Denis's interview - FRANCE - #HUMAN
Meu nome é Denis Mukwege eu sou diretor do Hospital de Panzi, na República Democrática do Congo. Sou médico. Minha especialidade é Ginecologia e Obstetrícia. Nos últimos anos, me especializei ainda mais no tratamento de vítimas de violência sexual.
Completei meus estudos em Medicina com uma tese sobre Pediatria, falando a respeito da vacinação em recém-nascidos contra Hepatite B. Minha orientação realmente era a Pediatria.
Completei meus estudos em Medicina com uma tese sobre Pediatria, falando a respeito da vacinação em recém-nascidos contra Hepatite B. Minha orientação realmente era a Pediatria.
Quando comecei a praticar a Medicina, aconteceu algo que mudou minha vida radicalmente: um dia, fiquei sabendo que duas mulheres tinham morrido na nossa maternidade.
Elas não tinham recebido tratamento adequado. Elas chegaram à clínica tarde demais e tinham uma hemorragia incontrolável.
Aquilo me chocou. Mas, aquele foi apenas meu primeiro choque. Nos dias seguintes, isso se tornou uma rotina.
Naquele hospital, vi mulheres que tinham tentado dar à luz em casa com resultados trágicos, que chegavam mortas ou casos em que a clínica não podia mais fazer muito por elas.
Instintivamente, disse a mim mesmo: essas mulheres morrem enquanto estão dando vidas. Isso não é normal. Preciso ajudar a corrigir isso.
Durante meu treinamento na faculdade de Medicina, nunca tinha visto essas coisas. Então, decidi me especializar em Ginecologia e Obstetrícia.
Tratar mulheres que foram mutiladas, agredidas, estupradas e torturadas… Não existem mais muitas coisas capazes de me dar alegria na vida.
Mas, devo fazer uma ressalva: continuo a ser dedicado a esse trabalho. Minhas pacientes são mulheres, mães de crianças pequenas. Elas sofrem, por exemplo, de incontinência devido à perfuração da bexiga ou devido à perfuração do reto. Quando você fecha as feridas, as trata e elas se recuperam…
Esta emoção é sem tamanho para mim. Ver uma mulher renascer em uma nova vida.
A maneira com que elas me chamam no quarto e dizem: ‘doutor, veja! Eu não estou fazendo xixi em mim mesma!’. É uma mulher madura dizendo isso.
Essas são coisas que mexem com as nossas emoções. Estas experiências te presenteiam com alegria de viver. Alegria por dar alegria de viver a alguém que estava em total desespero.
Eu já tratei mais de 40 mil mulheres vítimas de violência sexual, vítimas de brutalidade extrema. Eu já viajei para todos os lugares no mundo onde as decisões são tomadas para falar contra essa situação.
Infelizmente, ainda estou esperando por uma reação em relação ao meu país, em relação aos conflitos em que as mulheres são sujeitadas a esta violência.
Acredito que as vítimas precisam falar. O melhor caminho para prolongar a tortura é calar.
Elas precisam falar. Elas precisam testemunhar. Elas precisam exigir seus direitos. Nós precisamos criar sistemas alternativos que permitam que as mulheres se sintam livres para falar, para testemunhar.
Quando elas são vítimas de tortura, estupro ou violência, atualmente, muitas mulheres não podem ir a uma delegacia prestar queixa. Quando elas vão à polícia, precisam começar explicando por que aquilo aconteceu. O que importa é que aconteceu.
Existe uma tarefa que é prover apoio para esta mulher. Mas, em vez disso, ela passa por um interrogatório que a humilha ainda mais. Se isso não mudar, as mulheres sofrerão em silêncio.
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