É a primeira vez na história em que um pedaço de material genético diretamente responsável pela doença é isolado
18 maio 2017
A anorexia é um transtorno mental caracterizado pela obsessão com o próprio peso e a imposição de severas restrições alimentares a si mesmo. Segundo a ANAD, organização norte-americana sem fins lucrativos dedicada ao combate dos distúrbios alimentares, a doença afeta 2,5 vezes mais mulheres do que homens, e 0,9% das mulheres dos EUA são ou foram anoréxicas. Uma em cada cinco vítimas de anorexia comete suicídio.
É comum apontar, no mundo contemporâneo, a conexão entre o elevado número de casos de anorexia e a representação do corpo da mulher nos meios de comunicação e no mundo da moda – e é praticamente consenso na psiquiatria que a imposição de padrões de beleza inalcançáveis a mulheres jovens tem uma boa parcela de culpa nas estatísticas citadas acima.
Acontece que às vezes o corpo também não colabora. Um estudo publicado no último dia 12 pela equipe da psiquiatra sueca Cynthia Bulik, do Karolinska Institutet em Estocolmo, revelou que o distúrbio não pode ser atribuído só a fatores sociais e psicológicos, mas também à ação de um gene específico, que torna seus portadores mais pré-dispostos a ter a doença.
No artigo científico, um grupo de mais de 200 pesquisadores analisou o material genético de 3.495 pessoas anoréxicas, curadas ou não, e o comparou ao de 10.982 pessoas sem problemas de saúde. Eles descobriram que o locus genético rs4622308, localizado no cromossomo de número 12, é determinante para o desenvolvimento da doença. Locus é uma expressão latina usada para se referir a posição que um gene ocupa dentro de um cromossomo – o número aí em cima é como as combinações de letras e números que um motorista usa para decorar a vaga em que estacionou seu carro em um shopping.
Essa foi a primeira vez em que uma variação genética diretamente associada ao transtorno alimentar foi encontrada. Já se suspeitava há algum tempo, porém, que a anorexia fosse uma doença parcialmente hereditária – estudos com irmãos gêmeos que sofrem da doença levantam a hipótese com alguma frequência.
“Nós unimos mais de 220 cientistas e trabalhadores da saúde para alcançar uma amostra tão grande”, afirmou à imprensa Gerome Breen, do King’s College de Londres, um dos co-autores do estudo. “Sem essa colaboração, nós jamais descobriríamos que a anorexia tem raízes tanto psiquiátricas quanto metabólicas.”
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