Em entrevista ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para ocasião do Dia Mundial da População (UNFPA), a diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, fala sobre as conquistas e desafios da população negra no Brasil, em especial meninas e mulheres.
“Convivi com várias gerações de mulheres negras da minha família (bisavó, avós, mãe e tias, primas, sobrinhas). Nunca houve oportunidades, mas conquistas — e as gerações mais novas sempre usufruíram mais do que as anteriores. Entre todas, as mais novas e as mais velhas, sou a que teve acesso a mais espaços e possibilidades, a partir das conquistas feitas”, declarou. Leia a entrevista completa.
Diretora-executiva da Anistia Internacional, a ativista brasileira dos direitos humanos Jurema Weneck é doutora em Comunicação e Cultura e graduada em Medicina. Como membro do Conselho Consultivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), foi convidada, para a ocasião do Dia Mundial da População (11 de julho), a refletir sobre as questões ainda abertas dos compromissos firmados pelos países durante a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994.
A campanha do UNFPA “Mais que minha mãe, menos que minha filha” busca responder a essas questões e celebrar os 25 anos da CIPD, que representou uma mudança de paradigma na forma como os direitos reprodutivos passaram a ser abordados no mundo. Na ocasião, mais de 170 países adotaram um plano de ação inovador que passou a orientar as políticas públicas a partir do prisma dos direitos humanos, das escolhas individuais e do empoderamento feminino.
UNFPA: Na sua visão, quais oportunidades de trabalho, educação e renda você teve e sua mãe não pôde ter? Por quê?
Jurema Werneck: O acesso a quaisquer oportunidades de desenvolvimento, de qualquer espécie, num país em que o racismo patriarcal heteronormativo é mediado por sua raça/cor, identidade de gênero, classe social, região geográfica onde nasceu ou vive etc. Isso significa dizer que não existem oportunidades disponíveis, mas conquistas a serem alcançadas a partir do esforço de muitas e muitos e, às vezes, de comunidades inteiras. Convivi com várias gerações de mulheres negras da minha família (bisavó, avós, mãe e tias, primas, sobrinhas). Nunca houve oportunidades, mas conquistas — e as gerações mais novas sempre usufruíram mais do que as anteriores. Entre todas, as mais novas e as mais velhas, sou a que teve acesso a mais espaços e possibilidades, a partir das conquistas feitas.
UNFPA: Seus filhos e filhas, caso tenha ou pretenda ter, podem ter oportunidades ainda melhores que as suas?
Jurema Werneck: Não tenho filhos. Tenho sobrinhos e sobrinhas. Em termos materiais, de acesso a informação e possibilidades de desenvolvimento, eles e elas têm muito mais acesso do que minha a geração e as anteriores.
UNFPA: O que você deseja para os seus sobrinhos e sobrinhas?
Jurema Werneck: Quero que o racismo patriarcal heteronormativo não tenha um impacto tão devastador na vida deles e delas como teve na vidas de todas e todos nós que viemos antes. Que tenham mais chances, que encontrem mais portas abertas e menos violência e menos desafios e barreiras materiais e simbólicas.
UNFPA: Acha que seus sobrinhos e sobrinhas têm mais liberdades e direitos?
Jurema Werneck: Em uma sociedade desigual, com forte presença do racismo patriarcal heteronormativo, é muito difícil pessoas e a população negra experimentarem liberdades ou direitos. Mas temos avançado nas lutas para ampliar os espaços e liberdades (que seguem ameaçados!)
UNFPA: Sobre prevenção e métodos contraceptivos, você costuma utilizar algum? Isso já faz parte da sua cultura?
Jurema Werneck: Faz parte das lutas por direitos e saúde das mulheres. Mas não vivi a necessidade de usá-lo, devido à minha orientação sexual.
UNFPA: Acha que a geração da sua mãe era diferente da sua no acesso aos métodos de contracepção? Quais os principais motivos para isso?
Jurema Werneck: Sim. Não havia políticas públicas para isto. Hoje há, ainda que enfrentem muitas barreiras.
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