LONDRES - Pouco mais de uma hora depois de Serena Williams deixar a quadra central em Wimbledon, no último sábado (16), após perder a terceira final consecutiva do Grand Slam pela primeira vez em sua carreira, um repórter pediu a ela que reagisse aos comentários feitos pela grande jogadora de tênis Billie Jean King para a BBC no início do torneio.
"Pessoas como Billie Jean King fizeram comentários nas últimas semanas que, talvez, você devesse deixar de ser uma celebridade por um ano, parar de lutar por igualdade e se concentrar apenas no tênis", disse o repórter na coletiva pós-jogo. "Como você responde a isso?"
"Pessoas como Billie Jean King fizeram comentários nas últimas semanas que, talvez, você devesse deixar de ser uma celebridade por um ano, parar de lutar por igualdade e se concentrar apenas no tênis", disse o repórter na coletiva pós-jogo. "Como você responde a isso?"
A jogadora 23 vezes campeã de Grand Slam recém-saída da derrota mais desastrosa de uma grande final em sua carreira para Simona Halep - respondeu exatamente como seria de se esperar.
"O dia em que eu parar de lutar pela igualdade e por pessoas que se parecem com você e eu será o dia em que eu estiver no meu túmulo", disse Williams à mulher. Então ela girou a cadeira em direção à porta, levantou-se e saiu da sala. Foi uma resposta apropriada para uma questão criada, intencionalmente, para levar Williams a dar tal resposta.
Em nenhum momento, King, uma defensora vitalícia da igualdade de gênero e de remuneração, sugeriu em seu comentário que Williams pare de "lutar pela igualdade". King depois foi ao Twitter para esclarecer a questão. O que ela havia sugerido: ganhar um 24º título de Grand Slam seria mais fácil se Williams "parasse com essa insanidade" e "desistisse de todas essas coisas periféricas ... para continuar trabalhando em sua forma física e foco" - também vale a pena abordar.
Desde que Serena voltou ao tênis em licença de maternidade em março do ano passado, ela é a única mulher a disputar três finais do Grand Slam. Como sua plataforma cresceu junto com sua base de fãs, ela aumentou as conversas em torno da licença maternidade na WTA Tour, apoiou mulheres afro-americanas nos negócios e lançou uma marca de moda direto ao consumidor que celebra a diversidade. A tenista afirmou ao longo de sua carreira que mergulhar de cabeça em interesses fora de seu esporte alimenta seu tênis e preenche seu desejo de crescer tanto como pessoa quanto como jogadora.
Ela ainda está aqui, ainda com fome de mais, ainda competindo e carregando o esporte em seus ombros - em grande parte porque as "coisas periféricas" a impediram de cansar do tênis.
Isso não parece falta de foco. Isso soa como perspectiva.
Em 2006, depois que Serena conquistou apenas um título de Grand Slam em um período de três anos, Chris Evert (18x campeã de Grand Slam e comentarista da ESPN), escreveu uma carta aberta para ela na edição de maio da "Tennis Magazine". Nela, Evert advertiu Williams, então com 24 anos, a se concentrar menos em interesses externos e mais em seu jogo, perguntando: "Você já considerou seu lugar na história?"
Evert já disse que lamenta escrever a carta, inconsciente de tudo o que estava acontecendo na vida de Williams durante esse tempo, mas diz que ela não queria que Williams olhasse para trás com arrependimentos. No final de 2003, a irmã mais velha de Serena, Yetunde Price, foi assassinada em um tiroteio em Compton, Califórnia, e ela passou grande parte dos dois anos seguintes lutando contra lesões e depressão. Ela disse que a busca de paixões fora do jogo a ajudou a se recuperar, além de ressuscitar seu amor pelo tênis. Nos 13 anos desde que a carta foi publicada, Williams ganhou 16 títulos de Grand Slam.
Na quadra, Serena agora possui 23 Grand Slams, um a menos que Margaret Court. A americana voltou a competir ano passado, apenas seis meses após o parto de sua filha, Alexis Olympia, por uma cesariana de emergência que manteve Serena em repouso por seis semanas. Enquanto curava, Serena intensificou seu treinamento para voltar a forma física e o jogo que lhe deram esses títulos, trabalhou para recuperar sua mobilidade, força e saque, e lutou contra doenças e lesões para chegar até a final de três Grand Slams em 12 meses.
E ainda tem gente que se pergunta se Serena Williams ainda se importa.
Se o ano passado provou alguma coisa, é que ela ainda é uma das melhores jogadoras do mundo e ainda está motivada para se tornar a maior de todos os tempos, apesar de a pressão para o 24ª Grand Slam continuar crescendo.
Serena se preocupa com a história. Não se engane: ela quer ganhar outro Slam e vai continuar procurando maneiras de chegar lá. Desde seu retorno, o técnico Patrick Mouratoglou disse que Williams não quer alcançar o recorde de Margaret Court. Ela quer superá-lo.
Até agora, a pressão para fazê-lo afundou a americana quando o título está na linha. A final do ano passado em Wimbledon, que ela perdeu em sets diretos para Angelique Kerber, terminou com Williams em lágrimas em sua entrevista na quadra, dizendo à platéia: "Para todas as mães lá fora, eu estava jogando para você, e eu tentei." A final do US Open, que se transformou em um caos no segundo set, quando Williams foi penalizada por uma discussão com o árbitro, terminou com Serena e Osaka, sua oponente, em lágrimas.
Mas enquanto a performance de Serena no sábado lembrava a final de Wimbledon do ano passado, seu comportamento após a partida estava diferente. Em sua coletiva, ela elogiou Halep, falou sobre adicionar mais torneios à sua agenda e disse estar orgulhosa de seu esforço durante os 15 dias.
Não é mais o seu retorno. Voltou ao normal.
"Chegar ao topo é muitas vezes divertido. Você não tem nada a perder, especialmente se você nunca esteve lá", escreveu Williams em um recente ensaio para "Harper's Bazaar", no qual ela revelou que ela recebeu conselhos de um terapeuta e enviou uma carta pedindo desculpas paraa Osaka nos meses após o US Open do ano passado. "Sustentar isso por anos e anos exige muito trabalho. Você não quer cair porque sabe como é estar no topo. Eu sei como é querer chegar lá e se manter lá."
Mas e se ela não conseguir?
E se Serena continuar buscando títulos de Grand Slam, competindo bastante, mas nunca igualar - ou ultrapassar - o recorde de Court? Isso importa? Serena já garantiu seu lugar na história? E para ela, esse legado é sobre o que ela está fazendo e dizendo fora da quadra tanto quanto o que ela está realizando.
Então, não deveríamos parar de pedir para que ela que abandonasse uma a serviço da outra?
Enquanto ela entra na temporada de quadras duras com mais sete partidas, um joelho saudável e uma série de torneios de aquecimento programados antes do US Open, Serena Williams volta seu foco para as próximas oportunidades, sabendo que seja dentro ou fora da quadra, ela vai entrar para a história.
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