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terça-feira, 9 de julho de 2019

Uma nova descoberta científica sobre as bases do racismo

Por Gabriel Alex Pinto de Oliveira
Quarta-feira, 3 de julho de 2019
Demoraram séculos, mas finalmente passou-se a estudar a psique da branquitude naquilo que esta mais afetou negativamente a humanidade: sua percepção para distorção da realidade em relação a grupos étnicos que não o seu próprio.

Entender o problema é o primeiro passo para resolvê-lo!
Como em toda tempestade que se espera a bonança, a luz no final do túnel pode ter começado a surgir para quem luta mais que ativamente contra o racismo. A notícia mais do que recente é a de um estudo americano publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences – PNAS (publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos) e que foi abordado na revista “Cosmos – Revista de Graduação em Ciências Sociais”, apontando que a origem do racismo e criação de estereótipos estaria ligada ao sistema de percepção visual dos seres humanos.

Demoraram séculos, mas finalmente passou-se a estudar a psique da branquitude naquilo que esta mais afetou negativamente a humanidade: sua percepção para distorção da realidade em relação a grupos étnicos que não o seu próprio.

O estudo guiado pelo neurologista Brent L. Hughes, da Universidade da Califórnia, demonstra que a atividade neural de indivíduos brancos quando veem pessoas de sua mesma etnia é diferente de quando estes mesmos indivíduos veem pessoas de etnia diferente da deles (no caso do estudo foi utilizado um grupo de indivíduos negros).

Aquela história de que “eu não vejo a cor da pele” está com seus dias contados. Infelizmente, sim, a percepção visual que as pessoas brancas têm das pessoas negras, conforme apontou o estudo, permite a distorção da percepção da realidade da individualidade do corpo negro em detrimento de uma aglutinação em uma suposta coletividade negra.

Assim, há uma tendência neurológica das pessoas brancas ao verem pessoas negras como um grupo homogêneo e, em decorrência dessa aglutinação, criarem estereótipos ou ideias pré-concebidas (preconceitos) em relação a este grupo. 

 “Mostramos que os preconceitos raciais se estendem até os nossos processos sensoriais, de modo que o que os nossos sentidos captam não é necessariamente uma representação perfeitamente precisa do mundo ao nosso redor (…) Se literalmente ‘virmos’ outros indivíduos de raça como mais semelhantes, isso pode servir como um mecanismo inicial de estereotipagem.”.

Isso explica muito dos motivos pelos quais o racismo conseguiu se perpetuar de forma tão consistente em nossa sociedade.

Vale dizer, os estímulos externos como publicidade, notícias de jornal, veiculações em massa, entre outros, que reforçaram durante anos estereótipos negativos da população negra (sem contar, por óbvio, o longo período de escravização) encontraram fácil assimilação na psique da branquitude em decorrência de aglutinação neural, criando um campo fértil para distorção da percepção da realidade em relação à população negra.

Seguindo nessa mesma linha de pensamento, fica também mais fácil entender, por exemplo, o processo de estereotipização massificada que ocorre dentro das polícias brasileiras para tratarem indivíduos negros como se todos fossem suspeitos.

Agora, além de sabermos que o racismo é um fenômeno social, histórico, político e econômico, também poderemos considera-lo como um fenômeno neuropsicológico.

Há de se ressaltar, como bem destacou o Dr. Hughes, que este fenômeno não pode ser utilizado como excludente de atos racistas. O estudo apontou que estas percepções variam entre as pessoas, não sendo fixas. Assim a percepção pode ser mais ou menos influenciada, conforme as inclinações individuais de cada sujeito.

A complexidade do fenômeno do racismo ainda é pouco estudada no campo da neurologia, mas sem dúvida este estudo será um divisor de águas na evolução da luta antirracista. Seguimos otimistas, mas nunca desatentos.

Gabriel Alex Pinto de Oliveira é advogado, pós-graduando em Gestão Financeira e Econômica de Tributos pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, pós-graduado em Direitos Fundamentais pela Universidade de Coimbra em parceria com o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM, bacharel em Direito pala Universidade Presbiteriana Mackenzie, com experiência na área de Direito Tributário e no estudo das relações étnico-raciais afro-brasileiras.

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