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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Ninalee Allen Craig 1927-2018

O encontro entre Jinx e a fotógrafa Ruth Orkin produziu uma das cenas mais marcantes do século passado

ALESSANDRO GIANNINI
14/05/2018 
Época

Cena produzida pela fotógrafa Ruth Orkin (Foto: COURTESIA DO RUTH ORKIN PHOTO ARCHIVE)
Poucas imagens representam tão bem uma situação envolvendo uma mulher no século XX — e são tão politicamente incorretas hoje — quanto American girl in Italy, fotografia que Ruth Orkin fez de Ninalee Allen Craig em agosto de 1951, nas ruas de Florença, Itália. Popularizada nos anos 1980, quando virou item obrigatório em lojas de pôsteres e de decoração, captura o momento em que a professora primária americana, na época uma jovem de 23 anos e 1,80 metro de altura, virava a esquina em direção à Piazza della Repubblica, um dos pontos turísticos da cidade. Cercada por 15 homens, um deles segurando as partes baixas, ela parece apertar o passo. Protagonista da cena icônica, Ninalee morreu em 1º de maio, aos 90 anos, após uma longa internação em razão de um câncer de pulmão.

Tanto a vida de Ruth, que morreu em 1985, aos 64 anos, quanto a de “Jinx”, apelido pelo qual Ninalee era conhecida, seriam transformadas por um encontro fortuito nos corredores do Hotel Berchelli, onde ambas estavam hospedadas naquele distante verão. Ruth, a mais velha, tinha 29 anos e era fotógrafa profissional — fora até a Itália depois de passar por Israel, em uma viagem de trabalho para a revista Life. Ninalee, seis anos mais nova, fazia um curso de história da arte na cidade. Elas se conheceram um dia antes de sair para o passeio que resultou nos dois únicos cliques dos quais a fotógrafa editaria a imagem mais conhecida de sua carreira.
Em um depoimento para o jornal britânico The Guardian, publicado há três anos, Ninalee contou que, no primeiro contato, Ruth perguntou se poderia fazer fotos dela pela cidade para um ensaio sobre mulheres viajando sozinhas. No dia seguinte, as duas saíram pela cidade e não demoraram dez minutos para percorrer o trajeto entre o hotel onde estavam hospedadas, à beira do Rio Arno, e a praça tomada por um grupo de homens. Ao chegarem, a fotógrafa acelerou alguns passos à frente e se virou para a cena. Clicou uma vez. Em seguida, pediu à improvisada modelo para voltar e repetir o caminho. Outro clique. Dessa vez, o definitivo. “Não houve muita conversa ou pedido para uma pose”, escreveu ela em seu artigo. “Acho que foi por isso que a foto perdurou. Não foi montada.”
Inicialmente, Ruth pensou em vender o ensaio, que tinha outras fotos de Ninalee por Florença, para o jornal Herald Tribune. Mas as imagens acabaram mesmo numa edição da revista feminina Cosmopolitan. Pelo resto da vida, Ninalee declarou em suas entrevistas que não se sentiu ofendida na ocasião e que se imaginava como uma Beatriz, de Dante, a mulher que o poeta imortalizou em A divina comédia, recusando os olhares dos homens. “A imagem foi interpretada muitas vezes de uma maneira muito sombria”, declarou ela, em um de seus últimos depoimentos. “Era o contrário, porque estávamos nos divertindo.”
E o homem segurando os genitais com expressão de assombro diante da mulher? A figura, que em muitas cópias da fotografia era apagada para não causar melindres, nunca abalou a confiança de Ninalee: “Estava acostumada com aquilo. Era quase um sinal de boa sorte e uma garantia de que as ‘joias da família’ estavam intactas”. Hoje, tanto a atitude do homem como as palavras de Ninalee seriam consideradas machistas e severamente condenadas.
Ninalee Allen Craig nasceu na cidade americana de Indianapolis, em 6 de novembro de 1927. Cresceu em Bronxville, subúrbio de Nova York, com o pai, W. Rolland Allen, diretor de uma loja de departamentos, e a mãe, Mary Church Allen, dona de casa. Além de professora primária, foi redatora publicitária. Casou-se duas vezes, a primeira com um italiano, Achille Passi, e a segunda com um executivo da indústria metalúrgica, R. Ross Craig, de quem adotou o sobrenome. Da primeira união, manteve os laços com o enteado, Alex Passi, que anunciou sua morte. Ela também deixou três outros enteados, David, Robert e Gaye Craig.

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