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domingo, 27 de janeiro de 2013


Para além da busca da felicidade

Aqueles que acham sentido para a vida,
mesmo nas circunstâncias mais terríveis,
são mais resistentes ao sofrimento (Reprodução/Reuters)
Escritor que sobreviveu ao Holocausto explica porque a vida não se resume à busca da felicidade

Em setembro de 1942, Viktor Frankl, proeminente psiquiatra judeu e neurologista em Viena, foi detido e transportado para um campo de concentração nazista com sua esposa e seus pais. Três anos mais tarde, quando seu acampamento foi libertado, a maioria de sua família, incluindo sua esposa grávida, tinha morrido – mas ele, prisioneiro número 119104, tinha sobrevivido. Em seu livro best-seller de 1946, Em busca de sentido (Man’s Search for Meaning) – que ele escreveu em nove dias – , sobre suas experiências nos campos, Frankl concluiu que a diferença entre aqueles que viveram e os que morreram no Holocausto se resume a uma coisa: significado; uma visão que ele teve cedo na vida. Quando ainda era um estudante do ensino médio, um de seus professores de ciências declarou à classe: “A vida nada mais é do que um processo de combustão, um processo de oxidação.” Frankl pulou da cadeira e indagou: “Senhor, se isto é assim, então o que pode ser o significado da vida?”

Como ele observou nos campos de concentração, aqueles que acharam sentido para a vida, mesmo nas circunstâncias mais terríveis, eram muito mais resistentes ao sofrimento do que aqueles que não o fizeram. “Tudo pode ser tirado de um homem, menos uma coisa”, Frankl escreveu em seu best-seller, “a última das liberdades humanas – escolher que atitude tomar em qualquer conjunto de circunstâncias, escolher o seu próprio caminho”.

Aprendizado no campo de concentração

Frankl trabalhou como terapeuta nos campos, e seu livro cita o exemplo de dois detentos suicidas que ele encontrou lá. Como muitos outros judeus nos campos, os dois homens estavam sem esperanças e pensavam que não havia mais nada a esperar da vida, nenhum motivo para viver. “Em ambos os casos”, Frankl escreve, “foi uma questão de levá-los a perceber que a vida ainda estava esperando algo deles, que algo no futuro se esperava deles”. Para um dos homens, isso era seu filho jovem, que estava morando em um país estrangeiro. Para o outro, um cientista, era uma série de livros que ele precisava terminar. Frankl escreve:

Esta singularidade e singeleza que distingue cada indivíduo e dá um sentido à sua existência tem uma influência sobre o trabalho criativo, assim como sobre o amor humano. Quando a impossibilidade de substituir uma pessoa é compreendida, isso permite que a responsabilidade que o homem tem sobre a sua  existência e sua continuidade apareçam em toda a sua magnitude. Um homem que se torna consciente da responsabilidade que tem sobre outro ser humano que carinhosamente espera por ele, ou sobre uma obra inacabada, nunca será capaz de jogar fora a sua vida. Ele sabe o “porquê” de sua existência, e será capaz de suportar quase qualquer “como”.

Em 1991, a Biblioteca do Congresso Americano listou Em busca de sentido como um dos 10 livros mais influentes nos Estados Unidos. Ele já vendeu milhões de cópias em todo o mundo. Agora, mais de vinte anos depois, o ethos do livro – sua ênfase sobre dar sentido à vida, o valor do sofrimento e a responsabilidade sobre algo maior do que o indivíduo – parece estar em desacordo com a cultura moderna, mais interessada na busca do indivíduo pela felicidade do que na busca por significado. “Para o europeu”, Frankl escreveu, “é uma característica da cultura americana que, repetidamente, o indivíduo é ordenado a ‘ser feliz’. Mas a felicidade não pode ser perseguida, ela simplesmesnte resulta. É preciso ter uma razão para ser feliz”.

Pesquisas mostram que ter propósito e significado na vida aumenta o bem-estar e a satisfação, melhora a saúde física e mental, fortalece as resistências, aumenta a auto-estima e diminui as chances de depressão. Além disso, a busca compulsiva da felicidade está, ironicamente, deixando as pessoas menos felizes, segundo pesquisa recente. “É a própria busca da felicidade”, Frankl sabia, “que frustra a felicidade.”


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