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sábado, 6 de julho de 2019

Atração da Flip, Carmen Maria Machado faz ficção científica queer feminista

Um dos nomes mais aguardados da Festa Literária de Paraty, a escritora feminista norte-americana faz da ficção científica o lugar para refletir suas experiências de medo, prazer e opressão. Após sua fala na Flip, no sábado (13/7), a autora participa de uma conversa com Laura Ancona, diretora de redação de Marie Claire. Ela também estará num bate-papo em São Paulo em 16/7, com participação de Cláudia Fusco, jornalista especialista em ficção-científica

LARISSA SARAM, DA @LAMPARINAWEB
28 JUN 2019

Restringir a mulher ao corpo é uma das práticas machistas mais antigas – e ainda bastante frequentes. A escritora norte-americana Carmen Maria Machado, de 32 anos, subverte essa lógica sexista ao usar recortes da anatomia feminina como ponto de partida para discutir assédio, sexualidade, visibilidade lésbica, violência e pressão social. São de suas próprias vivências que derivam os contos sci-fi de O Corpo Dela e Outras Farras (Planeta, 240 págs., R$ 49,90), seu premiado livro de estreia, que logo de cara a colocou na lista das 15 vozes da ficção mais notáveis do século 21, eleitas pelo jornal The New York Times.

Finalista do prestigioso National Book Awards, em 2017, Carmen já publicou contos em revistas de prestígio, como Granta, New Yorker e The Paris Review. A mescla de terror, fantasia, sci-fi e ativismo de suas histórias também deverá ser adaptada para uma série. Da Filadélfia, onde mora com a mulher, Carmen deu uma pausa na finalização de sua próxima obra, In the Dream House (ainda sem data de lançamento por aqui), e falou de preconceito, vida pessoal e a expectativa de sua vinda ao Brasil. Ela é uma das convidadas da 17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 10 a 14 de julho, e vai dividir a mesa sobre gênero e pertencimento com a brasileira Jarid Arraes.

Marie Claire: O Corpo Dela e Outras Farras foi escrito a partir de seus questionamentos pessoais. Que tipo de pensamentos eram esses?
Carmem Maria Machado: Tinham a ver com o tipo de foco que se dava sobre os corpos das mulheres e a maneira naturalizada de não ouvir ou não falar sobre nós. Estava interessada em escrever sobre meus incômodos, como sexismo, violência sexual e o que parece ser a retirada do direito de falarmos sobre a nossa sexualidade.

MC Ao longo da escrita, encontrou respostas?
CMM Acho que sim. Pelo menos comecei a ter as ferramentas para pensar nas respostas.

MC Quanto de seu corpo e sexualidade estão no livro?
CMM Muito! Como uma mulher queer, escrevo com a cabeça de quem ocupa outros lugares. Naquelas páginas estão meu corpo, minha sexualidade, minha história e meus pensamentos. Minha mente também está ali. Tem um pouco de tudo.

MC A sexualidade é uma abordagem frequente nos seus textos. Já sentiu algum preconceito por isso?
CMM No passado, com certeza sim. E nem sempre é tão óbvio como parece. Não é simplesmente “você é uma mulher e não me importo”. Quando publico alguma coisa, recebo comentários, e-mails... Você sabe, as pessoas não gostam de mulheres falando sobre suas experiências. Tenho de ficar lutando para ser levada a sério. Depois do livro, por estar em outra posição, o tratamento mudou um pouco, sou um rosto conhecido, uma escritora publicada.

MC Os corpos femininos ainda são vistos como públicos pela sociedade. Como isso te atinge?
CMM É difícil porque você só quer viver sua própria vida, mas as pessoas sempre acham que podem opinar sobre seu corpo. Elas adoram dizer: “Como você está bonita, emagreceu”. Respondo: “Isso não é da sua conta” [risos]. Existe essa falta de sensibilidade, e se me questionam sobre o meu corpo, digo que não quero falar sobre o assunto. Ou ignoro, mesmo. 

MC O Corpo Dela... é considerado uma ficção científica. Por que decidiu trabalhar com esse tipo de narrativa?
CMM Gosto de muitos gêneros: sci-fi, fantasia, horror. Não foi difícil escolher qual caminho tomar. Escrevi de um jeito que me agradava.

MC A primeira ficção científica da história, Frankenstein, foi escrita pela britânica Mary Shelley. Depois dela, outros nomes femininos fizeram sucesso no sci-fi. Por que acha que as histórias especulativas são tão produtivas para elas?
CMM Quando se é mulher, você já existe num plano que é quase irreal, a todo momento a sua humanidade pode ser discutida: quem você é, o que você pensa, se é competente. Estamos sempre sob ataque, então minha teoria é que a ficção científica acaba sendo um espaço de destaque marginalizado porque aquelas realidades nos soam familiares. É como se já estivéssemos em situações e lugares parecidos com aqueles.

MC Quais são suas autoras de sci-fi preferidas?
CMM Nossa, muitas! Kelly Link, Helen Oyeyemi, Shirley Jackson, Angela Carter. Amo Lesley Nnka Arimah, autora do incrível O que Acontece Quando um Homem Cai do Céu. As mulheres estão fazendo um trabalho maravilhoso na ficção científica.

MC Seu livro vai virar série (ainda sem data de estreia no Brasil). E atualmente grandes hits televisivos, como Black Mirror e The Handmaid's Tale, são do gênero sci-fi. Você acredita que essa é uma tendência da cultura pop para criticar o mundo injusto no qual vivemos?
CMM Assim como na literatura, acho que é um bom gênero para a TV dar margem para as pessoas imaginarem diferentes maneiras de interrogar a cultura em que estão inseridas. Não é o único caminho, mas com certeza é uma opção.

MC Você é feminista declarada. Quando se deu conta disso?
CMM Acho que desde criança, quando percebi as injustiças e passei a questioná-las. Lembro de perguntar ao meu pai sobre a história de uma mulher nos Estados Unidos que anos atrás foi impedida de ser médica. Só permitiram que exercesse o trabalho como enfermeira. Pensei: isso não é justo! E meu pai disse: “É assim mesmo, as coisas funcionavam desse jeito”.

MC Já teve medo de dizer que era feminista?
CMM Não, nunca. E acho triste as mulheres que sentem medo de se assumirem assim.

MC Conhece alguma escritora brasileira?
CMM Sim, amei ler A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Não li as outras obras dela ainda, mas gosto muito do trabalho da Clarice.

MC Você é uma das convidadas da Flip. Já esteve no Brasil alguma vez?
CMM Sim, no Rio de Janeiro, por uma semana no ano passado, e amei! Fiquei hospedada em Santa Teresa, fui à praia, comi muitas comidas gostosas, visitei livrarias. Foi bem divertido!   

MC E quais são suas expectativas para a Flip?
CMM Estou ansiosa, mas não sei muito bem o que esperar. Fui tão bem recebida no Rio de Janeiro, as pessoas foram tão amáveis, que minha única expectativa, por enquanto, é conhecer muita gente.

CARMEN MARIA MACHADO NA FLIP
Sábado (13 de julho), às 17h, bate-papo com Jarid Arraes, no Auditório da Matriz

CARMEN MARIA MACHADO EM BATE-PAPO COM MARIE CLAIRE NA FLIP
A diretora de redação Laura Ancona participa de um bate-papo com a escritora norte-americana Carmen Maria Machado, autora de O Corpo Dela e Outras Farras (Planeta, 240 págs., R$ 29), livro de contos que mescla ficção-científica, feminismo, fantasia, fábula e horror.
Casa Libre & Sta. Rita de Cássia – Rua da Lapa, 200 – Sáb. (dia 13), às 20h

CARMEN MARIA MACHADO NO PÓS-FLIP
A editora Planeta, a Flip/Casa Azul, o Sesc São Paulo e Marie Claire realizam evento com Carmen Maria Machado em São Paulo, num encontro que terá a participação de Cláudia Fusco, jornalista especializada em ficção científica e colunisa de Marie Claire. Acompanhe a cobertura no site e nas redes sociais da revista.
Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, SP)  – Ter. (dia 16), às 19h30

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