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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Jornalismo Girl Power

A portuguesa Mariana Santos ficou incomodada com a escassez de mulheres em posição de chefia no jornalismo latino-americano. Criou um movimento para mudar o cenário

REDAÇÃO ÉPOCA
24/05/2018 

A portuguesa Mariana Santos lembra que,há cinco anos, saiu numa espécie de peregrinação pela América Latina, com uma mochila nas costas e um projeto ambicioso na cabeça. Em 2013, Mariana criou o Chicas Poderosas, uma organização que trabalha para ajudar mulheres a empreender no mercado de mídia Latino Americano. O projeto surgiu de um incômodo - Mariana viera para a América Latina como bolsista de um programa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) . E ficou surpresa com a escassez de mulheres em cargos de chefia nas organizações de mídia do continente.

O périplo que iniciou era sua forma de tentar mudar esse quadro desfavorável: Mariana queria circular pelo continente ensinando mulheres  - jornalistas, designers, desenvolvedoras - a criar seus próprios projetos de comunicação. A viagem começou por Costa Rica, foi para o Chile, Argentina e Brasil. A cada parada, ela ministrava workshops sobre como criar negócios inovadores em comunicação. Ou sobre como reunir colaboradores para pôr de pé uma ideia ousada. Aos poucos, criou uma rede de “embaixadoras” pelos lugares por onde passava. “Na época, eu era convidada por redações de jornais para dar palestras, para falar sobre empreendedorismo”, diz ela. “Não demorou, os convites se multiplicaram. À medida que eu viajava, mais mulheres me procuravam querendo que eu fizesse workshops nas suas comunidades, nas suas redações”.

Hoje, cinco anos depois, esse grupo de empreendedoras que Mariana ajudou a formar alcança 13 países: “Foi tudo muito rápido. Num dia, éramos mil pessoas. Hoje, somos cinco mil”, diz. As mulheres apoiadas por Mariana criaram seus próprios veículos de imprensa, projetos de jornalismo investigativo ou novas redes sociais - dentre uma infinidade de empreitadas. Desde o dia 23, parte desse exército de colaboradores se reúne nos escritórios do Google em São Paulo durante o primeiro Summit Chicas Poderosas. O encontro, que acontece até o dia 25, vai permitir que embaixadoras de todo o continente compartilhem as experiências de suas organizações.

Vai ser também um espaço para fazer negócios. No começo desse ano, o Chicas criou uma incubadora para empreendedoras em comunicação. Foram selecionadas dez start-ups brasileiras lideradas por mulheres. Por 17 semanas, essas empresas iniciantes passaram por um programa de mentoria: foram acompanhadas por líderes de empresas bem-sucedidas, por jornalistas e empreendedores de diferentes países. Esse corpo de mentores as ajudou a aprimorar seus negócios. Durante o Summit, as 10 empresas incubadas poderão apresentar suas propostas a investidores. “Vai ser a primeira vez que elas farão isso”, diz Mariana. “É bacana porque esse contato com investidores-anjo pode viabilizar os projetos que ajudamos a desenvolver”.

São propostas como o “Vamos Conversar”, uma espécie de jogo em que duas pessoas com opiniões distintas são postas para dialogar. Vence quem tiver mais disposição para a argumentação: “É uma brincadeira que tenta tirar as pessoas de suas bolhas”, diz Mariana. Ou projetos como o Politizap, um “site de jornalismo e educação política”. A equipe do Politizap reúne os principais assuntos do noticiário e os transforma em imagens ou áudios curtos que podem ser compartilhados por WhatsApp. A ideia é permitir que as pessoas se informem com facilidade, de maneira lúdica, e passem a participar mais ativamente do debate político.

Os projetos apoiados pensam a comunicação de diferentes maneiras, mas seguem um mesmo padrão: as equipes são formadas por profissionais de diferentes áreas, que mesclam jornalistas, designers e desenvolvedores. É um método de trabalho que Mariana importou do jornal britânico The Guardian - onde trabalhou antes de se lançar na vida de empreendedora. E cujo objetivo é facilitar a criação de produtos de mídia que sejam fáceis de usar e eficientes.

Além de apoiar essas dez startups, o Chicas também realizou, em março, um hackathon, evento que reuniu, em São Paulo, profissionais de diferente matizes que, juntos, pensaram projetos destinados a estimular leitores a refletir melhor sobre o que compartilham em redes sociais.

Com iniciativas assim, a rede de Mariana tenta mudar a cara da comunicação na América Latina. Com tantos projetos em andamento, ela vive atribulada: “Eu trabalho como mentora de todos, tento acompanhar tudo o que acontece”, diz, bem-humorada, durante uma conversa com ÉPOCA por telefone. Ela estava em São Paulo, concluindo os últimos preparativos para o Summit. Entre um compromisso e outro, a conversa com a reportagem teve de ser reagendada algumas vezes. A vida é corrida, mas Mariana está satisfeita: “Vivo cheia de orgulho das iniciativas que a gente estimulou”, conta. “Morro de orgulho das muitas mulheres que a gente ajudou a sair da casquinha e voar”.

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