Mesmo com status de craque e com trajetórias que acumulam títulos, jogadoras que disputam Copa do Mundo da França e têm nomes mais buscados no Google ainda estão longe dos salários do futebol masculino
A Copa do Mundo de futebol feminino que começou na última sexta-feira (07), na França, já entrou para a história por trazer, enfim, notícias à altura da importância do torneio: o recorde de ingressos vendidos foi batido há dois meses, a Seleção Brasileira pela primeira vez tem um uniforme desenhado para as mulheres (sim, antes elas jogavam com modelagem masculina) e, no Brasil, a Rede Globo transmitirá todos os jogos da equipe. Ainda assim, não é possível comparar o torneio, em patrocínios ou em alcance, à Copa do Mundo masculina. O caminho para a equidade de gênero no esporte mais popular do país ainda é longo, e vai muito além da realização da Copa. Uma das questões centrais é a disparidade salarial entre jogadores e jogadoras, como evidencia o levantamento da France Football, uma das revistas de futebol mais conceituadas do mundo.
Foi a diferença salarial, inclusive, que motivou a norueguesa Ada Hegerberg, a mais bem paga do mundo e eleita a melhor jogadora do planeta pelo prêmio Ballon D’Or 2018 [Bola de Ouro], a se recusar a integrar a seleção durante o Mundial, como forma de protesto. Ela exige total igualdade de gênero no futebol. Segundo levantamento da France Football, o camisa 10 do Brasil, Neymar, ganha 227 mais vezes que ela. Ele é o terceiro jogador mais bem remunerado do mundo.
O futebol perde com a ausência de Hegerberg, mas há outras estrelas em campo. Na Gênero e Número, selecionamos cinco atletas participantes do torneio que se destacam em campo e em popularidade. São as jogadoras mais buscadas pelo Google em todo o planeta, segundo levantamento do Google Trends. Marta é a jogadora do Mundial mais popular nas buscas e concentra 16% do interesse dos usuários medido pelo Google entre os dias 4 e 11 de junho.
1. Marta (BRA)
Ícone do futebol brasileiro e mundial, a mais famosa jogadora de futebol da história foi considerada seis vezes melhor do mundo pela Fifa (2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018). O feito é um recorde entre mulheres e homens na categoria. Atualmente jogando pelo Orlando Pride, dos Estados Unidos, é uma das esperanças do Brasil para conquistar o primeiro título da Copa do Mundo.
Pela seleção, a camisa 10 foi artilheira da Copa do Mundo de 2007, quando também foi eleita a melhor jogadora do torneio, e em 2015 se tornou a maior artilheira da história da Copa do Mundo de Futebol Feminino, com 15 gols. Ela também é bicampeã pan-americana (2003 e 2007) e tricampeã da Copa América (2003, 2010 e 2018) pela seleção. Apesar da popularidade e do reconhecimento, a brasileira não lidera os rankings quando o assunto é dinheiro. A atleta recebe 340 mil euros (R$ 1,495 milhão) por temporada, ocupando o quinto lugar na lista das jogadoras, segundo a informações da France Football. Neymar recebe 269 vezes mais e Messi, 382.
2. Alex Morgan (EUA)
Este é o terceiro Mundial de Alex Morgan, que até o início desta Copa havia jogado 12 partidas em Copas do Mundo. A atacante de 29 anos é a terceira com mais participações entre as americanas, depois de Ali Krieger e Carli Lloyd. Na estreia da seleção norte-americana na Copa 2019, nesta terça-feira (11), fez cinco gols e tornou-se a artilheira do torneio.
Este ano, a camisa 13 chegou à marca histórica de 100 gols com a seleção feminina do seu país. Além disso, foi campeã do mundo em 2015, conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e foi campeã mundial sub-20 em 2008. Atualmente é companheira de Marta no Orlando Pride.
Fora dos campos, Morgan é uma importante voz pelos direitos das mulheres no esporte, e faz críticas abertas ao presidente Donald Trump. No último 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Morgan e outras 27 jogadoras da seleção entraram com um processo, num tribunal federal de Los Angeles, contra a federação de futebol dos Estados Unidos por discriminação de gênero. Além da questão salarial, as condições de treino e até mesmo o transporte para jogos foram citados no processo. Neste ano, Morgan estampou a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo produzida pela Revista Time. Ainda assim, ela não consta na lista das cinco jogadoras mais bem remuneradas do mundo.
3. Amandine Henry (FRA)
Considerada pela FIFA a segunda melhor jogadora do mundo em 2015, Amandine Henry também foi uma das três meio-campistas femininas nomeadas como as vencedoras do prêmio FIFPro Women’s World XI 2015 (a organização é uma espécie de sindicato que representa 60 mil jogadores e jogadoras em todo o mundo). Capitã do time francês, é uma das esperanças da França para levantar a taça em casa.
Aos 29 anos, já foi atleta do Portland Thorns, dos Estados Unidos e, desde 2018, voltou a defender o Lyon, onde jogou de 2007 a 2016. Hoje, ela é uma das estrelas do time. Pelo clube venceu a Copa Feminina Francesa por seis vezes (2007- 2008, 2011- 2012, 2013- 2016) e a Liga dos Campeões quatro vezes (2010-2011, 2011-2012, 2015-2016 e 2017-2018). Foi um gol de Henry que encerrou a partida de estreia das anfitriãs da Copa, na goleada de 4×0 contra a Coreia do Sul. A meio de campo ocupa o segundo lugar entre as jogadoras mais bem pagas do mundo, com 360 mil euros por temporada (R$ 1,583 milhão).
4. Wendie Renard (FRA)
Aos 28 anos, venceu onze títulos do campeonato francês e quatro Ligas dos Campeões. Com mais de cem jogos com a camisa da seleção francesa, ela é hoje é considerada uma das melhoras zagueiras em atividade no futebol feminino.
Wendie se destacou na estreia da seleção francesa na Copa do Mundo, com dois gols de cabeça na vitória contra a Coreia do Sul. A zagueira e capitã do Lyon recebe 348 mil euros (R$ 1,53 milhão) por temporada, ocupando o terceiro lugar no ranking das jogadoras mais bem pagas do mundo.
5. Lieke Martens (HOL)
A holandesa marcou o primeiro gol da história da Holanda em copas do mundo na edição de 2015 e, aos 26 anos, coleciona títulos. Like Martens foi eleita a melhor jogadora do mundo pela FIFA em 2017. No mesmo ano, a Holanda foi campeã da Eurocopa e ela foi eleita a melhor jogadora da temporada. A meia-atacante também levou o prêmio de jogadora do ano da Uefa em 2017.
Pelo clube sueco Rosengard, Lieke Martens foi campeã da Copa da Suécia e do Campeonato Sueco em 2016. Atualmente, joga no Barcelona, onde já marcou 14 gols. Pela seleção, já são 42.
* Vitória Régia da Silva é repórter da Gênero e Número
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