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sexta-feira, 25 de maio de 2018

Feminismo Islâmico: breve apresentação

Pollyana Meira



Justificando


Quarta-feira, 23 de Maio de 2018
Meu nome é Pollyanna Meira, tenha 41 anos, sou feminista islâmica, que é diferente de uma muçulmana feminista, acho que vale a pena ressaltar porque existem muitas muçulmanas feministas no Brasil, e elas estão bem ativas na mídia hoje em dia, mas feministas islâmicas são poucas e sem muita visibilidade. E qual é a diferença? A diferença é que enquanto a muçulmana feminista sabe que vive em uma sociedade machista, e que algo precisa ser feito, ela não vê muitos problemas na religião, acredita, por exemplo, que o véu é um artigo “feminista”, “libertador” e “empoderador”. Em outras palavras, uma feminista islâmica vai se preocupar em buscar nas raízes das interpretações machistas do Alcorão, as estruturas de opressão de gênero da sociedade muçulmana. Enquanto o feminismo muçulmano é secular e está brigando por direitos sociais, nós, feministas islâmicas, estamos buscando por direitos religiosos e sociais.
As feministas islâmicas trazem à tona que a opressão não está só no âmbito secular, mas dentro da religião também. Defendemos que existem muitos problemas e que muita coisa precisa ser debatida e mudada, no exercício de nossa religiosidade. Não enxergamos o véu como algo feminista, libertador ou empoderador, nem mesmo o reconhecemos como uma escolha, pois não existe escolha quando algo é religiosamente e socialmente imposto. Não acreditamos que nossos cabelos e todo nosso corpo, como é ensinado pelo clero, seja parte da nossa nudez, e que devemos nos cobrir para controlar a libido do homem.
Enquanto há quem pregue o uso do véu como identidade social, acreditamos que o véu é um controle de nossos corpos e não queremos usá-lo nem nos templos, se assim nos parecer correto. Nossas problematizações não se dão só em relação ao véu, mas em relação a tantas outras opressões que vivemos – como a segregação nas mesquitas, que é algo que realmente incomoda as feministas islâmicas, mas não incomoda as muçulmanas feministas, ou mesmo as que não são feministas, que veem a segregação como “proteção”, não como exclusão.
Tendo em vistas as relações sociais às quais fui submetida, meu ativismo começou há mais ou menos 5 anos, primeiramente entrei para grupos de muçulmanos do Facebook mas ao ser expulsa de quase todos, resolvi criar minha própria página e, mais tarde, vieram o Blog, Pinterest, Twitter (que está meio paradão), o Movimento Luísa Mahin e esse ano resolvi escrever a primeira tradução reformista do Alcorão, que irá incluir versos que aceitam a homossexualidade, a poliandria, sexo fora do casamento, (dentre centenas de novidades) como algo normal. Quem quiser acompanhar, já está disponível na plataforma do WordPress como A Recitação Das Mulheres.
O ativismo do feminismo islâmico não é visto com bons olhos pela maioria das muçulmanas/os, enfrentamos muitas barreiras, o diálogo não está sendo fácil – em muitos aspectos está sendo quase impossível -, mas estamos cientes que agora isso está em forma de semente, que precisa ser plantado com carinho e que só irá florescer daqui muito tempo através de trabalho duro e dedicação.
As feministas islâmicas visam abrir o espectro do debate do feminismo muçulmano para além das questões seculares e debater, com o maior número de pessoas possível, que se existem certas marcas sociais dessa cultura, como vieram a ser marcas senão pela imposição às mulheres? Os olhos críticos aos processos sociais e ao direito à espiritualidade sadia é necessário, e diz respeito à todas as pessoas que vivem essa cultura.
Paz esteja com vocês.

Pollyana Meira é analista de comércio exterior, mãe, ativista feminista islâmica assumida publicamente no Brasil e é autora do Blog A recitação das mulheres e está traduzindo o Alcorão numa perspectiva feminista: https://arecitacaodasmulheres.wordpress.com/

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