23 maio 2018
Um tribunal do Sudão condenou à morte uma jovem por ter matado o marido que a estuprou.
O juiz, da cidade de Omdurman, a segunda maior do país, confirmou a pena de morte para Noura Hussein depois que a família de seu marido se recusou a aceitar uma compensação financeira.
Grupos de direitos humanos pedem que sua condenação seja anulada.
Hussein, que agora tem 19 anos, queria terminar os estudos e sonhava em ser professora. Mas foi forçada ao casamento aos 16 anos e tentou fugir.
O caso ganhou repercussão internacional nas redes sociais - no Twitter foi criada uma campanha chamada #JusticeforNoura (Justiça para Noura).
Como foi o crime
Quando Hussein fugiu, logo após o casamento, ela se refugiou na casa de sua tia. Mas três anos depois, após ter sido enganada - segundo ela -, acabou sendo devolvida pela própria família ao marido.
Depois de seis dias, a jovem diz que ele recrutou alguns de seus primos, que a teriam segurado enquanto ele a estuprava.
No dia seguinte, o marido teria tentado fazer o mesmo. Hussein diz que se defendeu com uma faca e o esfaqueou, causando sua morte.
Em seguida, ela fugiu para a casa dos pais e estes a entregaram à polícia.
No Sudão, vários crimes são julgados e punidos de acordo de acordo com a lei islâmica, a sharia. O tribunal condenou Hussein por homicídio premeditado no mês passado e a sentenciou, na quinta-feira passada, à morte por enforcamento, segundo a agência de notícias Reuters. Seus advogados têm 15 dias para recorrer.
"Sob a lei da sharia, a família do marido pode exigir compensação monetária ou morte", disse à agência Badr Eldin Salah, ativista do Afrika Youth Movement (Movimento Jovem Afrika), que estava no tribunal.
"Eles escolheram a morte e agora a pena de morte foi proferida."
A Anistia Internacional condena a sentença de morte dada a Hussein, dizendo que ressalta a falha das autoridades em combater o casamento infantil no Sudão
O que dizem os grupos de direitos humanos
Yasmeen Hassan, da Equality Now (Igualdade Agora), um dos grupos que buscam reverter a condenação, disse à BBC que o veredicto não a surpreendeu.
"O Sudão é um lugar extremamente patriarcal e as normas de gênero são fortemente aplicadas. É um lugar onde as meninas podem se casar aos 10 anos de idade, há tutela legal dos homens sobre as mulheres, que são ordenadas a seguir estritas regras de comportamento", diz ela.
"Hussein é uma garota que queria sua educação e fazer o bem ao mundo e ela foi emboscada nessa situação e agora é uma vítima desse sistema."
A Anistia Internacional disse que a condenação de uma mulher à morte por "matar seu marido estuprador em legítima defesa" destaca o "fracasso das autoridades em combater o casamento infantil, casamento forçado e estupro marital".
"Noura Hussein é uma vítima e a sentença contra ela é um ato intolerável de crueldade", disse o representante da Anistia Internacional Seif Magango.
Ele apelou que as autoridades sudanesas anulassem a sentença e realizassem um novo julgamento que levasse em consideração "suas circunstâncias atenuantes".
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