Nem as nações escandinavas alcançam notas “excelente” em estudo inédito. Para pesquisadora, “resultados não são surpreendentes”
Por Gabriel Bonis, de Berlim
10/06/2019
O primeiro Índice de Gênero dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, produzido pelo grupo Equal Measures 2030, traz um dado assustador: nenhum dos 129 países analisados, que abrangem 95% da população mundial de mulheres e garotas, atingiu um nível excelente (90 pontos ou mais em uma escala de 100) nas metas de igualdade de gênero da Agenda 2030 das Nações Unidas. A média global foi de apenas 65,7, ou seja, classificada como “ruim” (entre 60 e 69 pontos). E faltam apenas 11 anos para a conclusão das metas.
Isso significa que quase 40% das mulheres do mundo (1,4 bilhão) vivem “em países que estão falhando na igualdade gênero (com 59 ou menos pontos/desempenho “muito ruim”). A mesma quantidade de mulheres está em locais que “mal passam” no teste (60-69, “ruim”).
Nem mesmo os líderes do ranking atingem 90 pontos. A primeira colocada, a Dinamarca, somou 89,3, seguida de Finlândia, Suécia, Noruega, Holanda, Eslovênia, Alemanha, Canadá, Irlanda e Austrália. Os países com os piores resultados são Serra Leoa, Libéria, Nigéria, Mali, Mauritânia, Níger, Iêmen, Congo, República Democrática do Congo e Chade.
Nem mesmo os líderes do ranking atingem 90 pontos. A primeira colocada, a Dinamarca, somou 89,3, seguida de Finlândia, Suécia, Noruega, Holanda, Eslovênia, Alemanha, Canadá, Irlanda e Austrália. Os países com os piores resultados são Serra Leoa, Libéria, Nigéria, Mali, Mauritânia, Níger, Iêmen, Congo, República Democrática do Congo e Chade.
O índice analisou 51 indicadores vinculados a 14 das 17 metas da Agenda 2030, entre elas pobreza, nutrição, saúde, educação, igualdade de gênero, saneamento e clima. Em geral, o levantamento mostra que o mundo está mais atrasado “em questões de igualdade de gênero relacionadas a finanças públicas e melhores dados de gênero, mudanças climáticas, igualdade de gênero na indústria e inovação e a meta autônoma de igualdade de gênero”.
“Infelizmente, os resultados do índice não são surpreendentes. Uma análise mais profunda das pontuações gerais de igualdade de gênero evidencia que nenhum país é o melhor do mundo, ou mesmo está entre os dez melhores do mundo, em todas as metas ou todos os indicadores”, afirmou ao Politike Anne Connell, consultora sênior de dados do Equal Measures 2030.
A Dinamarca, por exemplo, cai para o 14º lugar na meta de educação, atrás de países como Geórgia, Irlanda, Japão e Cazaquistão. “Isso é parcialmente motivado pelo país nórdico ter uma porcentagem menor de mulheres jovens que concluíram o ensino médio e taxas de alfabetização mais baixas entre as mulheres do que muitos dos outros 13 países com pontuação mais alta neste quesito”, explica Connell.
A maioria dos países com pontuação mais alta, afirma a pesquisadora, possui índices “ruins” ou “muito ruins” em ao menos uma das metas.
Dos 20 primeiros colocados no índice, 18 estão na Europa e na América do Norte e dois (Austrália e Nova Zelândia) na Ásia e Pacífico. O Brasil aparece apenas na 77ª posição, com 62,8 pontos e desempenho “ruim”, atrás de países como Namíbia, Tajiquistão, Azerbaijão e Mongólia.
“O Brasil tem um bom desempenho em muitos indicadores relacionados à redução da pobreza, saúde, nutrição, educação, direitos legais e prestação de serviços básicos. Recebe, no entanto, pontuações muito baixas em indicadores como a participação em órgãos governamentais, percepções sobre segurança física e desigualdade”, diz Connell.
O Brasil obteve melhor desempenho nas metas de saúde (85,5 pontos), energia (85,4) e água e saneamento (85,2). As pontuações mais baixas ocorreram em parcerias (18), igualdade de gênero (38,6) e clima (40,6).
Na pontuação média regional, a Europa e América do Norte somaram 79,1 pontos, seguidos por América Latina e Caribe (66,5), Ásia e Pacífico (64,6), Oriente Médio e Norte da África (60,8) e África Subsaariana (51,1).
Ricos se saem melhor, mas há bolsões de excelência
Em geral, os países com renda mais elevada apresentaram melhores chances de ter maior igualdade de gênero do que aqueles de renda mais baixa. Contudo, reforça o estudo, nações como Finlândia, Geórgia, Grécia e Ruanda se saíram melhor do que o esperado com base em seu PIB per capita. O contrário aconteceu com Iraque, Malásia, Rússia, Coréia do Sul, Suíça, Turquia e Estados Unidos.
Segundo o levantamento, há diversas “bolsas de progresso” mesmo entre países de baixo desempenho no índice. “Um exemplo interessante é que a maioria com melhor pontuação em indicadores relacionados à participação de mulheres no governo e no Judiciário está nas regiões da América Latina e do Caribe e da África Subsaariana. Bolívia, Namíbia e Senegal (e mais de uma dúzia de outros países) têm percentagens mais altas de mulheres no Parlamento do que a Dinamarca”, compara Connell.
Além disso, o relatório pontua que “é mais provável que as mulheres tenham atendidas suas necessidades de métodos modernos de planejamento familiar no Brasil, China, Costa Rica e Uruguai do que no Canadá, Dinamarca, Holanda, Noruega e Suécia (embora todos esses países ainda recebam pontuações “boas” ou “excelentes” nesta meta)”.
Embora diversas metas estejam atrasadas, afirma Connell, o índice lança “uma mensagem de esperança sobre o poder dos esforços internacionais e do investimento público”. “Os países, em geral, tiveram um desempenho melhor em questões nas quais o foco e o financiamento de políticas coordenadas e combinadas foram direcionados nos últimos 20 anos, inclusive nas metas de fome e nutrição, água e saneamento, saúde e educação.”
De acordo com a pesquisadora, para atingir as metas até 2030 será preciso dedicar fundos e apoio “de qualidade” às nações que enfrentam os maiores desafios de igualdade de gênero, além de “assegurar que uma política baseada em evidências, coordenada e concertada enfoque e financie questões de igualdade de gênero nas quais o mundo está ficando para trás, incluindo finanças públicas e mudança climática”.
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