ficou ao lado para servir de intérprete.
Como assistente de dentista, Alquicira faz parte de uma minoria masculina. Mas ele também faz parte de uma mudança nítida, embora pouco notada, nos padrões de gênero no local de trabalho. Ao longo da última década, os homens começaram a procurar trabalho em campos que eram um território de mulheres.
Alquicira, 21 anos, saiu do ensino médio para um mercado de trabalho difícil, no qual haviam secado oportunidades tradicionais para jovens do sexo masculino sem formação universitária, como construção e indústria. Após orientadores vocacionais terem lhe dito que a área médica estava em alta, ele tomou dinheiro emprestado para um curso de treinamento de oito meses.
Desde então, não teve problemas para encontrar empregos que pagam US$ 12 ou US$ 13 a hora. E nem pensou muito no fato de que 90% dos assistentes de dentista são mulheres. Mas a verdade é que jovens como Alquicira chegaram à idade adulta num mundo de expectativas invertidas, onde as mulheres ultrapassam de longe os homens na obtenção de diplomas universitários e tendem a ocupar empregos que se mostraram, em grande parte, mais estáveis, mais difíceis de terceirizar e mais propensos a crescer.
"Do jeito que eu vejo", explicou Alquicira, sem perceber que estava invertendo um antigo credo feminista, "tudo que uma mulher pode fazer, um homem também pode".
A tendência começou muito antes do crash financeiro, e parece ser impulsionada por uma diversidade de fatores, entre os quais preocupações financeiras, questões de qualidade de vida e uma erosão gradual dos estereótipos de gênero.
Inversão de papéis. Uma análise de dados do censo feita pelo The New York Times mostra que, entre 2000 e 2010, as ocupações que eram mais de 70% femininas responderam por quase um terço de todo o crescimento de empregos para homens - o dobro da relação percebida na década anterior.
Isso não significa que os homens estejam desalojando mulheres - aquelas mesmas ocupações responderam por quase dois terços do crescimento de empregos de mulheres.
Mas, no Texas, por exemplo, o número de homens que são enfermeiros registrados quase dobrou nesse mesmo período, subindo de cerca de 8,4% do total de enfermeiros para quase 10,5%. Os homens constituem 23% dos professores de escolas públicas de primeiro grau do Texas, mas quase 28% dos professores do primeiro ano. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Nenhum comentário:
Postar um comentário