1185109 64345790 doriana s 300x200 Disputa pela posse dos filhos pode levar à situações limite
Usar os filhos para atingir o ex-parceiro é bastante comum em casais recém-separados que ainda não conseguiram lidar com a dor da separação. As crianças são jogadas contra o parceiro e expostas a situações-limite, que causam sofrimento e influenciam negativamente na sua vida e saúde mental, às vezes por muito tempo.

A chamada Síndrome da Alienação Parental (SAP) é uma situação comum onde um dos pais – ou mesmo os dois – passam a atacar a memória do ex-parceiro através da criança, induzindo-a  para romper os laços  afetivos com o cônjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.
“Acompanhei muitos casos onde no processo de separação na justiça a luta pela guarda do filho quase a briga por um objeto”, diz Lauro Monteiro Filho, pediatra, ex-presidente da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) e que foi perito de juízo em Varas de Família no Rio de Janeiro.
“Nestes casos o casamento termina, mas as brigas continuam e a criança passa a ser parte de uma disputa ou de uma tentativa de compensar a frustração com o final de uma relação desastrosa”, diz Monteiro.
Quem sofre é a criança
Para a criança, além da perda econômica sentida imediatamente – muitas vezes é preciso mudar de casa, deixar cursos extras ou ir para outra escola por causa dos ajustes pós-separação – ainda tem que se deparar com uma situação onde, mesmo amando ambos os pais, é forçada a tomar partido e se posicionar contra um dos lados.
“A criança, em quase todos os casos que acompanhei, quer que os pais voltem a ficar juntos. Ela tem essa ilusão. E, ao ser posta nessa situação desconfortável, ela acaba desenvolvendo uma série de transtornos, que podem ser momentâneos, pontuais, ou traumas que podem ser levados para a vida toda”, afirma Monteiro, lembrando que é na escola onde se nota imediatamente este efeito negativo da situação. Muitas vezes a criança se torna agressiva e irritadiça ou, em uma situação inversa, torna-se depressiva e apática.
Além disso, são comuns os transtornos alimentares e de ansiedade. “Algumas crianças desenvolvem gagueira – causada pela ansiedade – ou então têm um leve descontrole de algumas funções fisiológicas, como fazer xixi na calça, além de transtornos alimentares como comer em excesso ou parar de se alimentar”, observa o especialista.
O foco do tratamento, normalmente, são as crianças, onde é necessário fazer um trabalho de acompanhamento psicológico para reforçar a autoestima e ajudá-las a lidar com a situação. “Mas os pais também deveriam ser acompanhados. Essas situações são causadas por frustrações intensas, onde os indivíduos que não se planejaram para uma vida em conjunto, ou então não se prepararam para uma separação, acham que fizeram uma escolha muito errada que vai influenciar suas atitudes para o resto da vida. Na cabeça destas pessoas, isso precisa ter um culpado, alguém que deve pagar pela perda”, explica Monteiro.
De um jeito ou de outro, afirma o pediatra, quem perde sempre é a criança. E a impressão é que muitos pais parecem não ligar para isso
por Enio Rodrigo