Publicado em 16/05/2017
As mulheres negras são um dos grupos em situação de maior vulnerabilidade, devido ao acúmulo de discriminações decorrentes do racismo, do sexismo e de outras formas de opressão, cujos impactos incidem sobre a trajetória de suas vidas e de suas famílias.
Essa foi a conclusão de relatos feitos à ONU Mulheres para a ocasião de três datas: Dia Internacional das Famílias, celebrado na segunda-feira (15); Dia das Mães, ocorrido no domingo (14); e Dia Nacional de Luta contra o Racismo (13) — contraponto do movimento negro ao Dia da Abolição, considerando a ausência de políticas e medidas de inclusão após o fim da escravização.
As mulheres negras são um dos grupos em situação de maior vulnerabilidade, devido ao acúmulo de discriminações decorrentes do racismo, do sexismo e de outras formas de opressão, cujos impactos incidem sobre a trajetória de suas vidas e de suas famílias.
Essa foi a conclusão de relatos feitos à ONU Mulheres para a ocasião de três datas: Dia Internacional das Famílias, celebrado na segunda-feira (15); Dia das Mães, ocorrido no domingo (14); e Dia Nacional de Luta contra o Racismo (13) — contraponto do movimento negro ao Dia da Abolição, considerando a ausência de políticas e medidas de inclusão após o fim da escravização.
Em seguimento à estratégia “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030”, desenvolvida pela ONU Mulheres em parceria com organizações de mulheres negras, duas entrevistadas reconstituíram suas histórias de vida e de familiares: Débora Maria da Silva, fundadora e coordenadora do movimento Mães de Maio; e Mônica Cunha, fundadora e coordenadora do movimento Moleque.
Elas passam seus dias em busca de justiça para o assassinato de seus filhos — que fazem parte do contingente de 27 mil jovens negros assassinados num conjunto de 30 mil mortes violentas a cada ano, segundo dados do “Mapa da Violência 2014: os Jovens do Brasil”.
Em 2002, morreram proporcionalmente 73% mais negros do que brancos. Em 2012, esse índice subiu para 146,5%. A vitimização negra, no período de 2002 a 2012, cresceu significativamente: 100,7%.
Mães de Maio
“Meu filho foi assassinado em 15 de maio de 2006. Ele se chamava Rogério. Tinha 29 anos e era gari. As últimas palavras dele para mim foram: ‘parabéns a você’. Eu faço aniversário no dia 10 de maio. (…) Após a morte dele, me debilitei. Fiquei 40 dias e 40 noites hospitalizada”, contou Débora Maria da Silva, fundadora e coordenadora do movimento Mães de Maio. Rogério foi uma das vítimas da onda de violência ocorrida em São Paulo em maio de 2006, que teve 564 assassinatos — 505 civis e 59 agentes policiais.
Os crimes de maio motivaram a criação da Semana Estadual das Pessoas Vítimas de Violência no Estado de São Paulo, entre 12 a 19 de maio, instituída em 2014 pela Lei nº 15.501/2014, por iniciativa do movimento Mães de Maio.
Em 2013, a Assembleia Legislativa de São Paulo apontou 12 de maio como Dia das Mães de Maio, e o movimento foi reconhecido na categoria Enfrentamento à Violência pelo 19º Prêmio de Direitos Humanos, concedido pela Secretaria de Direitos Humanos do governo brasileiro.
Débora uniu-se a outras mulheres na busca por justiça. “Fui atrás de outras mulheres. Elas vieram para a resistência. O movimento tem vários núcleos e está fazendo formação em outros países, a exemplo do Peru. Para os Estados Unidos, eu já fui duas vezes. Fizemos o julho negro. Nós não temos mais fronteira. O que nós temos é uma luta pela desmilitarização das Américas”, declarou.
A ativista é implacável ao reconhecer o racismo no assassinato de seu filho e a ação da discriminação racial em diferentes etapas da sua própria vida. “O Brasil é um país que não teve reparação. É um país que diz fazer reparação aos negros e aos indígenas matando. Não podemos aceitar. O racismo é estrutural, sim”, afirmou.
Adoecimento de mulheres negras
A articulação política impulsionada pela dor também é a história de Mônica Cunha, fundadora e coordenadora do movimento Moleque, criado em 2003 no Rio de Janeiro, e que também teve filhos assassinados.
“A maior parte dos adolescentes é criminalizada pelos atos infracionais, vivendo situações de aprisionamento. As mães, em geral, mulheres negras ficam improdutivas. Elas não têm condição de trabalhar”, declarou. “Algumas desenvolvem síndrome do pânico, depressão, câncer”, completou.
Da necessidade de fazer valer a lei, Mônica buscou outras mulheres e familiares para enfrentar a prática de violação de direitos. “É preciso que entendam que seus filhos não nascem segurando uma arma. O que a gente faz é fazer a formação para que a família, mesmo que tenha seu filho cumprindo medida socioeducativa, entenda que eles têm direitos e consiga ajudar. A gente só consegue mudar esse histórico com informação”.
Quatorze anos após a criação do movimento Moleque, Mônica expandiu sua capacidade de incidência política. Uma de suas frentes de atuação foi a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, ocorrida em 2015, além das interlocuções com a ONU Mulheres, a exemplo de reunião com a subsecretária-geral da ONU e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, durante a Rio 2016.
“O meu foco na Marcha das Mulheres Negras foi colocar o adoecimento das mulheres negras, porque estamos nos matando por nossos homens e filhos”, ressaltou ao citar algumas entidades como parceiras políticas, tais como a Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras, Criola, Geledés e Odara.
Atualmente, Mônica é assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. “Estar nesse lugar é bom para entender melhor, abrir outras portas e para mostrar para outros movimentos que nós existimos”.
Tal qual Débora, Mônica atribui ao racismo o assassinato da juventude negra e a impunidade dos crimes. “Essa história de bala perdida não existe. É bala achada. Quando o braço armado vai para dentro de uma favela, que tem escola, que tem comércio, não tem bala perdida. Agora, é fazer com que a sociedade entenda isso”.
O enfrentamento à impunidade é outra questão comum aos casos de prisões e assassinatos de pessoas negras. “O caso Rafael Braga é um exemplo de quando o Estado entra e nos desestrutura. A mãe dele se tornou alcoólatra. Ele não morreu, mas a situação dele é difícil. Isso com todas as provas e articulações de movimentos sociais, a gente não consegue tirar Rafael da prisão”, lembrou.
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